sábado, 30 de julho de 2011

Para onde vai?

Onde vai parar nosso encantamento quando deixa de nos consumir um sentimento por alguém? Para que terra distante voam as borboletas que fazem revoadas em nosso estômago toda vez que somos postos de frente a pessoa desejada? Para que noites migram os sonhos que povoam as madrugadas febris dos seres apaixonados? Em que lugar calam-se os ecos das juras de amor eterno? As visões que temos ao andar na rua e sentir o perfume da pessoa a qual gostaríamos de ter, se perdem por onde? Em que praia morre o desejo incontrolável de largar qualquer coisa nesse mundo para simplesmente estar seja onde for com aquela pessoa? Como somem dos calendários os dias sem fim na ausência do coração ansiado? Em que matéria se transforma todo o sentimento que carregamos por um tempo dentro do nosso peito? Para onde viajam os pensamentos que perturbam a cabeça daqueles que supõem amar? Onde finda a inexplicável vontade que move a paixão?

domingo, 24 de julho de 2011

À Miss Amy Winehouse



"É tão estranho
Os bons morrem jovens
Assim parece ser
Quando me lembro de você
Que acabou indo embora
Cedo demais"

Renato Russso

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Porque Vale Tudo em vez de Insensato Coração

Odete Roitman e Mária de Fátima, principais personagens de ValeTudo

Eu já nem lembro quanto tempo fazia que eu não acompanhava uma telenovela. É bem verdade que, ultimamente, o computador está muito mais presente em meus hábitos cotidianos do que a televisão. E, também por esse motivo tenho me afastado cada vez mais das tramas das seis, das sete, das oito e agora, das onze.

Porém, mesmo passando cerca de 8 horas por dia diante do computador, foi irresistível nos últimos meses que eu acompanhasse, graças ao Canal Viva, a reprise de um dos maiores clássicos da teledramaturgia brasileira: Vale Tudo. A reapresentação da consagrada história fez um sucesso inacreditável não só na TV, como também no twitter. Prova disto é o fato de que na madrugada em que foi exibido o assassinato da principal personagem da trama, Odete Roitman, seu nome foi parar nos Trending Topics, rememorando o sucesso causado pela cena quando exibida pela primeira vez na noite de Natal de 1988.


Mas porque Vale Tudo – salvas as proporções desses 23 anos - voltou a ser uma febre nacional? Choveram artigos e reportagens na internet nos últimos meses falando sobre esse fenômeno e a resposta é de uma simplicidade absurda: a trama assinada por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères é mais atual do que qualquer coisa que passa na televisão atualmente.

Essa mania adquirida nos últimos anos de fazer novela que culturalmente só pode representar seres de outro planeta faz com que eu não consiga passar cinco minutos suportando ver as cenas da vingança de Norma em Insensato Coração (que por sinal também é de Gilberto Braga). É muita falta de senso da realidade. Capítulo após capítulo uma porção de sandices sem a menor identidade exibidas em centenas de telas com hight definition

Norma e Léo, os vilões (?) de Insensato Coração

Houve tanta evolução tecnólogica no modo de fazer novela, mas, em compensação os autores desaprenderam a escrever bons textos. É muito beijo e muita bunda pra pouco roteiro. Isso para não falar na (falta de) qualidade dos atores. Não aguento mais ver tanta loira botocada jogando cabelo. Os veteranos estão de saco cheio e os novatos querem apenas mostrar que são lindos. Haja paciência!

Ver Vale Tudo – já que a primeira vez que a novela passou eu tinha apenas 2 anos – foi uma oportunidade de ter certeza que nesse país tudo pode ficar pior do que está. Se poucos anos após o fim  do Regime Militar a Rede Globo era capaz de levar aos lares brasileiros um texto contestador, realista e atemporal, porque que agora que o Brasil é “um país de todos” é tão impossível fazer algo minimamente plausível?


Se as novelas dizem muito sobre a sociedade na qual estão inseridas – como dizem os estudiosos da área – que porra de sociedade é essa que veta beijo gay e sonha com uma mulher robotizada em pleno século XXI. Ai que vergonha eu sinto desse “meu tempo”!

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Se perder

Era natural que eles se perdessem um do outro. Sim, tinha sido incrível, fantástico e inacreditavelmente bom, mas era natural que depois de um tempo cada um seguisse seu caminho. Deixando para trás tardes, noites e manhãs. Guardando apenas as lembranças dos cheiros e dos gostos e dos olhares. Era natural que fosse assim. Mas não foi. Não foi mesmo. Logo ela estava sentada a lembrar de cada palavra dita por ele. Sílaba por sílaba sussurrada em seu ouvido. A boca quente e os corpos cansados, tudo inexplicavelmente guardado em um compartimento de fácil acesso em sua memória. Pensar que o mundo é tão vasto e deveria ser tão mais fácil se perder de alguém. E ainda mais fácil seria achar outra pessoa. E há quem fique como um pássaro numa gaiola aberta, que está livre mais não voa. Lembra, lembra, até que não aguenta mais e tem vontade de sair correndo para reviver aquilo tudo de novo. Pronta para se entregar e novamente ter que se perder. Porque se perder é o que é mesmo natural.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Medo de ser gente

É incrível como esse jeito atual de viver em sociedade transformou a minha criança corajosa em uma adulta cheia de temores. Eu nunca fui uma menina medrosa, sempre dormi no escuro, topava ficar em casa sozinha, brigava com qualquer menina ou menino no colégio, não achava que o velho do saco ou a mulher da trouxa iriam me pegar se eu fizesse algo errado e caía na risada vendo filmes de terror. Talvez a maneira de criar filhos da minha mãe – que nunca optou pela pedagogia do medo – tenha feito com que eu crescesse assim, um tanto destemida apesar de responsável e respeitosa. 

Mas aí a gente cresce e se joga num mundo cheio de tanta miséria e mentira que fica difícil meter as caras sem temer. Eu não falo só do medo de ser assaltada, estuprada ou decapitada. Não é só a vida urbana marcada por desigualdades gritantes que se traduzem, dentro tantas outras maneiras, na violência. É verdade que isso também levou boa parte da minha segurança da infância. Porém, isso é passível de solução mediante um comprometimento do governo e da sociedade civil, para que todos possam ter acesso ao mínimo e deixemos de produzir crianças para serem cooptadas pela marginalidade.

O que me assusta também é que existe, hoje, um medo imenso e monstruoso do outro. De repente o mundo pirou e se tornou simplesmente impossível acreditar e, principalmente, confiar no ser humano. As pessoas deixaram de ser pessoas e viraram personagens esquisitos que confundem nossas cabeças. Pelo menos a minha. E isso me faz ter medo. Muito medo. Os valores, os conceitos, as noções, tudo me parece incompreensível.

Vivemos de sobressalto. É muita inveja, muito egoísmo, muita falsidade, muita falta de consideração, de amizade, de amor, de respeito. É muita falta de tudo. E ainda a amarga impressão de estar sozinho ou reduzido a uma ilha de sentimentos um pouco mais “humanos”. Se você se preocupa com os outros, não mente e não quer tirar proveito de tudo, vira um ser extraterrestre, um alienígena. O mundo é dos espertos, dos que enganam os outros por mais tempo, dos que sabem tirar vantagem. Como assim? É tudo muito louco.

Às vezes acho que caminhamos para trás, para o tempo em que nós morávamos em cavernas e brigávamos de quatro no meio do mato por um pedaço de comida. Um tempo no qual cada um só lutava pela sua sobrevivência, sem se preocupar com as vontades ou as necessidades alheias. Estamos retrocedendo. E se ser gente é isso, eu tenho é medo de ser gente.

terça-feira, 12 de julho de 2011

A revolução do próprio umbigo

Ontem li um texto no blog de Clarissa Corrêa que falava um pouco sobre um assunto que há muito tempo quero escrever: o quanto a internet - em especial as redes sociais - tem tirado dos seres humanos a dimensão de que eles não são o centro do universo. É a revolução do próprio umbigo.

Enquanto Clarissa abordava a questão de que hoje não basta só viver é preciso expor o que se vive na internet, eu vou além e digo que as pessoas estão guiadas pela sensação de que é preciso dar satisfação da sua vida ao resto da humanidade, sempre. O fim do relacionamento, o parto da irmã, o calote dado por alguém, o churrasquinho pra íntimos na casa da sogra ou o dia entediante no trabalho, tudo precisa ser postado o tempo inteiro sem parar.

É incrível como aquela pessoa acha que você precisa saber que ela está indo malhar, comprando um novo notebook, tomando Activia ou estudando semiótica. As pessoas não vivem suas vidas, elas twittam suas vidas. A existência delas se distribui em 140 caracteres ao longo do dia. As pessoas comem, cagam, andam  com seus smartphones em mãos porque acham que aquela informação de que elas estão comendo, cagando e andando interessa a toda a web. É de lascar!

Ah e o facebook? Se Mark Zuckerberg fosse cobrar aluguel de todas as pessoas que “moram” no facebook, sua fortuna seria simplesmente triplicada. E quando eu digo "moram" é porque tem gente que parece não ter vida para além daquela rede. É tanto álbum, tanto vídeo, tanto link, tanto joguinho imbecil, tanta gente que não te conhece respondendo pergunta sobre você e tanto “o que você está pensando agora” que enlouquece qualquer um. As pessoas começaram a agir como no Orkut, parece que elas criam fotos, eventos e etc, só pra ter o que atualizar em seus perfis. E há quem viva a espera da mensagem de que fulano de tal está em um relacionamento sério ou tem 50 novas fotos. Tem “amigo” que faz você se arrepender de ter o adicionado  daqui até a eternidade. Não me marque em uma foto que eu não estou, não me convide pra um evento que eu não vou e definitivamente eu não vou aceitar sua solicitação para passar meus dias construindo uma cidade imaginária, porque eu fazia isso quando tinha doze anos.

Talvez o egocentrismo tenha achado na internet o terreno ideal para se proliferar. A dúvida é se estamos andando para frente ou para trás, ao nos tornarmos avatares de nós mesmos nesse mundinho que cabe dentro da tela de um iPhone e no qual, só existe quem está lá.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Eu

" Eu sou sim a pessoa que some, que surta, que vai embora, que aparece do nada, que fica porque quer, que odeia a falta de oxigênio das obrigações, que encurta uma conversa besta, que estende um bom drama, que diz o que ninguém espera e salva uma noite, que estraga uma semana só pelo prazer de ser má e tirar as correntes da cobrança do meu peito. Que acha todo mundo meio feio, meio bobo, meio burro, meio perdido, meio sem alma, meio de plástico, meia bomba. E espera impaciente ser salva por uma metade meio interessante que me tire finalmente essa sensação de perna manca quando ando sozinha por aí, maldizendo a tudo e a todos. Eu só queria ser legal, ser boa, ser leve. Mas dá realmente pra ser assim? " 

Tati Bernardi 

domingo, 10 de julho de 2011

Os acomodados

Acredito eu que o comodismo é da natureza ser humano. Uns mais outros menos, mas todos nós somos um pouco acomodados, principalmente quando a situação nos é favorável. E mais ainda quando estamos falando sobre relacionamentos. Que preguiça nós temos de mexer em nossos namoros, noivados, casamentos nem se fala. Ficamos ali entediados, limitados, às vezes bem infelizes, mas acomodados. Somos preguiçosos. Desanimamos-nos só de pensar em como seria conhecer uma nova pessoa e ter que passar por aquela fase do barzinho quando você não tem nada para dizer e nem mesmo onde por as mãos, do jantar, na primeira noite de sexo super meia boca, depois conhecer a família, depois conhecer a turma da faculdade, a turma do trabalho, a turma do caralho a quatro. Canso só de citar. Ficamos presos no atoleiro de relacionamentos falidos, sem amor, sem respeito, sem companheirismo, sem sexo, sem nada, pelo medo, pela preguiça ou pela covardia. Vamos afundando como em areia movediça deixando de sermos nós pelos outros ou porque mexer em tudo isso é muito cansativo. Não nos desvinculamos porque vai ser difícil, porque vai ser trabalhoso, porque a outra pessoa não vai aceitar, porque não queremos sair como sacanas. Vamos nos habituando e percebemos que é mais prático perdoar uma coisinha ali, fingir que não viu outra aqui, pedir desculpas mesmo estando certo, fazer que não entendeu e correr pra o abraço. Nós, as pessoas, assumindo, na maioria das vezes, a inércia como nosso estado natural.

domingo, 3 de julho de 2011

Matando tradições

Será impressão minha ou anda em expansão um plano para liquidar as chamadas Festas de Largo de Salvador? Não sei se graças ao governador carioca ou se pelo prefeito bobão nascido em uma cidade que só tem espertos – Feira de Santana – a maior data cívica do ano, o 2 de julho, virou um arremedo de comemoração.

A festa que marca uma das mais efetivas lutas pela independência (?) do Brasil, na qual, se não me falha a memória da infância, íamos todos às ruas sacudindo bandeirinhas do estado e do país para ver passar cabocla e o caboclo, num desfile de tradição e emoção, hoje em dia nem de longe lembra isso.

O feriado do 2 de julho, anda sendo dividido em duas partes: o desfile da hipocrisia protagonizado por um sem números de políticos abafados para exibir suas rechonchudas panças nas câmeras das principais emissoras provando a seus eleitores que eles de vez em quando levantam suas bundas dos gabinetes, jatinhos e iates e vêm na rua prestigiar seu próprio prestígio de conseguirem se reeleger ano após ano. A outra parte é o show de esculhambação de um povo que não vê sentido em data nenhuma e enxerga qualquer festa na rua apenas como mais uma oportunidade de sair para encher a cara de latões e latinhas de cerveja, emporcalhar a cidade e protagonizar pancadarias, até a polícia aparecer cacetando todo mundo feito bicho.

Nem o sol, declamado nos versos do hino a esta data, vem brilhar mais. É uma conspiração? Desde que me entendo por gente, é quase que lei que esse dia nasça e permaneça realmente ensolarado e, nem isso, eu vi ontem. 

Andando no nada para lugar nenhum, pessoas que ainda buscam um resto de qualquer coisa que represente o que um dia foi uma festa que orgulhava qualquer baiano. A festa anda tão desvalorizada que nem o trânsito está sendo modificado como antes. Assim, passam em meio a um ou dois grupos de samba que ainda resistem à eliminação da tradição, um carro de lixo, um ônibus cheio de pessoas que não querem ou não podem “festejar” e nem sei quantos carros particulares. 2 de julho, quem te viu, quem te vê. Acorde meu filho, porque estão querendo acabar você.