sábado, 31 de dezembro de 2011

Lá vem 2012!

"Desejo a vocês fruto do mato, cheiro de jardim, namoro no portão, domingo sem chuva, segunda sem mau humor, sábado com seu amor, chope com os amigos, viver sem inimigos, filme na TV, ter uma pessoa especial e que ela goste de você, ouvir uma palavra amável, ver a banda passar. Desejo a vocês noite de lua cheia, rever uma velha amizade, ter fé em Deus, não ter que ouvir um não, nem nunca, nem jamais, nem adeus, rir como criança, ouvir canto de passarinho, sarar de resfriado, escrever um poema de amor , tomar banho de cachoeira, aprender uma nova canção, esperar alguém na estação, queijo com goiabada. Desejo a você uma festa, um violão, uma seresta, recordar um amor antigo, ter um ombro sempre amigo, bater palmas com alegria, uma tarde amena, calçar um chinelo velho, tocar uma musica a alguém, vinho branco e muito carinho! "

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Quando o tempo durava mais

Quando eu era criança tinha a impressão que os anos duravam mais do que duram nos dias de hoje. Parece loucura, mas sem dívidas e dúvidas existenciais me parecia que os 365 dias no calendário se arrastavam por uma eternidade. As férias demoravam, eram longas e super distantes umas das outras. O dia do meu aniversário era uma coisa que eu esperava com tanta ansiedade que até parecia que só acontecia de quatro em quatro anos.

Uma catástrofe ou um grande feito ficavam sendo lembrados por longas datas, vistos e revistos nos noticiários por várias edições. A gente não esquecia as coisas tão facilmente e as retrospectivas que a Globo fazia – e ainda faz – na última semana do ano não pareciam falar de coisas da década passada. A informação era bem menos perecível e descartável, porque a gente não podia acessá-la numa tela que cabia na palma da nossa mão, para saber o que acontecia no Brasil e no mundo, a gente precisava sentar em frente a TV na hora do Jornal Nacional e ai de quem desse um pio.

O réveillon era aquela data lá no final da folhinha, quando passava a corrida de São Silvestre na TV e nós (as crianças) tínhamos o direito de tomar um golinho de espumante - na época a velha e boa Cidra Cereser sabor maçã que podia ser encontrada em qualquer mercado perto de você – com nossas roupinhas brancas, novinhas. Quando dava meia noite, o único desejo para o ano que iniciava era que tivéssemos um bom rendimento escolar para escapar das reclamações de nossas mães e pais. Sim, na minha infância os pais tinham direito de reclamar com os filhos e de bater também. Os adultos ainda não tinham medo das crianças naquela época e ninguém criava trauma por causa de uma surra ou outra.

Talvez porque o tempo durava mais, duravam também as amizades e os amores. A gente não saía substituindo as pessoas, porque cativá-las era uma coisa que demandava esforço e vontade. Não tinha facebook pra achar todo mundo e saber da vida dos outros de cabo a rabo num simples clique. Para conhecer as pessoas era preciso estar com elas ao vivo e a cores e para tirar alguém da vida não bastava apertar o botão e excluir. Para discutir uma relação era preciso estar frente a frente porque não existia nenhum plano para falar a vontade por r$ 0,25. Para namorar só saindo de casa, porque não tinha o badoo para nos arranjar o par ideal. A conquista era demorada e por isso os relacionamentos valiam muito mais a pena.

O mundo evoluiu tanto, que foi preciso fatiar o tempo, foi preciso colocar mais velocidade na vida, pra que essa evolução não perdesse o sentido. Ganhamos com isso? Não sei. Às vezes, nem tanto.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Uma semana cheia

Em uma semana que começou com o Ministro do Trabalho pedindo demissão e com Fátima Bernardes se despedindo da bancada do Jornal Nacional, é natural que na terça-feira já estejam todos exaustos. Os dois fatos são suficientemente noticiosos e desgastantes para olhos e ouvidos da nação brasileira em pleno começo de um mês onde todo mundo está mais preocupado em organizar as festas do fim de ano que, só de sacanagem, vão cair de sábado para domingo.

Carlos Lupi tinha dito que só sairia do Ministério à bala. Mas, depois de ser visto saindo de jatinhos que, segundo ele, jamais tinha entrado e de Dilma não retribuir seus “eu te amo”, só lhe restou colocar as maquinas de picotar papel pra trabalhar e pedir para ser liberado para os cargos todos – inclusive os fantasmas – que ele colecionava. Como toda notícia ligada a política nesse país, cria-se um estardalhaço que interessa muito mais no decorrer do que quando acontece a demissão de fato. E já que lá vem mais uma descoberta de falcatruas de outro ministro – dessa vez vai ser o Desenvolvimento – ninguém deu muita importância pra o bye bye de Lupi. A notícia deu mais pano pra manga em sites de piada do que na imprensa “séria”, que me parece cada dia mais isenta de seriedade.

E eis que depois de muitos cortes de cabelos e ternos Chanel, Fátima Bernardes, resolveu largar o Jornal Nacional e partir para novas experiências. Foi substituída por Patrícia Poeta, que é quase a mesma coisa. A Globo deveria aproveitar que está com uma propaganda natalina que diz que hoje e um novo dia de um novo tempo e colocar alguém diferente de Fátima para nos dar boa noite ao lado de Bonner. Ótimo momento para colocar alguém que não seja branco, heteressoxual e do eixo Rio-São Paulo para falar das notícias do nosso país, que não se resume a Fátimas, Williams e Patrícias, com sua aparência impecavelmente diferente da maioria dos cidadãos do Brasil.

Ainda que não bastassem as duas demissões, Ivete Sangalo, internada com uma meningitezinha virou notícia também. O boletim médico da cantora foi parar nas pautas de todos os veículos da imprensa falada, escrita, televisionada e teclada. Aí já sabe, Haja fã na porta do hospital e haja tchauzinho da sacada e dá-lhe Ivete nos Trending Topics do twitter. Como a baiana deve ter o corpo mais fechado do que o do Coronel Inocêncio da novela Renascer, Ivete saiu linda e ovacionada tranqüilizando o coração de seus tietes e da Assessoria de Imprensa do Hospital Aliança em Salvador.

Como sempre se dá muita importância ao que não deve nesse país e as coisas realmente importantes são deixadas de lado, pouco vi sobre o caso da estagiária que foi obrigada pelos chefes a alisar os cabelos em uma escola de São Paulo. Soube do caso via facebook e não me lembro de ter visto na TV uma matéria sobre o show de racismo made in Brazil.  Normal. Vamos nos preocupar com as compras de Natal, que graças ao crescimento do pais, serão melhor que nunca para os brasileiros. Só não se sabe muito bem o que Papai Noel reserva para aqueles outros brasileiros, sempre esquecidos. 

Enfim, foi mesmo uma semana cheia.

sábado, 19 de novembro de 2011

Falando de racismo


Enfim tomei vergonha e fui assistir a “Namíbia, não!”, primeira peça na qual Lázaro Ramos assina como diretor teatral. Ainda que a peça tenha estreado em Salvador há mais de seis meses, só agora, no Rio de Janeiro, fui conferir o trabalho de direção do meu talentoso conterrâneo.

A trama é excelente. A montagem simples e direta encenada pelos atores Aldri Anunciação e Flávio Bauraqui trata do drama de dois primos que decidem permanecer escondidos em seu apartamento para não serem capturados, diante de uma medida provisória decretada pelo Governo Brasileiro no ano de 2016 que prevê, como forma de reparação social pelos anos de escravidão, que todos os afro-descendentes brasileiros devem retornar ao continente africano.

O cenário tem uma simplicidade absurda e consegue nos remeter aos cinco anos adiante, as atuações cumprem a tarefa – não são esplêndidas, mas também não deixam a desejar - e o texto tem uma inteligência ousada  que nos prende durante todo o espetáculo e se mantém recheado por piadas e tiradas que não se cansam de meter o dedo na ferida das questões raciais. Os racistas riem como hienas das provocações propostas pela peça que cutuca o tempo inteiro o mito da democracia racial fortemente empreendido no Brasil e que vemos comprovado nesse excesso de risos em momentos nos quais seria melhor chorar diante do que a peça nos leva a constatar. 

Ainda que eu tenha sentido que o desfecho poderia ter sido melhor, ele atende ao ponto principal do trabalho,  “Namíbia, não!” não pretende dar respostas e sim nos deixar a vontade para refletir sobre as inesgotáveis questões relacionadas as desigualdades.

Para mim, acostumada a conferir a questão racial na dramaturgia, através de montagens de companhias como Bando de Teatro Olodum (Cabaré da Raça, O muro,  Ó paí ó, etc.) e a Cia dos Comuns (Candaces, Bakulo, etc.) o tom da direção de Lázaro me parece na medida, com a cara que deve ter o enfrentamento ao racismo nos palcos nos dias de hoje. Está de parabéns!

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Andar pra quê?

“O mundo está ao contrário e ninguém reparou”. Parece que sim. Em pleno ano de 2011 há quem ainda ache que o que funciona na década de 80, continuará dando certo nos dias de hoje.

Numa era em que ditadores são derrubados através do twitter e grandes revoluções vão sendo feitas sem necessidade de cartazes e marchas, alguém me explica porque a população do Rio de Janeiro vai sair andando pelo centro da cidade em plena  quinta-feira contra a tentativa de retirada dos royalties do petróleo do estado? Eles acham que isso realmente vai alterar alguma decisão relativa ao pré-sal? Não creio. Em uma entrevista a um jornal local, um cidadão carioca diz que quer relembrar a luta pelos royalties de 30 anos atrás. Como assim? Será que ele não percebeu que o tempo passou? Acorda, meu filho! 

Estudante exibe cartaz que critica a ocupação da reitoria da USP
Na USP, estão acampados centenas de estudantes que não têm pelo que brigar e resolveram fazer presepada porque não querem a polícia dentro da faculdade. Chega ser engraçado ver alunos da USP empunhando cartazes que dizem que a polícia é cão de guarda da elite. Piada, né? Soube até que os revolucionários temporãos, se atracaram com jornalistas porque queriam interromper os links ao vivo. Como se não bastasse todo o resto, agora bater em jornalista virou moda. Era só o que faltava.

Quer andar? Ande. Quer dormir na reitoria? Durma. O país continua na merda porque nada disso altera a fome, a miséria, o analfabetismo, a violência e mais um monte de coisa pelas quais ninguém quer lutar e se quisesse não seria andando que se resolveria.

sábado, 5 de novembro de 2011

Só não é o que não tem que ser

Há quem venha dizer que eu sou contraditória na minha essência, pois ao mesmo tempo que acredito que somos sujeitos de nossas próprias transformações eu ainda tenho fé nas inevitáveis artes do Mrs. Destino. Ou seja, da mesma forma que sei que nossas atitudes e escolhas interferem diretamente no que fomos, somos e seremos, eu entendo que algumas coisas estão ali no meio do nosso caminho, escritas nas nossas histórias. São encontros, mudanças, situações e acasos que inexplicavelmente parece que foram postos ali e não haveria como ser de outra forma.

Estou pela primeira vez em minha vida afastada da minha família e de meus amigos, pessoas pelas quais meu coração sempre está repleto de amor sem que para isso seja preciso que eu diga o tempo inteiro. É bem verdade que, mesmo coma distância física, os avanços tecnológicos me permitem estar perto deles quase que o tempo inteiro. Mas aquela proximidade, mesmo com todas as coisas inerentes ao meu jeito de ser, tem feito muita falta pra mim e para todos os que têm me acompanhado e se integrado a minha vida.

Não sei se os últimos acontecimentos são obra do mecanismo do “tem que ser” ou se simplesmente eu precisava me encher de coragem e medo, deixar um pouco de lado a segurança de estar cercado dos meus e me lançar a ambientes tão diferentes e novos. Sei que quero muito que dê certo e que faça sentido, porque eu acredito que só não é o que realmente não tem que ser. 

Era Dia de Todos os Santos quando saí da Bahia pela primeira vez. Estava cheia de temor e vontade. No meu coração eu sentia que isso jamais poderia estar sendo em vão.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

domingo, 30 de outubro de 2011

Flor de Ir Embora

" Flor de ir embora
É uma flor que se alimenta do que a gente chora
Rompe a terra decidida
Flor do meu desejo de correr o mundo afora
Flor de sentimento
Amadurecendo aos poucos a minha partida
Quando a flor abrir inteira
Muda a minha vida
Esperei o tempo certo
E lá vou eu
E lá vou eu
Flor de ir embora, eu vou
Agora esse mundo é meu. "

Une Fleur

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Hoje vai ter uma festa!


Um ano do Edifício no meio do mundo. Happy Birthday!

Meu edifício no meio do mundo

Atendendo aos pedidos de algumas leitoras e leitores, eis que resolvi escrever um pouco sobre esse Edifício no meio do mundo. Meu querido, amado, criticado e lido (pasmem!) blog. Nascido da minha desocupação, paixão pela escrita e acidez desmedida, meu Edifício no meio do mundo é exatamente o que o próprio nome - surrupiado de uma letra de Ana Carolina - diz. A minha casa, o lugar pra onde eu trago minhas angústias depois de rodar arisca e desavisada por esse mundo louco. Onde eu me incomodo e me exponho. O lugar onde eu posso rir, chorar, gritar ou sussurrar e em sílabas, palavras e frases. O lugar onde meus amigos me encontram na minha forma mais bruta e mais pura. Onde eu dou material para que quando me detestem possam falar mal de mim. Um espaço onde eu existo e enlouqueço. Para onde eu venho quando o peito aperta ou simplesmente quando pousa uma borboleta na minha janela. Ele não é o melhor blog do mundo, mas é meu. Sou eu o tempo inteiro e mais ninguém. Eu e minha mente insana que não me deixa em paz. Refazendo-me a cada texto. Reinventando. Sendo. Eu em carne viva e sem parar.

sábado, 22 de outubro de 2011

O cara

Todo mundo já foi, é, será ou irá conhecer “o cara”. Se deparar com um ou vários exemplares do cara ao longo da vida é quase que inevitável para todos os cidadãos da contemporaneidade. Quer apostar? O cara é aquele rapaz com idade média entre os 25 e os 30 anos, récem-liberto de um relacionamento sufocante que durou entre dois e quatro anos e disposto a tocar terror na cidade. Tá vendo que você conhece? Tenho certeza, caro leitor, que você riu e lembrou daquela sua fase, ou daquele amigo, ou  - no caso das mulheres – daquele ex (desgraçado) que não te atende mais ou do que você não quer ver nem de pólo da Ralph Lauren (original, por favor).

O cara tá se achando, pegou uma espécie de carta de alforria (desculpa aí gente, mas tem namoro que parece escravidão), começou a malhar, deu um grau no carro (rodas, som, etc e tal), desbloqueou geral no msn e colocou pra funcionar a velha e boa agenda do celular: começou a telefonar para todos os brothers solteiros e todas as mulheres que ele não tinha “tempo” de ligar. Daí em diante, haja bônus e nome de motel na fatura do coitado!

Da namorada ele já nem se lembra mais (pelo menos é o que eles tentam demonstrar) e quando ela liga a fim de discutir pela enésima vez sobre o que não deu certo na relação deles, ele diz que está resolvendo um problema e retorna mais tarde. Mas, se ela tiver amigas baladeiras, saberá que o cara está sendo a pessoa mais vista em todas os eventos da cidade sempre muito bem acompanhado de uma garrafa de Red Label e completamente à caça. Não toma falta em um ensaio, uma festa de camisa ou um bate lata na ladeira de não sei das quantas.

O problema é que a sobrevida desse Superman é de, em média, um ano. Isso a depender das circunstâncias. Geralmente, eles não demoram muito pra sair da vida que, segundo eles, “pediram a deus” e conhecer alguém ou voltar para a ex.  Daí, é só esperar aquele tempo que eu falei lá em cima e começa tudo outra vez.                                                                                       

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A corrida dos rótulos

Aos treze eu tirei a foto de Thiago Lacerda da capa do meu caderno e coloquei uma de Che Guevara, eu falava sobre Comunismo e Socialismo com a desenvoltura de um guerrilheiro e sabia a letra inteira de Faroeste Caboclo e outras músicas de Legião. Aos quinze eu li Cem Anos de Solidão, me apaixonei por Gabriel Garcia Marquez, devorei mais uma meia dúzia de títulos dele e entendia de Realismo Fantástico muito mais do que dos hormônios que borbulhavam em meu corpo. 

Porém, nessa mesma época eu passava todas as minhas manhãs de sábado ensaiando coreografias que nunca seriam apresentadas ao som de “Salvador mania de Pagode” um programa de rádio de uma emissora local que hoje eu nem lembro qual era, queria ir pra os shows e namorar até tarde como minhas primas e lia revistas de signos com galãs na capa. Quem era eu? Não sei.


O mundo vive tentando nos colocar rótulos. Fulano é cult, ciclano é fútil. Eu não me sinto confortável em nenhum deles. Posso falar sobre Foucault ou Nietzsche ou ainda sobre a trajetória de Joana Machado no programa A Fazenda 4. Entendo plenamente de algum desses três assuntos? Não. E não me importo nem um pouco com nada disso. Porque eu acredito que sabedoria é ter história e vocabulário para conversar tanto com antropólogo formado em São Lázaro quanto com o homem que vende a cerveja mais gelada da praia. E ponto final. 

Tem gente que acha que eu sou a pessoa mais metida do mundo porque cito Fernando Pessoa em meu facebook, gosto de ouvir Ray Charles tocando clássicos no piano, detesto erros de ortografia e vivo criticando tudo. Mal sabem que eu tenho músicas de Pablo do Arrocha no meu computador, não sei cozinhar, sonho todos os dias em ter dinheiro para me encher Victoria Secrets e Louis Vuitton e me critico pra caralho também. As pessoas querem nos enquadrar em algum perfil o tempo inteiro. Nos enfiar uma tarja e por na prateleira junto com outros “iguais”. Eu não aceito. Não me conformo e você deveria não se conformar também.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Edição de aniversário. Participe!

Gente, esse humilde blog estará comemorando - como dizem as atendentes de telemarketing - um aninho na próxima semana. Por isso, além de bolo e guaraná, eu gostaria de fazer uma edição especial de aniversário para esse meu filhote que suporta minhas neuras, dramas e inquietações. Para produção dos textos dessa edição golden supreme very special quero contar com a ajuda de vocês, meus leitores lindos - ou seja, minha mãe e mais meia dúzia de amigos. 
Digam aí, o que vocês gostariam de ler no aniversário do Edifício no meio do mundo?

As sugestões poderão ser enviadas via comentário aqui no blog, no meu email (daza.ashanti@gmail.com) ou no facebook.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Notícia é notícia

Os Jogos Pan-Americanos de 2011, que começaram na última sexta-feira (14) e ocorrem em Guadalajara, no México, estão sendo transmitidos no Brasil, com exclusividade, pela Rede Record de Televisão. A emissora de Edir Macedo desbancou as outras e vem conseguindo, graças à cobertura das competições do Pan, melhorar os níveis de audiência.

Nesse contexto, a disputa pela audiência e pelos patrocinadores tem sido tão grande que as outras emissoras acabaram perdendo a noção do “valor notícia” do evento que é o segundo maior acontecimento multiesportivo do ano, contando com a participação de mais de 6.000 atletas de 41 nações em 36 esportes diferentes.

 A Globo, por exemplo, que sempre teve exclusividade dos grandes eventos de futebol e também de outros esportes não está nem se dando ao trabalho de dar notas só com a voz do apresentador, sem imagens, já que a Record não está cedendo imagens para ninguém. Até mesmo os canais fechados estão de fora. Ou seja, está todo mundo fingindo que o evento não está acontecendo. Dá pra acreditar?

Tudo bem que a Record tenha vencido a disputa pelo direito de exibição das competições e esteja cobrando uma fortuna e criando mil dificuldades para ceder uma imagem ou outra do evento, até porque pode se esperar tudo de uma instituição como ela. Mas daí as outras emissoras ignorarem o evento, isso é uma espécie de anti-jornalismo. É inadmissível. Nada justifica que o telespectador seja privado das informações referentes a um evento dessa magnitude. Virão as Olímpiadas de Londres em 2012, também vão fingir que elas não acontecem? Que eu me lembre, notícia é notícia. Pelo menos, foi assim que me ensinaram lá na faculdade.

domingo, 9 de outubro de 2011

Fugindo de nós

Amar alguém, mesmo sem ser correspondido, é uma forma que algumas pessoas encontram de se sentirem menos sozinhas e mais distantes de si mesmas. Nesse sentido, o amor é puro egoísmo. A gente ama o outro para se sentir melhor e não ter que se encarar. É por isso que as pessoas que não temem se enfrentar não sofrem da fatal necessidade de amar. O ser humano é isso. Uma busca incessante pelo seu próprio conforto. Uma fuga eterna da possibilidade de se encontrar com ele mesmo. Ainda que isso custe estilhaçar seu coração.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Engordar virou graça

Enquanto a Organização Mundial de Saúde tem desenvolvido um sem número de pesquisas e campanhas a fim de combater um dos maiores males da atualidade: a obesidade, o (cada dia mais sem graça) Pânico na TV resolve obrigar um de seus apresentadores a engordar com o intuito de tirar sarro da dieta feita pelo jornalista Zeca Camargo no quadro “Medida Certa”, do Fantástico. 

Ou seja, toda vez que eu penso que já vi de tudo nessa televisão brasileira, sou surpreendida com uma dose extra de imbecilidade e falta de senso e criatividade do humor produzido em nosso país. Na falta do que dizer, fazer e mostrar, engordar virou graça. É de lascar!

Enquanto Vesgo (Rodrigo Scarpa) estiver engordando os dezesseis quilos em um mês – tempo determinado pelo programa – muitas pessoas estarão morrendo graças a uma doença com características epidêmicas que pode favorecer ou agravar a hipertensão arterial, a diabetes, a Apneia Obstrutiva do Sono e gerar disfunções respiratórias, além de complicações cardiovasculares e atinge, segundo dados do IBGE, cerca de 17 milhões de pessoas no Brasil. A maioria dessas pessoas não tem assistência médica de qualidade, nem o salário do Pânico. Elas estão doentes, são vítimas de preconceito o tempo inteiro, são sub-representadas pela mídia e por isso não acham a menor graça do “Em busca da cinturinha do Zeca Camargo”.

Parece que para o Pânico não basta humilhar meia dúzia de mulheres seminuas com peitos e bundas falsas desesperadas e ávidas por virarem notícia no mundo das subcelebridades toda semana, não basta contratar para expor ao ridículo pessoas com deficiência mental, não basta só saber fazer humor racista, machista e misógino domingo após domingo, tem que brincar de engordar para ver se eleva audiência. É pra ficar em pânico mesmo! 

domingo, 2 de outubro de 2011

Agora o bullying explica tudo

Eu sou de um tempo em que tiro em escola era uma coisa que a gente só via em documentário americano. Bons tempos, em que comentários sobre a altura, os óculos, as pernas tortas, a gordura ou o tamanho da cabeça dos colegas eram apenas brincadeiras normais de criança ou adolescente, que rendiam no máximo uma advertência da coordenação do colégio. Não, eu não estou fazendo incitação à violência, ao preconceito ou à tortura psicológica. Só acho que algumas atitudes são inerentes a fase escolar.

O tempo passou e os tiros em Columbine chegaram ao Brasil. Chegaram e atingiram em cheio uma escola Realengo. Tirando a vida de treze estudantes e desesperando milhares de pais e mães que todos os dias mandam seus filhos às escolas desse país. O autor, que se matou em seguida, especula-se, dentre tantas conversas desencontradas, estaria se vingando do bullying que sofrera quando era aluno daquele mesmo colégio. Quem sabe? Talvez assim fique mais fácil de explicar. Parece que alguém teve a brilhante ideia de pôr a culpa de um atentado dessas proporções num trauma pelas gozações sofridas na infância e pronto: está resolvido.

Após cerca de seis meses, outra tragédia choca o país. Um garoto de dez anos atira na professora dentro de uma sala de aula e em seguida se retira e dá um tiro na própria cabeça, em uma escola em São Caetano, no ABC Paulista. No mar de desespero e controvérsias que ronda em torno do trágico episódio, começam a relacionar a história do menino - que só tirava boas notas, era tranquilo e etc -  com o fato de que ele era vítima frequente de bullying. Mas como assim? Agora o bullying tem que explicar tudo.

A arma levada pelo garoto pertencia ao pai dele - que é Guarda Municipal – e ninguém sabia que ele estava com ela dentro da escola. O tiro atingiu o quadril da professora, o menino se matou fora da sala. Será que ninguém imagina que simplesmente essa criança pode ter levado o revólver para mostrar aos colegas, numa atitude infantil e, portanto natural a alguém com dez anos de idade, e que após o desespero do disparo acidental na professora, ele transtornado cometeu o suicídio?

Mas, por que ninguém se pergunta o que faz uma criança entrar armada em uma sala de aula? Será que não seria mais adequado que se começasse um trabalho nas escolas para evitar isso do que ficar jogando a culpa desses atos fatídicos na revolta dos alunos diante de brincadeiras que sempre existiram e que continuarão a existir?

sábado, 1 de outubro de 2011

As donas dos pedaços

Eu juro que tento, me esforço, mas não consigo entender a incansável patrulha dessas mulheres que se comportam como verdadeiros cães de guarda dos perfis de seus amados nas redes sociais. Basta uma mínima suspeita de qualquer coisa e elas começam a rosnar desesperadas facebook afora, a fim de impedir a invasão de uma suposta rival. É coisa de louco!

Como se não bastasse aquela coisa ridícula de fazer perfil junto, colocar foto de rostinho colado, acordar postando: “te amo, benhê” e etc, as malucas vivem ariscas, de guarda, com um GPS eternamente ligado, que dispara a cada possível investida de outra mulher.

E na onda de se mostrar dona do pedaço - que na maioria das vezes é um pedaço mesmo – elas começam a comentar qualquer espirro que o namorado/marido/ficante dá na web. Elas retwittam tudo, curtem tudo, compartilham tudo, comentam tudo, dão pitaco em tudo. É uma coisa insuportável. 

Se uma amiga desavisada e desconhecida por ela ousar fazer um comentário, lá estão elas, com as quatro patas dentro do perfil dos machos, mijando nos cantos para demarcar o território e prontas para botar pra correr a latidos as pobres coitadas. E quando a coisa deixa de funcionar no mural, começa a marcação. É um tal de marcar o cara no baba de domingo, na quermesse da igreja, no batizado da boneca. Onde houver um ambiente familiar no qual ela esteve com ele, ele será marcado na foto, pois é uma maneira de acender o letreiro luminoso com letras garrafais piscando: ELE É MEU! 

Meninas, ouçam um conselho de quem nunca fez essa patrulha e nem pretende fazer: dá um logoff, pois essa eterna sentinela não vai adiantar nada. Desistam. Porque enquanto você twitta que ama ele, ele tá dando uma “twittada” em alguém.

sábado, 17 de setembro de 2011

Hello, stranger.



" - Eu te amo.
- Onde? Me mostra! Onde está esse amor? Eu não consigo vê-lo, tocá-lo, senti-lo. Consigo ouvir algumas palavras, mas não posso fazer nada com suas palavras fáceis… Seja lá o que disser, está tarde demais! Eu não te amo mais.
- Quando você descobriu isso?
- Agorinha mesmo…  Eu teria te amado pra sempre."


do filme, Closer - Perto Demais

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Não venham me dizer que não é racismo

Ator Rodrigo Lombardi
Está rolando uma polêmica desde o último domingo,  que vem sendo fortemente difundida pelas redes sociais, a respeito do comentário feito pelo ator Rodrigo Lombardi na final do quadro Danças dos Famosos do Programa Domingão do Faustão. 

Ao avaliar a apresentação do ator Miguel Roncato, o ganhador da competição, Lombardi teria comparado a performance dele a do cantor e dançarino americano Sammy Davis Jr, comentando que o músico era "um cara negro, caolho, com um metro e cinquenta, que quando entrava no palco saía com dois metros de altura, loiro e de olho azul". Isso, pelo visto, na cabeça do intérprete de Herculano Quintanilha e de algumas outras pessoas isso teria sido uma espécie de “elogio”.

Mas porque o negro, caolho e baixinho, precisa se transformar em um cara de dois metros de altura e com ares de ascendência alemã para ser considerado bom? Sinceramente, não queiram vir me dizer que isso não é racismo. Não venham me falar que ele não carrega o ranço da escravidão, na qual um negro não pode ser bom, não pode ser destaque, não pode brilhar. Não venham querer me convencer que foi apenas um comentário impensado.

Sammy Davis Jr
Infelizmente, o povo do nosso país não teve a mesma lição que os americanos. Pois nos Estados Unidos foi preciso lutar contra o racismo de fato e de direito. E  hoje, no solo americano, um comentário como esse geraria um belo processo e a obrigação de uma retratação pública por parte do ator. Aqui, o mito da democracia racial reproduz discursos como o de Lombardi no Domingão. E, ainda por cima, faz com que  as pessoas não consigam enxergar o quanto é perverso e preconceituoso que para merecer aplausos alguém precise adquirir aspectos ligados a um padrão de beleza que não tem nada a ver com a realidade de nosso país. 

O racismo é assim, ele se camufla numa fala qualquer de um ator global em pleno domingo de tarde. Você pode começar a cair na real ou continuar sentado vendo isso.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Os homens e suas varinhas mágicas

Eu tento, porém simplesmente não consigo entender porque alguns homens sofrem do que eu resolvi apelidar de “complexo de mágico”. Eles acham que basta sacudir suas varinhas – e na maioria das vezes são varinhas mesmo – que tchan tchan tchan tchan: surgirá uma mulher louca para dar pra eles.

E por isso, enquanto eu não consigo uma carteira falsa do Conselho Regional de Psicologia para sair por aí medicando esses loucos que se acham o primeiro biscoito do pacote (já que o último biscoito sempre fica meio mole ou esfarelado) só me resta dizer que, por mais que o mundo venha sendo muito injusto com a minha classe -  tanto em quantidade quanto em qualidade - ainda assim, nem toda mulher vive a mercê do desejo e da disponibilidade dos homens. Pois é, acordem e deixem de achar que o centro do mundo fica dentro da sua cueca. Porque não fica.

Portanto, meus caros, pelo amor de deus, parem de aparecer do nada às segundas-feiras quando os motéis são mais baratos, parem de querer reatar o namoro quando perdem o emprego ou quando estão sem carro, parem de mandar torpedos às 3 h da madrugada depois de tomar toda a cachaça do mundo e não ter condições nem de fazer um sexo meia-boca, parem de ligar quando brigam com suas namoradinhas e querem encontrar alguém que tope transar no carro do primo, na escada do prédio ou na casa da avó. PAREM, PAREM, PAREM!

Por mais idiotas que vocês consigam pensar que nós somos, toda mulher sabe exatamente quando é prioridade e quando é uma opção. E, se de vez em quando a gente resolve atender a uma investida no sense de vocês, é pelo nosso próprio desejo, pelas nossas vontades. Esqueça esse lance de que é só você bater os dedos que fulana vai, porque ela não vai, eu não vou e um dia desses ninguém irá. 

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O povo gosta é do pagode

Em recente pesquisa encomendada e divulgada pelo jornal Correio – o mais lido da capital baiana – o pagode está à frente do axé music no ranking dos gostos musicais dos soteropolitanos. Novidade? Nenhuma. Quem circula pelas ruas e casas de shows da cidade consegue perceber aderência – principalmente das novas gerações – às tribos dos pagodeiros.

Inevitável que o pagode cresça uma vez que ele foi para além de um ritmo musical e se consolidou como uma forma de estar no mundo. Diferentemente do axé music, que acredito eu, nunca teve seu público consolidado para fácil identificação. O público que realmente consome pagode é fidelíssimo e distinto de qualquer outro. Mais que uma trilha sonora, o pagode é um estilo de vida. Independente do teor de suas letras, da forte indústria da pirataria que gira em torno desses hits e de uma série de questões sociais relacionadas ao consumo do pagode, é fato que ele é a representação de uma determinada classe que se sente atendida e não se incomoda com nenhum desses aspectos. O fato é que o pagode é um inegável fenômeno cultural.
Cantor Ed City
Prova disso é que os pagodeiros, tanto quando reunidos em seus grupos ou quando perambulando avulsos pelas ruas de Salvador, tem uma série de códigos que os tornam seres de facílima identificação. As tatuagens com os nomes da mãe ou dos filhos, roupas da marca Cyclone ($$), as pesadas correntes de prata ($$$) e os celulares de última geração ($$$$) ou caixas de som no viva voz, dão a dica a qualquer desavisado de que ali se encontra um pagodeiro nato. 

Por isso, para gostar de pagode é preciso ter dinheiro, até porque todo dia tem ensaio de uma banda diferente, toda semana tem gravação de DVD e todo mês tem alguma festa que reúne de cinco a dez grupos e engarrafa a Avenida Paralela por quatro horas e. Também é importante que se tenha disponível um automóvel com uma boa e potente aparelhagem sonora capaz de reproduzir numa altura de inimagináveis decibéis versos do tipo: “ela dá pra nós que nós é patrão.”

Daí é possível entender porque os empresários do ramo estão lucrando com esse boom comercial. Por mais que os grupos de pagode mais populares não tenham seus CD’s a venda nas Lojas Americanas e não estejam aparecendo nos programas de TV dominicais eles dialogam com um povo que gosta do som que é feito e paga  - caro – para consumi-lo.

Aos artistas de Axé cabe se adaptar, participando como convidados dos ensaios das bandas do momento e fazendo show em eventos que até um ano atrás eram tidos como territórios de um outro público.  Porque, está atestado, o povo gosta é do pagode.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

As voltas que o mundo dá


"Das habilidades que o mundo sabe, essa ainda é a que faz melhor: 
Dar voltas.''
Esta frase de Saramago é mesmo genial. Das poucas respostas que se tem sobre os mistérios desse universo uma coisa é certa: o mundo dá voltas. Muitas, várias, diversas, inúmeras, voltas. E enquanto a noite vira dia e o inverno vira primavera, as pessoas vão se esquecendo de que existe esse mecanismo inevitável e incessante que nos põe ora em uma posição, ora em outra. Esquecem que a pessoa que hoje não te atende, some, inventa mentiras sem sentido, não faz questão da sua presença e etc, amanhã pode estar louquinha atrás de você. Rastejando aos seus pés. Que delícia! Porque os nossos lugares diante de tudo, inclusive nossas posições diante dos relacionamentos, podem mudar. E como mudam! Nada permanece inerte até o infinito. E por mais que pareça impossível quem você despreza hoje pode ser seu maior desejo amanhã. Devo confessar que meu lado dark se diverte bastante com isso. E eu ouço, ao ver meus ex-desejos ali inteiramente a minha disposição sem que eu consiga esboçar a menor vontade de estar com eles, meu diabinho rindo sarcástico e gritando para aqueles que um dia estavam completamente indisponíveis para mim: tarde demais!

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Ela come até merda

Eu, você, todos nós sabemos que esse tal de Fiuk é um idiota. Isso é fato e ninguém em sã consciência vai querer contestar. Fora ser uma idiota inscrito, o menino não consegue ser bom nem como cantor e nem como ator e, ainda por cima, não entende que esse combo - galã + mau ator + péssimo cantor- é coisa do tempo do seu pai e que, nos dias de hoje não serve nem pra fazer novela e nem pra vender CD. Por mais que as novelas e os CD’s estejam cada vez piores.

Até aí tudo bem. O menino tem o direito de aparecer na capa da revista Capricho todo mês e fazer meia dúzia de seriados na Rede Globo, inclusive para retirar seu pai das catacumbas do ostracismo, já que o intérprete de Pai (senta aqui que o jantar tá na mesa, blá, blá, blá ) só aparecia na mídia quando se casava ou se separava de alguma “modelo”. 

Mas Fiuk não se contenta em ficar calado cumprindo seu papel de pseudo-astro teen e inventa de acrescentar um pouco mais de tempero a minha ojeriza por ele. Eis que lendo o site EGO (sim, eu leio o EGO), me deparo com o garoto dizendo que o pai quase ficou com uma namorada sua e declarando que Fábio Jr come até pedra. Essas foram as palavras do filhinho sobre o papai, sem tirar nem por. “Ele come até pedra”. Dá pra acreditar? Para piorar, no fim da entrevista, quando perguntado se teria um relacionamento com a cantora Maria Gadú, o boy solta a seguinte pérola: "Acho que a Maria Gadú não me pegaria. Falo de igual para igual com ela". Como assim?

Eu não vou nem te importunar, caro leitor, perguntando o que você acha que passa pela cabeça desse imbecil para que ele dê declarações desse nível. Eu, sinceramente nem tenho o que dizer diante de tamanha asneira. A dúvida que ficou na minha cabeça, foi apenas uma: se Fábio Jr come até pedra, uma mulher que se envolveria com ele e com seu filho come até merda, né não?

Sinceramente, me faltam palavras para descrever minhas sensações diante dessa sandice. Só consigo pensar que tem “artista” que quando não vê outra forma de se exibir para a imprensa, reúne os jornalistas para declarar que sempre – sempre mesmo - há uma maneira de parecer mais ridículo do que já é.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

A cidade está crescendo para quem?

Reprodução
CHEGA! A cidade já não consegue respirar, estamos entupidos de prédios, obras, construções, engarrafamentos. O excelentíssimo governador anunciou ontem que construirá um metrô na Paralela – deveria largar a política e virar comediante – sendo que, como todo mundo já sabe temos um mini-metrô que carrega dois honoráveis títulos: o de menor metrô do país e o de obra que conseguiu se manter inacabada por mais tempo nessa cidade, esqueça Jacques Wagner! Não adianta enfiar mais trilhos goela abaixo da população soteropolitana, para garantir um prefeito do seu partido no comando da capital. Basta! Ninguém aguenta mais os congestionamentos gerados por suas obras que de tão bem pensadas conseguem impossibilitar o fluxo normal nas principais avenidas da cidade, que está crescendo pra quem mesmo? Seus edifícios imponentes não deixam o ar circular. Chega de liberar alvará para essas empresas que, de tão seguras, só esse ano já respondem por 60 acidentes de trabalho. Hoje morreram mais nove. Socorro! Ninguém aguenta mais!

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Entrega-se um coração



“Como eu preciso ser amada meu Deus, pra parar de dar de bandeja o meu sorriso por aí.”
Você me pediu um texto, eu li essa frase de Tati Bernardi e não vi melhor maneira de começar a escrever sobre o assunto encomendado. A verdade é que às vezes a gente se dá demais pra quem não merece tanto, pra quem não merece nada. E é só por isso que ficamos dando voltas e voltas numa roleta, na qual a sorte nunca está em nossas mãos. OK, a gente nunca sabe quem merece ou não, não temos bola de cristal, mas, de vez em sempre gastamos bala com quem não vale nem mesmo um tiro de festim. Ainda que seja fácil permanecer gelada e distante por um tempo, vez ou outra aparece alguém com essa esquisita mania de não se apegar a ninguém e mexe com tudo por dentro - logo esses - desarrumando nosso coração que já ia aprendendo a não se abrir tão fácil. É a mania de entregar a chave do peito pra quem nunca tem vontade de estar disponível. Mania de quebrar a cara, é isso que a gente tem. Mas, vá entender a vida? A gente não se cansa de colar coração estilhaçado e entregar novinho em folha pra mais um quebrar de novo. Quem sabe um dia a gente aprende – caso exista - um jeito de amar direito?

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Não é estupro se for na Globo

Um ótima análise de como a Globo continua sendo onipotente.

Por  João Márcio 


"Há alguns meses a arroba mais influente do Twitter, como Rafinha Bastos gosta de ser chamado, foi duramente criticado por fazer uma piada sobre estupro dizendo que “mulher feia quando é estuprada deveria agradecer”. Além dos ataques no Twitter, o Ministério Público decidiu investigá-lo por conta da piadinha desrespeitosa e de péssimo gosto. Nada mais justo. Estupro ou qualquer outro tipo de abuso sexual é algo nojento e criminoso. Além disso, uma “piada” como essa fere a dignidade de quem já passou por essa situação e dos seus familiares. Eu tenho um caso de estupro na família e me sinto ofendido quando vejo alguém banalizando algo tão grave.

Paralelo a tudo isso, a nova sensação do sempre engraçadíssimo e inovador Zorra Total [/ironia] conta da história de uma transexual e sua amiga feia que andam em um metrô lotado e suas desventuras cotidianas. Tudo isso em meio a um bordão que se popularizou rapidamente: Ai, como eu tô bandida!

O roteiro do quadro não muda: Janete encontra Valéria, elas comentam sobre a cirurgia de mudança de sexo de Valéria, fazem uma brincadeira de “você gosta?” – “gosto” até o infinito que irrita o telespectador e a personagem, Valéria dá meia dúzia de patadas e apelidos em Janete e, por fim, alguém abusa sexualmente de Janete no vagão lotado. Neste momento Valéria, muito debochada, diz pra amiga aproveitar o momento porque não é sempre que uma mulher como ela tem esse tipo de sorte. Ou seja, em meio a todas as claques e clichês que imperam no programa de sábado, ensinamos semanalmente que a mulher não deve reagir ou se ofender caso seja sexualmente abusada, e caso venha a sofrer um estupro, deve se sentir sortuda, pois nenhum homem gostaria de se envolver com uma mulher feia. Percebam que é exatamente a mesma piada que saiu da boca de Rafinha Bastos e foi absurdamente pisoteada. Porém na Globo sua projeção é outra, torna-se benéfico. Ignora-se o fato do desrespeito a dignidade. O pior de tudo: tal quadro alcança hoje 25 pontos no Ibope. Todo sábado a noite o mesmo roteiro ensina às mesmas pessoas que estupros e abusos sexuais são bençãos, e não devem ser denunciados.

Fica a pergunta: Qual a diferença do estupro de Rafinha Bastos e do estupro de Valéria e Janete? Nenhuma, salvo o poder de penetração da mensagem. Enquanto Rafinha atende a um público mais “elitizado” socio-culturalmente (afinal, ele é defensor do tal ‘humor inteligente’, apesar dos quilos de preconceito), o Zorra Total vai de encontro com um povo que provavelmente não teve acesso a informação e que utiliza na maioria das vezes a televisão como seu quadro negro involuntário. Os quadros subsequentes colocam a mulher como unicamente uma fêmea, um objeto sexual, ridicularizam o fato Presidência do Brasil estar nas mãos de uma mulher e passam uma hora semanal fazendo o retrógrado humor da mulher de pouca roupa, erotizando o telespectador. Esse é o mesmo programa que ensina que estupro é o novo ‘casar e ter filhos’. É um humor machista e misógino. Eu sinceramente não acho a menor graça dessa bandidagem da Valéria.

Aos que não sabem: hoje no Brasil, 43% das mulheres brasileiras sofrem violência doméstica; uma mulher é violentada a cada 12 segundos; a cada duas horas uma mulher é assassinada. E você vai continuar rindo disso? "

sábado, 30 de julho de 2011

Para onde vai?

Onde vai parar nosso encantamento quando deixa de nos consumir um sentimento por alguém? Para que terra distante voam as borboletas que fazem revoadas em nosso estômago toda vez que somos postos de frente a pessoa desejada? Para que noites migram os sonhos que povoam as madrugadas febris dos seres apaixonados? Em que lugar calam-se os ecos das juras de amor eterno? As visões que temos ao andar na rua e sentir o perfume da pessoa a qual gostaríamos de ter, se perdem por onde? Em que praia morre o desejo incontrolável de largar qualquer coisa nesse mundo para simplesmente estar seja onde for com aquela pessoa? Como somem dos calendários os dias sem fim na ausência do coração ansiado? Em que matéria se transforma todo o sentimento que carregamos por um tempo dentro do nosso peito? Para onde viajam os pensamentos que perturbam a cabeça daqueles que supõem amar? Onde finda a inexplicável vontade que move a paixão?

domingo, 24 de julho de 2011

À Miss Amy Winehouse



"É tão estranho
Os bons morrem jovens
Assim parece ser
Quando me lembro de você
Que acabou indo embora
Cedo demais"

Renato Russso

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Porque Vale Tudo em vez de Insensato Coração

Odete Roitman e Mária de Fátima, principais personagens de ValeTudo

Eu já nem lembro quanto tempo fazia que eu não acompanhava uma telenovela. É bem verdade que, ultimamente, o computador está muito mais presente em meus hábitos cotidianos do que a televisão. E, também por esse motivo tenho me afastado cada vez mais das tramas das seis, das sete, das oito e agora, das onze.

Porém, mesmo passando cerca de 8 horas por dia diante do computador, foi irresistível nos últimos meses que eu acompanhasse, graças ao Canal Viva, a reprise de um dos maiores clássicos da teledramaturgia brasileira: Vale Tudo. A reapresentação da consagrada história fez um sucesso inacreditável não só na TV, como também no twitter. Prova disto é o fato de que na madrugada em que foi exibido o assassinato da principal personagem da trama, Odete Roitman, seu nome foi parar nos Trending Topics, rememorando o sucesso causado pela cena quando exibida pela primeira vez na noite de Natal de 1988.


Mas porque Vale Tudo – salvas as proporções desses 23 anos - voltou a ser uma febre nacional? Choveram artigos e reportagens na internet nos últimos meses falando sobre esse fenômeno e a resposta é de uma simplicidade absurda: a trama assinada por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères é mais atual do que qualquer coisa que passa na televisão atualmente.

Essa mania adquirida nos últimos anos de fazer novela que culturalmente só pode representar seres de outro planeta faz com que eu não consiga passar cinco minutos suportando ver as cenas da vingança de Norma em Insensato Coração (que por sinal também é de Gilberto Braga). É muita falta de senso da realidade. Capítulo após capítulo uma porção de sandices sem a menor identidade exibidas em centenas de telas com hight definition

Norma e Léo, os vilões (?) de Insensato Coração

Houve tanta evolução tecnólogica no modo de fazer novela, mas, em compensação os autores desaprenderam a escrever bons textos. É muito beijo e muita bunda pra pouco roteiro. Isso para não falar na (falta de) qualidade dos atores. Não aguento mais ver tanta loira botocada jogando cabelo. Os veteranos estão de saco cheio e os novatos querem apenas mostrar que são lindos. Haja paciência!

Ver Vale Tudo – já que a primeira vez que a novela passou eu tinha apenas 2 anos – foi uma oportunidade de ter certeza que nesse país tudo pode ficar pior do que está. Se poucos anos após o fim  do Regime Militar a Rede Globo era capaz de levar aos lares brasileiros um texto contestador, realista e atemporal, porque que agora que o Brasil é “um país de todos” é tão impossível fazer algo minimamente plausível?


Se as novelas dizem muito sobre a sociedade na qual estão inseridas – como dizem os estudiosos da área – que porra de sociedade é essa que veta beijo gay e sonha com uma mulher robotizada em pleno século XXI. Ai que vergonha eu sinto desse “meu tempo”!

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Se perder

Era natural que eles se perdessem um do outro. Sim, tinha sido incrível, fantástico e inacreditavelmente bom, mas era natural que depois de um tempo cada um seguisse seu caminho. Deixando para trás tardes, noites e manhãs. Guardando apenas as lembranças dos cheiros e dos gostos e dos olhares. Era natural que fosse assim. Mas não foi. Não foi mesmo. Logo ela estava sentada a lembrar de cada palavra dita por ele. Sílaba por sílaba sussurrada em seu ouvido. A boca quente e os corpos cansados, tudo inexplicavelmente guardado em um compartimento de fácil acesso em sua memória. Pensar que o mundo é tão vasto e deveria ser tão mais fácil se perder de alguém. E ainda mais fácil seria achar outra pessoa. E há quem fique como um pássaro numa gaiola aberta, que está livre mais não voa. Lembra, lembra, até que não aguenta mais e tem vontade de sair correndo para reviver aquilo tudo de novo. Pronta para se entregar e novamente ter que se perder. Porque se perder é o que é mesmo natural.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Medo de ser gente

É incrível como esse jeito atual de viver em sociedade transformou a minha criança corajosa em uma adulta cheia de temores. Eu nunca fui uma menina medrosa, sempre dormi no escuro, topava ficar em casa sozinha, brigava com qualquer menina ou menino no colégio, não achava que o velho do saco ou a mulher da trouxa iriam me pegar se eu fizesse algo errado e caía na risada vendo filmes de terror. Talvez a maneira de criar filhos da minha mãe – que nunca optou pela pedagogia do medo – tenha feito com que eu crescesse assim, um tanto destemida apesar de responsável e respeitosa. 

Mas aí a gente cresce e se joga num mundo cheio de tanta miséria e mentira que fica difícil meter as caras sem temer. Eu não falo só do medo de ser assaltada, estuprada ou decapitada. Não é só a vida urbana marcada por desigualdades gritantes que se traduzem, dentro tantas outras maneiras, na violência. É verdade que isso também levou boa parte da minha segurança da infância. Porém, isso é passível de solução mediante um comprometimento do governo e da sociedade civil, para que todos possam ter acesso ao mínimo e deixemos de produzir crianças para serem cooptadas pela marginalidade.

O que me assusta também é que existe, hoje, um medo imenso e monstruoso do outro. De repente o mundo pirou e se tornou simplesmente impossível acreditar e, principalmente, confiar no ser humano. As pessoas deixaram de ser pessoas e viraram personagens esquisitos que confundem nossas cabeças. Pelo menos a minha. E isso me faz ter medo. Muito medo. Os valores, os conceitos, as noções, tudo me parece incompreensível.

Vivemos de sobressalto. É muita inveja, muito egoísmo, muita falsidade, muita falta de consideração, de amizade, de amor, de respeito. É muita falta de tudo. E ainda a amarga impressão de estar sozinho ou reduzido a uma ilha de sentimentos um pouco mais “humanos”. Se você se preocupa com os outros, não mente e não quer tirar proveito de tudo, vira um ser extraterrestre, um alienígena. O mundo é dos espertos, dos que enganam os outros por mais tempo, dos que sabem tirar vantagem. Como assim? É tudo muito louco.

Às vezes acho que caminhamos para trás, para o tempo em que nós morávamos em cavernas e brigávamos de quatro no meio do mato por um pedaço de comida. Um tempo no qual cada um só lutava pela sua sobrevivência, sem se preocupar com as vontades ou as necessidades alheias. Estamos retrocedendo. E se ser gente é isso, eu tenho é medo de ser gente.

terça-feira, 12 de julho de 2011

A revolução do próprio umbigo

Ontem li um texto no blog de Clarissa Corrêa que falava um pouco sobre um assunto que há muito tempo quero escrever: o quanto a internet - em especial as redes sociais - tem tirado dos seres humanos a dimensão de que eles não são o centro do universo. É a revolução do próprio umbigo.

Enquanto Clarissa abordava a questão de que hoje não basta só viver é preciso expor o que se vive na internet, eu vou além e digo que as pessoas estão guiadas pela sensação de que é preciso dar satisfação da sua vida ao resto da humanidade, sempre. O fim do relacionamento, o parto da irmã, o calote dado por alguém, o churrasquinho pra íntimos na casa da sogra ou o dia entediante no trabalho, tudo precisa ser postado o tempo inteiro sem parar.

É incrível como aquela pessoa acha que você precisa saber que ela está indo malhar, comprando um novo notebook, tomando Activia ou estudando semiótica. As pessoas não vivem suas vidas, elas twittam suas vidas. A existência delas se distribui em 140 caracteres ao longo do dia. As pessoas comem, cagam, andam  com seus smartphones em mãos porque acham que aquela informação de que elas estão comendo, cagando e andando interessa a toda a web. É de lascar!

Ah e o facebook? Se Mark Zuckerberg fosse cobrar aluguel de todas as pessoas que “moram” no facebook, sua fortuna seria simplesmente triplicada. E quando eu digo "moram" é porque tem gente que parece não ter vida para além daquela rede. É tanto álbum, tanto vídeo, tanto link, tanto joguinho imbecil, tanta gente que não te conhece respondendo pergunta sobre você e tanto “o que você está pensando agora” que enlouquece qualquer um. As pessoas começaram a agir como no Orkut, parece que elas criam fotos, eventos e etc, só pra ter o que atualizar em seus perfis. E há quem viva a espera da mensagem de que fulano de tal está em um relacionamento sério ou tem 50 novas fotos. Tem “amigo” que faz você se arrepender de ter o adicionado  daqui até a eternidade. Não me marque em uma foto que eu não estou, não me convide pra um evento que eu não vou e definitivamente eu não vou aceitar sua solicitação para passar meus dias construindo uma cidade imaginária, porque eu fazia isso quando tinha doze anos.

Talvez o egocentrismo tenha achado na internet o terreno ideal para se proliferar. A dúvida é se estamos andando para frente ou para trás, ao nos tornarmos avatares de nós mesmos nesse mundinho que cabe dentro da tela de um iPhone e no qual, só existe quem está lá.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Eu

" Eu sou sim a pessoa que some, que surta, que vai embora, que aparece do nada, que fica porque quer, que odeia a falta de oxigênio das obrigações, que encurta uma conversa besta, que estende um bom drama, que diz o que ninguém espera e salva uma noite, que estraga uma semana só pelo prazer de ser má e tirar as correntes da cobrança do meu peito. Que acha todo mundo meio feio, meio bobo, meio burro, meio perdido, meio sem alma, meio de plástico, meia bomba. E espera impaciente ser salva por uma metade meio interessante que me tire finalmente essa sensação de perna manca quando ando sozinha por aí, maldizendo a tudo e a todos. Eu só queria ser legal, ser boa, ser leve. Mas dá realmente pra ser assim? " 

Tati Bernardi 

domingo, 10 de julho de 2011

Os acomodados

Acredito eu que o comodismo é da natureza ser humano. Uns mais outros menos, mas todos nós somos um pouco acomodados, principalmente quando a situação nos é favorável. E mais ainda quando estamos falando sobre relacionamentos. Que preguiça nós temos de mexer em nossos namoros, noivados, casamentos nem se fala. Ficamos ali entediados, limitados, às vezes bem infelizes, mas acomodados. Somos preguiçosos. Desanimamos-nos só de pensar em como seria conhecer uma nova pessoa e ter que passar por aquela fase do barzinho quando você não tem nada para dizer e nem mesmo onde por as mãos, do jantar, na primeira noite de sexo super meia boca, depois conhecer a família, depois conhecer a turma da faculdade, a turma do trabalho, a turma do caralho a quatro. Canso só de citar. Ficamos presos no atoleiro de relacionamentos falidos, sem amor, sem respeito, sem companheirismo, sem sexo, sem nada, pelo medo, pela preguiça ou pela covardia. Vamos afundando como em areia movediça deixando de sermos nós pelos outros ou porque mexer em tudo isso é muito cansativo. Não nos desvinculamos porque vai ser difícil, porque vai ser trabalhoso, porque a outra pessoa não vai aceitar, porque não queremos sair como sacanas. Vamos nos habituando e percebemos que é mais prático perdoar uma coisinha ali, fingir que não viu outra aqui, pedir desculpas mesmo estando certo, fazer que não entendeu e correr pra o abraço. Nós, as pessoas, assumindo, na maioria das vezes, a inércia como nosso estado natural.

domingo, 3 de julho de 2011

Matando tradições

Será impressão minha ou anda em expansão um plano para liquidar as chamadas Festas de Largo de Salvador? Não sei se graças ao governador carioca ou se pelo prefeito bobão nascido em uma cidade que só tem espertos – Feira de Santana – a maior data cívica do ano, o 2 de julho, virou um arremedo de comemoração.

A festa que marca uma das mais efetivas lutas pela independência (?) do Brasil, na qual, se não me falha a memória da infância, íamos todos às ruas sacudindo bandeirinhas do estado e do país para ver passar cabocla e o caboclo, num desfile de tradição e emoção, hoje em dia nem de longe lembra isso.

O feriado do 2 de julho, anda sendo dividido em duas partes: o desfile da hipocrisia protagonizado por um sem números de políticos abafados para exibir suas rechonchudas panças nas câmeras das principais emissoras provando a seus eleitores que eles de vez em quando levantam suas bundas dos gabinetes, jatinhos e iates e vêm na rua prestigiar seu próprio prestígio de conseguirem se reeleger ano após ano. A outra parte é o show de esculhambação de um povo que não vê sentido em data nenhuma e enxerga qualquer festa na rua apenas como mais uma oportunidade de sair para encher a cara de latões e latinhas de cerveja, emporcalhar a cidade e protagonizar pancadarias, até a polícia aparecer cacetando todo mundo feito bicho.

Nem o sol, declamado nos versos do hino a esta data, vem brilhar mais. É uma conspiração? Desde que me entendo por gente, é quase que lei que esse dia nasça e permaneça realmente ensolarado e, nem isso, eu vi ontem. 

Andando no nada para lugar nenhum, pessoas que ainda buscam um resto de qualquer coisa que represente o que um dia foi uma festa que orgulhava qualquer baiano. A festa anda tão desvalorizada que nem o trânsito está sendo modificado como antes. Assim, passam em meio a um ou dois grupos de samba que ainda resistem à eliminação da tradição, um carro de lixo, um ônibus cheio de pessoas que não querem ou não podem “festejar” e nem sei quantos carros particulares. 2 de julho, quem te viu, quem te vê. Acorde meu filho, porque estão querendo acabar você.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Na vida real

Tem gente que acha que vai encontrar um príncipe, uma pessoa incrível numa baladinha ou na sala de espera do dentista ou quem sabe na fila do banco. Alguém com os mesmos gostos, sensível e cheio de amor pra dar, que vai começar a fazer planos de casamento no segundo mês de romance. Na realidade, o cara que te beijou na balada nunca liga no dia seguinte - porque quase sempre está sem bônus no celular -, não combina com você nada, tem amigos chatos pra caralho e leva até um ano para resolver assumir que tá namorando.

Tem gente que sonha com um amor de novela. Desses que acordam sem mau hálito e não tem nenhuma conta pra pagar. Desses que só precisam exterminar a vilã que insiste em jogar areia no brinquedo do casalzinho. Na vida real, a gente quebra o pau, se apaixona por quem não tá nem aí, é traído, briga por causa da torneira aberta e da lâmpada acesa que tanto pesam no bolso no fim do mês. 

Ou a sogra é um saco, ou nossa mãe implica ou existe a praga da ex. Vocês vão ter que começar a economizar dinheiro, ele tem ciúme das suas amigas, você quer discutir a relação e ele está mais preocupado nas cinco apostilas do concurso pra ler. E ele precisa parar de fumar e você precisa emagrecer.

Acorda, gente! Tem coisas que não ultrapassam a tela da Rede Globo, sonhos que só servem para render dinheiro às bilheterias dos filmes de comédia romântica. E no mundo da gente de carne e osso a coisa não funciona bem assim. Na vida real, a gente se estrepa, ama e não pode deixar pra ser feliz só no final.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

O circo

No palco há um homem. Ensopado por uma mistura de óleo e suor que lava seu corpo todo, ele canta um refrão inteligível, posso jurar que ele está falando um dialeto do tempo em que andávamos de quatro, porque não há uma só palavra compreensível a minha audição. Ele está vestido com uma lycra que, propositalmente bastante justa, mostra o que um combo de anabolizantes importados aplicados em doses cavalares é capaz de fazer no corpo humano. Se duvidar, a quantidade de bomba por cada milímetro cúbico do sangue dele o leva a ser consultado por um veterinário, em vez de um clínico geral. Naquele momento o homem se sente um verdadeiro rei, ovacionado por seu público. O público é composto por pessoas que idolatram as letras cantadas pelo homem. Mulheres ansiosas por uma chance de subir ao palco para dançar ao seu lado, homens mais interessados em mostrar sua masculinidade (estilo era das cavernas) se engalfinhando 90% do tempo sem nenhum motivo aparente e sendo conduzidos a socos e pontapés do recinto por profissionais que entendem que fazer segurança significa: proteger artistas, enxotar fãs e espancar arruaceiros, não necessariamente nessa ordem. Há também os empresários geralmente seguidos por uma legião de bajuladores que os tratam como se fossem a pessoa mais rica do mundo só porque eles podem ter um carro de R$ 70 mil e duas blusas da Ralph Lauren. Caminham dando ordens e fazendo conchavos, se sentem os verdadeiros donos dos “artistas”. E tratam de incutir em suas cabeças que eles não irão a lugar nenhum sem seu dinheiro. Enquanto isso, beirando o palco, uma mistura de subcelebridades decadentes e emergentes, que vão desde donos de casas de espetáculo falidas até donos de site de downloads musicais. Comportam-se como príncipes de um reino que só existe na cabeça dos que são iguais a eles. Quando você os encontra no shopping ou no barzinho eles não são absolutamente ninguém, mas ali naquele perímetro se acham o máximo. Dividem espaço com mulheres que, assim como eles, jamais terão significado algum para além do backstage. Montadas em sapatos de salto alto que torturam até suas almas, dançam simulando empolgação com sorrisos congelados, exibindo-se para homens que as tratam como pedaços de carne desses que você come, arrota e dois dias depois nem lembra que comeu. Maquiadíssimas, com os cabelos cada dia mais lisos e loiros, usam roupas que valorizam cada centímetro da magreza conseguida na base do custe o que custar. E topam esperar com fome, tendo que fazer xixi em banheiros imundos de casas de shows que não passam de arremedos de galpões e prédios velhos, no frio, por horas até serem convocadas ou dispensadas. Cada um cumprindo religiosamente seu papel como num circo com direito a palhaços, engolidores de espadas, animais e seus devidos adestradores.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

São João, Xangô Menino

Composição: Caetano Veloso/Gilberto Gil

Ai, Xangô, Xangô menino
Da fogueira de São João
Quero ser sempre o menino, Xangô
Da fogueira de São João
Céu de estrela sem destino
De beleza sem razão
Tome conta do destino, Xangô
Da beleza e da razão
Viva São João
Viva o milho verde
Viva São João
Viva o brilho verde
Viva São João
Das matas de Oxóssi
Viva São João
Olha pro céu, meu amor
Veja como ele está lindo
Noite tão fria de junho, Xangô
Canto tanto canto lindo
Fogo, fogo de artifício
Quero ser sempre o menino
As estrelas deste mundo, Xangô
Ai, São João, Xangô Menino
Viva São João
Viva Refazenda
Viva São João
Viva Dominguinhos
Viva São João
Viva qualquer coisa
Viva São João
Gal canta Caymmi
Viva São João
Pássaro proibido
Viva São João

terça-feira, 21 de junho de 2011

Gordura, pra que te quero?

Eu: Boa tarde, meu nome é Daza e eu estou há um dia sem comer pão.
Todos: Parabéns, Daza!

Começa sempre assim. Eu corto o pão, corto a farinha, corto o açúcar, corto a cerveja, se duvidar eu cortaria até minha mão direita pra ficar mais difícil comer as coisas, mas, inevitavelmente só dura o tempo suficiente até o coração - que a essa altura deve estar hipertenso – vencer a razão.

Minhas dietas geralmente começam em algum lugar do meu subconsciente enquanto estou no shopping devorando um milk-shake de Ovomaltine de 500 ml da Bob’s depois de me sentir frustrada por não ter conseguido uma blusa ou vestido que dê em mim e penso: ok Daza, já chega, você precisa emagrecer! Daí eu me dirijo até a farmácia mais próxima e me peso e saio pasma e mal humorada – tá certo, essa parte do mal humorada nem é novidade – em direção a um regime rígido. 

E aí, quando eu decido, está decidido e vale tudo: morrer de fome, me encher de sibutramina, gastar dinheiro com herbalife, morar dentro da Mundo Verde, transformar o Activia em item de primeira necessidade, tomar chá em cápsula (o que é ao mesmo tempo o cúmulo da preguiça e o fim da picada)malhar, caminhar, tomar aveia 365 vezes ao dia, ler sobre dietas, conversar sobre dietas, me pesar every day  and every night. 

Durante essas dietas, a minha vida (anti) social acaba sofrendo um déficit, já que, eu não sei por que, mas quando você está de dieta num grupo de amigas que nunca estão satisfeitas com o próprio peso, aquele seu esforço acaba se tornando um desconforto para todas elas e começam a tecer justificativas sobre o porquê não estão de dieta também. Calma, ladies, eu não estou querendo coagir ninguém a emagrecer. Cada um que sabe de si.

Mas nada abala meus ideais. Topo ir pra caruru e só comer a pipoca, ou passar horas num barzinho me empapuçando de suco de laranja sem açúcar. Por incrível que pareça, o que me faz sair da dieta é o resultado dela. Basta perder cinco quilos. Começar a receber elogios. Me sentir feliz. Tentar acreditar que se eu continuar eu perco mais dez e chego onde eu quero. E abrir mão só por um fim de semanazinho, porque eu mereço, né? Lá no resto de sanidade da minha mente aparece um letreiro luminoso com letras garrafais piscando com a frase: NÃO FAÇA ISSO. Mas, eu sou mesmo uma idiota e faço. Eu saio da dieta, eu me esqueço do remédio, das frutas, dos grelhados, do vestido que já estava quase cabendo, de todo o meu sacrifício e meto o pé na jaca. E aí fudeu! Não tem mãe, amiga ou namorado que me convença a voltar ao regime. É uma saída sem retorno.

Para justificar vale jogar a culpa no natal, no são joão, no carnaval, na páscoa ou na falta de todos eles: “voltei a engordar porque não tinha nada pra fazer”. Ainda que eu odeie dar satisfação à sociedade, o protocolo social me obriga a ter uma resposta amável quando sou questionada até mesmo sobre o metabolismo do meu corpo. Eu não sei quem inventou que só por ser gorda eu tenho que ter uma justificativa pra isso e mais, eu tenho que estar sempre disposta a expor essa justificativa. Não seria mais prático se as pessoas parassem de perguntar por que a gente engorda? Saco! 

 E então eu me irrito. Espero que o resto do mundo e suas convenções se explodam só porque algo dentro de mim me leva a engordar duas vezes mais comendo duas vezes menos que minha irmã. Sinto raiva por ter passado 90% do tempo das aulas de Educação Física na escola batendo papo em vez de me interessar por algum esporte, tenho vontade de renascer numa família macrobiótica e com alergia a todas as delícias da culinária baiana que minha mãe faz tão bem. Porém, não dá. E recomeça tudo de novo, sabe deus até quando. Dentre todas as dúvidas que permeiam minha existência me incomoda tanto não saber responder: gordura, pra que te quero?

sexta-feira, 17 de junho de 2011

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Eu não acredito na morte como fim e sim como passagem. Por mais que o universo seja enorme e a vida seja uma coisa meio inexplicável, ainda acho que tudo isso aqui é muito pouco. Mas que coisa louca é essa que a morte faz na cabeça da gente que fica aqui, atônito, como quem não sabe onde por as mãos, toda vez que alguém passa para outro lugar?  Se alguém me perguntar se eu tenho medo da morte, minha resposta é não. Se alguém me perguntar se eu tenho medo de que alguém muito próximo de mim morra, minha resposta é sim, sempre. Por mais bem resolvida que a gente seja espiritualmente, nunca é fácil. Eu não sei confortar pessoas que perderam alguém, eu não sei o que dizer. Talvez por inexperiência, talvez pelo simples fato de não me cair bem o “sinto muito”. A gente nunca sente tanto quanto as pessoas que queremos consolar. Meu silêncio é também o pouco de respeito com uma dor alheia que, irremediavelmente, nunca poderia doer igual em mim. As religiões tentam dar conta de nossas dúvidas a respeito de toda essa viagem aqui e, ainda nos inquieta inevitavelmente ser afastado das pessoas que amamos. Mesmo que isso seja temporário, mesmo que um dia a gente vá se reencontrar, mesmo que exista data e uma missão a se cumprir. Seja aquele que padece com alguma doença, ou quem nos é tirado de surpresa e tão precocemente, nós, humanos, adultos, sabedores dessa espécie de fim, ainda não conseguimos engolir muito bem isso. É tão natural como o nascer e ao mesmo tempo tão inadmissível. Sofrer por isso é normal, faz parte, mas sobrevivemos e passa. Porque é possível, porque a vida e a morte estão acontecendo o tempo inteiro a nossa volta. E mesmo com toda a tecnologia, ainda não há nada que nos impeça desse irrefutável golpe do destino. Talvez nunca haja. Aos que ficam é preciso superar e sobreviver. Não dá pra morrer junto. Mesmo sabendo que não é tão simples assim.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Pobre, Antônio!

Ele está há mais de dois mil anos segurando a criança mais importante da Igreja Católica nos braços, sem em nenhum momento poder reclamar de dor nas costas.  Ainda tem que suportar legiões de mulheres desesperadas fazendo as simpatias mais esquizofrênicas e implorando para que ele arranje um macho que queira casar com elas. Ele passa os treze primeiros dias do mês de junho sendo louvado por velhinhas histéricas com voz estridente que, ano após ano, não incrementam nenhum pouco o repertório em sua homenagem. Depois, ele fica esquecido de castigo o resto do ano, de cabeça par baixo, dentro de um copo com água. Assim, o cara só podia ser santo mesmo. Pobre, Antônio!


domingo, 12 de junho de 2011

A invenção do amor


Eu sei. As pessoas vão pensar que eu sou recalcada, invejosa, mal amada, revoltada, desumana e infeliz. Mas, eu não sou. Sinceramente, eu, você, todos nós sabemos que essas datas são uma coisa meramente comercial, que faz nada mais nada menos do que acorrentar as pessoas a obrigações extremamente hipócritas. Esse texto está sendo escrito hoje, mas poderia ter sido escrito no dia das mães, dos pais, no Natal ou em qualquer outra data oca de significado para além da publicidade e do comércio.

Quer saber de uma? Eu só queria ter um namorado hoje se ele pudesse me dar um tablet da Apple, me levar pra comer no Soho e me chamar pra dormir na melhor suíte do Hollywood. Sabe por quê? Porque assim como você e quase todo o resto da humanidade que diz que leva a sério essas datas comemorativas, eu também sou estupidamente consumista, porém, eu só não faço a menor questão de disfarçar. Simples!

Essa história de vamos celebrar o amor e blá, blá, blá é pura palhaçada, né gente? Aposto todo o dinheiro que um dia eu terei como 80% dos casais que eu conheço estão entediados só  de pensar nas filas quilométricas dos cinemas, dos restaurantes, dos motéis; nos shows lotados; nos presentes ruins; na calcinha pequena que incomoda pra caralho; nas declarações cínicas e nas brigas homéricas no final. Porque isso é o 12 de junho de verdade. Porque o amor perfeito tem a medida de um anúncio e o tempo de um spot. Na vida real ele não existe, mas para suportar tudo isso as pessoas necessitam de uma data para pintar o mundo de cor-de-rosa e sair acreditando nele o dia inteiro só porque as lojas precisam vender mais perfumes, jóias, sapatos, ursinhos e camisetas. Ah! Os outros 20% dos casais estão brigados, endividados, ou gratos por estar longe e apenas precisarem simular uma saudadezinha.

O protocolo social me ensina que eu deveria reciclar um namorado velho, tomar uma cervejinha com minhas amigas solteiras ou ficar em casa sofrendo por tudo isso. Mas eu não consigo, não consigo fingir que acredito nesse amor fabricado, engarrafado, parcelado em três vezes sem juros, só pra me sentir gente que nem os outros. Ai Sheldon Cooper, só você me entenderia!