sábado, 31 de dezembro de 2011

Lá vem 2012!

"Desejo a vocês fruto do mato, cheiro de jardim, namoro no portão, domingo sem chuva, segunda sem mau humor, sábado com seu amor, chope com os amigos, viver sem inimigos, filme na TV, ter uma pessoa especial e que ela goste de você, ouvir uma palavra amável, ver a banda passar. Desejo a vocês noite de lua cheia, rever uma velha amizade, ter fé em Deus, não ter que ouvir um não, nem nunca, nem jamais, nem adeus, rir como criança, ouvir canto de passarinho, sarar de resfriado, escrever um poema de amor , tomar banho de cachoeira, aprender uma nova canção, esperar alguém na estação, queijo com goiabada. Desejo a você uma festa, um violão, uma seresta, recordar um amor antigo, ter um ombro sempre amigo, bater palmas com alegria, uma tarde amena, calçar um chinelo velho, tocar uma musica a alguém, vinho branco e muito carinho! "

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Quando o tempo durava mais

Quando eu era criança tinha a impressão que os anos duravam mais do que duram nos dias de hoje. Parece loucura, mas sem dívidas e dúvidas existenciais me parecia que os 365 dias no calendário se arrastavam por uma eternidade. As férias demoravam, eram longas e super distantes umas das outras. O dia do meu aniversário era uma coisa que eu esperava com tanta ansiedade que até parecia que só acontecia de quatro em quatro anos.

Uma catástrofe ou um grande feito ficavam sendo lembrados por longas datas, vistos e revistos nos noticiários por várias edições. A gente não esquecia as coisas tão facilmente e as retrospectivas que a Globo fazia – e ainda faz – na última semana do ano não pareciam falar de coisas da década passada. A informação era bem menos perecível e descartável, porque a gente não podia acessá-la numa tela que cabia na palma da nossa mão, para saber o que acontecia no Brasil e no mundo, a gente precisava sentar em frente a TV na hora do Jornal Nacional e ai de quem desse um pio.

O réveillon era aquela data lá no final da folhinha, quando passava a corrida de São Silvestre na TV e nós (as crianças) tínhamos o direito de tomar um golinho de espumante - na época a velha e boa Cidra Cereser sabor maçã que podia ser encontrada em qualquer mercado perto de você – com nossas roupinhas brancas, novinhas. Quando dava meia noite, o único desejo para o ano que iniciava era que tivéssemos um bom rendimento escolar para escapar das reclamações de nossas mães e pais. Sim, na minha infância os pais tinham direito de reclamar com os filhos e de bater também. Os adultos ainda não tinham medo das crianças naquela época e ninguém criava trauma por causa de uma surra ou outra.

Talvez porque o tempo durava mais, duravam também as amizades e os amores. A gente não saía substituindo as pessoas, porque cativá-las era uma coisa que demandava esforço e vontade. Não tinha facebook pra achar todo mundo e saber da vida dos outros de cabo a rabo num simples clique. Para conhecer as pessoas era preciso estar com elas ao vivo e a cores e para tirar alguém da vida não bastava apertar o botão e excluir. Para discutir uma relação era preciso estar frente a frente porque não existia nenhum plano para falar a vontade por r$ 0,25. Para namorar só saindo de casa, porque não tinha o badoo para nos arranjar o par ideal. A conquista era demorada e por isso os relacionamentos valiam muito mais a pena.

O mundo evoluiu tanto, que foi preciso fatiar o tempo, foi preciso colocar mais velocidade na vida, pra que essa evolução não perdesse o sentido. Ganhamos com isso? Não sei. Às vezes, nem tanto.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Uma semana cheia

Em uma semana que começou com o Ministro do Trabalho pedindo demissão e com Fátima Bernardes se despedindo da bancada do Jornal Nacional, é natural que na terça-feira já estejam todos exaustos. Os dois fatos são suficientemente noticiosos e desgastantes para olhos e ouvidos da nação brasileira em pleno começo de um mês onde todo mundo está mais preocupado em organizar as festas do fim de ano que, só de sacanagem, vão cair de sábado para domingo.

Carlos Lupi tinha dito que só sairia do Ministério à bala. Mas, depois de ser visto saindo de jatinhos que, segundo ele, jamais tinha entrado e de Dilma não retribuir seus “eu te amo”, só lhe restou colocar as maquinas de picotar papel pra trabalhar e pedir para ser liberado para os cargos todos – inclusive os fantasmas – que ele colecionava. Como toda notícia ligada a política nesse país, cria-se um estardalhaço que interessa muito mais no decorrer do que quando acontece a demissão de fato. E já que lá vem mais uma descoberta de falcatruas de outro ministro – dessa vez vai ser o Desenvolvimento – ninguém deu muita importância pra o bye bye de Lupi. A notícia deu mais pano pra manga em sites de piada do que na imprensa “séria”, que me parece cada dia mais isenta de seriedade.

E eis que depois de muitos cortes de cabelos e ternos Chanel, Fátima Bernardes, resolveu largar o Jornal Nacional e partir para novas experiências. Foi substituída por Patrícia Poeta, que é quase a mesma coisa. A Globo deveria aproveitar que está com uma propaganda natalina que diz que hoje e um novo dia de um novo tempo e colocar alguém diferente de Fátima para nos dar boa noite ao lado de Bonner. Ótimo momento para colocar alguém que não seja branco, heteressoxual e do eixo Rio-São Paulo para falar das notícias do nosso país, que não se resume a Fátimas, Williams e Patrícias, com sua aparência impecavelmente diferente da maioria dos cidadãos do Brasil.

Ainda que não bastassem as duas demissões, Ivete Sangalo, internada com uma meningitezinha virou notícia também. O boletim médico da cantora foi parar nas pautas de todos os veículos da imprensa falada, escrita, televisionada e teclada. Aí já sabe, Haja fã na porta do hospital e haja tchauzinho da sacada e dá-lhe Ivete nos Trending Topics do twitter. Como a baiana deve ter o corpo mais fechado do que o do Coronel Inocêncio da novela Renascer, Ivete saiu linda e ovacionada tranqüilizando o coração de seus tietes e da Assessoria de Imprensa do Hospital Aliança em Salvador.

Como sempre se dá muita importância ao que não deve nesse país e as coisas realmente importantes são deixadas de lado, pouco vi sobre o caso da estagiária que foi obrigada pelos chefes a alisar os cabelos em uma escola de São Paulo. Soube do caso via facebook e não me lembro de ter visto na TV uma matéria sobre o show de racismo made in Brazil.  Normal. Vamos nos preocupar com as compras de Natal, que graças ao crescimento do pais, serão melhor que nunca para os brasileiros. Só não se sabe muito bem o que Papai Noel reserva para aqueles outros brasileiros, sempre esquecidos. 

Enfim, foi mesmo uma semana cheia.