quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Salvem Salvador!

Depois que o Tribunal de Contas do Município rejeitou as contas do prefeito João Henrique, o qual conseguiu gastar mais com publicidade do que gastou com transporte, trabalho, lazer e habitação e ao ouvir ontem os comentários de minha irmã que acabava de chegar de uma viagem ao Rio de Janeiro, só pude concluir uma coisa: Salvador precisa de salvação. A cidade está entregue ao lixo que vive transbordando pelas vias públicas, a violência que faz um jovem matar o outro por causa de uma corrente, as imobiliárias que vendem o que ainda resta de Mata Atlântica, aos grupos estrangeiros que compram por valores irrisórios o que querem transformar em luxuosos hotéis, a falta de espaços de lazer fora dos shoppings centers que se multiplicam como gremlins e a tudo mais que possa aparecer. E o pior, parece que ninguém está a fim de salvar essa cidade.

Apesar de sua inegável beleza natural, suas jóias arquitetônicas e toda sua história, a capital baiana está sendo sumariamente destruída pelas iniciativas pública e privada. A cidade que pensa que tem know how para o turismo, ultimamente não agüenta nem os próprios soteropolitanos. Quase não temos teatro; os parques públicos viraram locais de desova de cadáveres; na maioria dos bares e restaurantes o atendimento é péssimo; os engarrafamentos acontecem de domingo a domingo sem folga por quase todas as principais avenidas da cidade; o sistema de transporte urbano se resume a um ínfimo número de ônibus, sem o mínimo de conforto, que demoram, passam cheios, são assaltados e cobram uma passagem relativamente cara; as praias, que já tinham estrutura precária, agora simplesmente não têm nem banheiro, e por aí vai.

Ainda assim, Salvador conseguiu - não sei como - se tornar uma das cidades a sediar os jogos da Copa de 2014, mesmo não tendo condições nem de suportar uma baba de solteiros x casados, já que, lugar pra praticar esporte nessa cidade é coisa que quase não existe e, quando existe, está em estado lastimável. Parece que algum santo das 365 mal conservadas Igrejas Católicas, construídas em sua maioria no século retrasado, vai fazer um milagre e preparar uma cidade novinha em folha pra FIFA.

A parte mais nova da cidade vive tomada de obras não menos desordenadas do que as casas dos bairros da periferia. Uma vez que, ninguém sabe como estas construtoras se apossaram daqueles terrenos e transformaram o resto de natureza que ali jazia em condomínios 'com tudo dentro', pra que ninguém precise colocar o pé na rua e seja seqüestrado ou decapitado e depois vire pauta pra programa de mundo-cão na hora do almoço.

Lugares lindos como a Cidade Baixa, vivem num abandono sem igual. Eu sempre digo que, em qualquer outro lugar do mundo, uma área com a beleza da Suburbana teria altos investimentos para seu cuidado e preservação, mas como é aqui, ninguém está nem aí. Se você que está lendo este texto já tiver feito uma viagem de trem pelo Subúrbio Ferroviário e admirado aquela paisagem, saberá bem do que estou falando. A maioria das pessoas conhece muito pouco do chamado Subúrbio, porque de lá só nos trazem notícias dos crimes e nada mais. Resolveram resumir Salvador entre as avenidas Bonocô e Paralela. Assim, começa a crescer uma geração que nunca foi a lugares como o Solar do Unhão ou a Lagoa do Abaeté. 

Ninguém sabe onde a gente vai parar, mas, por via das dúvidas uma das donas do Iguatemi comprou não sei quantas casas no bairro do Santo Antônio para trazer pra cá um novo conceito de shopping, uma vez que grupos espanhóis e portugueses estão arrematando tudo que possa se transformar em hotel. E nisso, não sei se implorando alguém aparece para salvar Salvador. Até porque, até mesmo o Superman e a Mulher Maravilha já começaram a fugir.

Um comentário:

  1. Esses textos relatando violência,deficiência na saúde pública,saneamento,etc, so me deixa mais pessimista diante de toda essa realidade. Não existe saída se há quem insista em travar todas as portas...
    A vontade que dá é de sumir daqui e ir pra bem longe,apesar de ser um pensamento egoísta mas eh reflexo da sensação de impotência.

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