Eu: Boa tarde, meu nome é Daza e eu estou há um dia sem comer pão.
Todos: Parabéns, Daza!
Começa sempre assim. Eu corto o pão, corto a farinha, corto o açúcar, corto a cerveja, se duvidar eu cortaria até minha mão direita pra ficar mais difícil comer as coisas, mas, inevitavelmente só dura o tempo suficiente até o coração - que a essa altura deve estar hipertenso – vencer a razão.
Minhas dietas geralmente começam em algum lugar do meu subconsciente enquanto estou no shopping devorando um milk-shake de Ovomaltine de 500 ml da Bob’s depois de me sentir frustrada por não ter conseguido uma blusa ou vestido que dê em mim e penso: ok Daza, já chega, você precisa emagrecer! Daí eu me dirijo até a farmácia mais próxima e me peso e saio pasma e mal humorada – tá certo, essa parte do mal humorada nem é novidade – em direção a um regime rígido.
E aí, quando eu decido, está decidido e vale tudo: morrer de fome, me encher de sibutramina, gastar dinheiro com herbalife, morar dentro da Mundo Verde, transformar o Activia em item de primeira necessidade, tomar chá em cápsula (o que é ao mesmo tempo o cúmulo da preguiça e o fim da picada)malhar, caminhar, tomar aveia 365 vezes ao dia, ler sobre dietas, conversar sobre dietas, me pesar every day and every night.
Durante essas dietas, a minha vida (anti) social acaba sofrendo um déficit, já que, eu não sei por que, mas quando você está de dieta num grupo de amigas que nunca estão satisfeitas com o próprio peso, aquele seu esforço acaba se tornando um desconforto para todas elas e começam a tecer justificativas sobre o porquê não estão de dieta também. Calma, ladies, eu não estou querendo coagir ninguém a emagrecer. Cada um que sabe de si.
Mas nada abala meus ideais. Topo ir pra caruru e só comer a pipoca, ou passar horas num barzinho me empapuçando de suco de laranja sem açúcar. Por incrível que pareça, o que me faz sair da dieta é o resultado dela. Basta perder cinco quilos. Começar a receber elogios. Me sentir feliz. Tentar acreditar que se eu continuar eu perco mais dez e chego onde eu quero. E abrir mão só por um fim de semanazinho, porque eu mereço, né? Lá no resto de sanidade da minha mente aparece um letreiro luminoso com letras garrafais piscando com a frase: NÃO FAÇA ISSO. Mas, eu sou mesmo uma idiota e faço. Eu saio da dieta, eu me esqueço do remédio, das frutas, dos grelhados, do vestido que já estava quase cabendo, de todo o meu sacrifício e meto o pé na jaca. E aí fudeu! Não tem mãe, amiga ou namorado que me convença a voltar ao regime. É uma saída sem retorno.
Para justificar vale jogar a culpa no natal, no são joão, no carnaval, na páscoa ou na falta de todos eles: “voltei a engordar porque não tinha nada pra fazer”. Ainda que eu odeie dar satisfação à sociedade, o protocolo social me obriga a ter uma resposta amável quando sou questionada até mesmo sobre o metabolismo do meu corpo. Eu não sei quem inventou que só por ser gorda eu tenho que ter uma justificativa pra isso e mais, eu tenho que estar sempre disposta a expor essa justificativa. Não seria mais prático se as pessoas parassem de perguntar por que a gente engorda? Saco!
E então eu me irrito. Espero que o resto do mundo e suas convenções se explodam só porque algo dentro de mim me leva a engordar duas vezes mais comendo duas vezes menos que minha irmã. Sinto raiva por ter passado 90% do tempo das aulas de Educação Física na escola batendo papo em vez de me interessar por algum esporte, tenho vontade de renascer numa família macrobiótica e com alergia a todas as delícias da culinária baiana que minha mãe faz tão bem. Porém, não dá. E recomeça tudo de novo, sabe deus até quando. Dentre todas as dúvidas que permeiam minha existência me incomoda tanto não saber responder: gordura, pra que te quero?
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