quarta-feira, 29 de junho de 2011

Na vida real

Tem gente que acha que vai encontrar um príncipe, uma pessoa incrível numa baladinha ou na sala de espera do dentista ou quem sabe na fila do banco. Alguém com os mesmos gostos, sensível e cheio de amor pra dar, que vai começar a fazer planos de casamento no segundo mês de romance. Na realidade, o cara que te beijou na balada nunca liga no dia seguinte - porque quase sempre está sem bônus no celular -, não combina com você nada, tem amigos chatos pra caralho e leva até um ano para resolver assumir que tá namorando.

Tem gente que sonha com um amor de novela. Desses que acordam sem mau hálito e não tem nenhuma conta pra pagar. Desses que só precisam exterminar a vilã que insiste em jogar areia no brinquedo do casalzinho. Na vida real, a gente quebra o pau, se apaixona por quem não tá nem aí, é traído, briga por causa da torneira aberta e da lâmpada acesa que tanto pesam no bolso no fim do mês. 

Ou a sogra é um saco, ou nossa mãe implica ou existe a praga da ex. Vocês vão ter que começar a economizar dinheiro, ele tem ciúme das suas amigas, você quer discutir a relação e ele está mais preocupado nas cinco apostilas do concurso pra ler. E ele precisa parar de fumar e você precisa emagrecer.

Acorda, gente! Tem coisas que não ultrapassam a tela da Rede Globo, sonhos que só servem para render dinheiro às bilheterias dos filmes de comédia romântica. E no mundo da gente de carne e osso a coisa não funciona bem assim. Na vida real, a gente se estrepa, ama e não pode deixar pra ser feliz só no final.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

O circo

No palco há um homem. Ensopado por uma mistura de óleo e suor que lava seu corpo todo, ele canta um refrão inteligível, posso jurar que ele está falando um dialeto do tempo em que andávamos de quatro, porque não há uma só palavra compreensível a minha audição. Ele está vestido com uma lycra que, propositalmente bastante justa, mostra o que um combo de anabolizantes importados aplicados em doses cavalares é capaz de fazer no corpo humano. Se duvidar, a quantidade de bomba por cada milímetro cúbico do sangue dele o leva a ser consultado por um veterinário, em vez de um clínico geral. Naquele momento o homem se sente um verdadeiro rei, ovacionado por seu público. O público é composto por pessoas que idolatram as letras cantadas pelo homem. Mulheres ansiosas por uma chance de subir ao palco para dançar ao seu lado, homens mais interessados em mostrar sua masculinidade (estilo era das cavernas) se engalfinhando 90% do tempo sem nenhum motivo aparente e sendo conduzidos a socos e pontapés do recinto por profissionais que entendem que fazer segurança significa: proteger artistas, enxotar fãs e espancar arruaceiros, não necessariamente nessa ordem. Há também os empresários geralmente seguidos por uma legião de bajuladores que os tratam como se fossem a pessoa mais rica do mundo só porque eles podem ter um carro de R$ 70 mil e duas blusas da Ralph Lauren. Caminham dando ordens e fazendo conchavos, se sentem os verdadeiros donos dos “artistas”. E tratam de incutir em suas cabeças que eles não irão a lugar nenhum sem seu dinheiro. Enquanto isso, beirando o palco, uma mistura de subcelebridades decadentes e emergentes, que vão desde donos de casas de espetáculo falidas até donos de site de downloads musicais. Comportam-se como príncipes de um reino que só existe na cabeça dos que são iguais a eles. Quando você os encontra no shopping ou no barzinho eles não são absolutamente ninguém, mas ali naquele perímetro se acham o máximo. Dividem espaço com mulheres que, assim como eles, jamais terão significado algum para além do backstage. Montadas em sapatos de salto alto que torturam até suas almas, dançam simulando empolgação com sorrisos congelados, exibindo-se para homens que as tratam como pedaços de carne desses que você come, arrota e dois dias depois nem lembra que comeu. Maquiadíssimas, com os cabelos cada dia mais lisos e loiros, usam roupas que valorizam cada centímetro da magreza conseguida na base do custe o que custar. E topam esperar com fome, tendo que fazer xixi em banheiros imundos de casas de shows que não passam de arremedos de galpões e prédios velhos, no frio, por horas até serem convocadas ou dispensadas. Cada um cumprindo religiosamente seu papel como num circo com direito a palhaços, engolidores de espadas, animais e seus devidos adestradores.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

São João, Xangô Menino

Composição: Caetano Veloso/Gilberto Gil

Ai, Xangô, Xangô menino
Da fogueira de São João
Quero ser sempre o menino, Xangô
Da fogueira de São João
Céu de estrela sem destino
De beleza sem razão
Tome conta do destino, Xangô
Da beleza e da razão
Viva São João
Viva o milho verde
Viva São João
Viva o brilho verde
Viva São João
Das matas de Oxóssi
Viva São João
Olha pro céu, meu amor
Veja como ele está lindo
Noite tão fria de junho, Xangô
Canto tanto canto lindo
Fogo, fogo de artifício
Quero ser sempre o menino
As estrelas deste mundo, Xangô
Ai, São João, Xangô Menino
Viva São João
Viva Refazenda
Viva São João
Viva Dominguinhos
Viva São João
Viva qualquer coisa
Viva São João
Gal canta Caymmi
Viva São João
Pássaro proibido
Viva São João

terça-feira, 21 de junho de 2011

Gordura, pra que te quero?

Eu: Boa tarde, meu nome é Daza e eu estou há um dia sem comer pão.
Todos: Parabéns, Daza!

Começa sempre assim. Eu corto o pão, corto a farinha, corto o açúcar, corto a cerveja, se duvidar eu cortaria até minha mão direita pra ficar mais difícil comer as coisas, mas, inevitavelmente só dura o tempo suficiente até o coração - que a essa altura deve estar hipertenso – vencer a razão.

Minhas dietas geralmente começam em algum lugar do meu subconsciente enquanto estou no shopping devorando um milk-shake de Ovomaltine de 500 ml da Bob’s depois de me sentir frustrada por não ter conseguido uma blusa ou vestido que dê em mim e penso: ok Daza, já chega, você precisa emagrecer! Daí eu me dirijo até a farmácia mais próxima e me peso e saio pasma e mal humorada – tá certo, essa parte do mal humorada nem é novidade – em direção a um regime rígido. 

E aí, quando eu decido, está decidido e vale tudo: morrer de fome, me encher de sibutramina, gastar dinheiro com herbalife, morar dentro da Mundo Verde, transformar o Activia em item de primeira necessidade, tomar chá em cápsula (o que é ao mesmo tempo o cúmulo da preguiça e o fim da picada)malhar, caminhar, tomar aveia 365 vezes ao dia, ler sobre dietas, conversar sobre dietas, me pesar every day  and every night. 

Durante essas dietas, a minha vida (anti) social acaba sofrendo um déficit, já que, eu não sei por que, mas quando você está de dieta num grupo de amigas que nunca estão satisfeitas com o próprio peso, aquele seu esforço acaba se tornando um desconforto para todas elas e começam a tecer justificativas sobre o porquê não estão de dieta também. Calma, ladies, eu não estou querendo coagir ninguém a emagrecer. Cada um que sabe de si.

Mas nada abala meus ideais. Topo ir pra caruru e só comer a pipoca, ou passar horas num barzinho me empapuçando de suco de laranja sem açúcar. Por incrível que pareça, o que me faz sair da dieta é o resultado dela. Basta perder cinco quilos. Começar a receber elogios. Me sentir feliz. Tentar acreditar que se eu continuar eu perco mais dez e chego onde eu quero. E abrir mão só por um fim de semanazinho, porque eu mereço, né? Lá no resto de sanidade da minha mente aparece um letreiro luminoso com letras garrafais piscando com a frase: NÃO FAÇA ISSO. Mas, eu sou mesmo uma idiota e faço. Eu saio da dieta, eu me esqueço do remédio, das frutas, dos grelhados, do vestido que já estava quase cabendo, de todo o meu sacrifício e meto o pé na jaca. E aí fudeu! Não tem mãe, amiga ou namorado que me convença a voltar ao regime. É uma saída sem retorno.

Para justificar vale jogar a culpa no natal, no são joão, no carnaval, na páscoa ou na falta de todos eles: “voltei a engordar porque não tinha nada pra fazer”. Ainda que eu odeie dar satisfação à sociedade, o protocolo social me obriga a ter uma resposta amável quando sou questionada até mesmo sobre o metabolismo do meu corpo. Eu não sei quem inventou que só por ser gorda eu tenho que ter uma justificativa pra isso e mais, eu tenho que estar sempre disposta a expor essa justificativa. Não seria mais prático se as pessoas parassem de perguntar por que a gente engorda? Saco! 

 E então eu me irrito. Espero que o resto do mundo e suas convenções se explodam só porque algo dentro de mim me leva a engordar duas vezes mais comendo duas vezes menos que minha irmã. Sinto raiva por ter passado 90% do tempo das aulas de Educação Física na escola batendo papo em vez de me interessar por algum esporte, tenho vontade de renascer numa família macrobiótica e com alergia a todas as delícias da culinária baiana que minha mãe faz tão bem. Porém, não dá. E recomeça tudo de novo, sabe deus até quando. Dentre todas as dúvidas que permeiam minha existência me incomoda tanto não saber responder: gordura, pra que te quero?

sexta-feira, 17 de junho de 2011

...

Eu não acredito na morte como fim e sim como passagem. Por mais que o universo seja enorme e a vida seja uma coisa meio inexplicável, ainda acho que tudo isso aqui é muito pouco. Mas que coisa louca é essa que a morte faz na cabeça da gente que fica aqui, atônito, como quem não sabe onde por as mãos, toda vez que alguém passa para outro lugar?  Se alguém me perguntar se eu tenho medo da morte, minha resposta é não. Se alguém me perguntar se eu tenho medo de que alguém muito próximo de mim morra, minha resposta é sim, sempre. Por mais bem resolvida que a gente seja espiritualmente, nunca é fácil. Eu não sei confortar pessoas que perderam alguém, eu não sei o que dizer. Talvez por inexperiência, talvez pelo simples fato de não me cair bem o “sinto muito”. A gente nunca sente tanto quanto as pessoas que queremos consolar. Meu silêncio é também o pouco de respeito com uma dor alheia que, irremediavelmente, nunca poderia doer igual em mim. As religiões tentam dar conta de nossas dúvidas a respeito de toda essa viagem aqui e, ainda nos inquieta inevitavelmente ser afastado das pessoas que amamos. Mesmo que isso seja temporário, mesmo que um dia a gente vá se reencontrar, mesmo que exista data e uma missão a se cumprir. Seja aquele que padece com alguma doença, ou quem nos é tirado de surpresa e tão precocemente, nós, humanos, adultos, sabedores dessa espécie de fim, ainda não conseguimos engolir muito bem isso. É tão natural como o nascer e ao mesmo tempo tão inadmissível. Sofrer por isso é normal, faz parte, mas sobrevivemos e passa. Porque é possível, porque a vida e a morte estão acontecendo o tempo inteiro a nossa volta. E mesmo com toda a tecnologia, ainda não há nada que nos impeça desse irrefutável golpe do destino. Talvez nunca haja. Aos que ficam é preciso superar e sobreviver. Não dá pra morrer junto. Mesmo sabendo que não é tão simples assim.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Pobre, Antônio!

Ele está há mais de dois mil anos segurando a criança mais importante da Igreja Católica nos braços, sem em nenhum momento poder reclamar de dor nas costas.  Ainda tem que suportar legiões de mulheres desesperadas fazendo as simpatias mais esquizofrênicas e implorando para que ele arranje um macho que queira casar com elas. Ele passa os treze primeiros dias do mês de junho sendo louvado por velhinhas histéricas com voz estridente que, ano após ano, não incrementam nenhum pouco o repertório em sua homenagem. Depois, ele fica esquecido de castigo o resto do ano, de cabeça par baixo, dentro de um copo com água. Assim, o cara só podia ser santo mesmo. Pobre, Antônio!


domingo, 12 de junho de 2011

A invenção do amor


Eu sei. As pessoas vão pensar que eu sou recalcada, invejosa, mal amada, revoltada, desumana e infeliz. Mas, eu não sou. Sinceramente, eu, você, todos nós sabemos que essas datas são uma coisa meramente comercial, que faz nada mais nada menos do que acorrentar as pessoas a obrigações extremamente hipócritas. Esse texto está sendo escrito hoje, mas poderia ter sido escrito no dia das mães, dos pais, no Natal ou em qualquer outra data oca de significado para além da publicidade e do comércio.

Quer saber de uma? Eu só queria ter um namorado hoje se ele pudesse me dar um tablet da Apple, me levar pra comer no Soho e me chamar pra dormir na melhor suíte do Hollywood. Sabe por quê? Porque assim como você e quase todo o resto da humanidade que diz que leva a sério essas datas comemorativas, eu também sou estupidamente consumista, porém, eu só não faço a menor questão de disfarçar. Simples!

Essa história de vamos celebrar o amor e blá, blá, blá é pura palhaçada, né gente? Aposto todo o dinheiro que um dia eu terei como 80% dos casais que eu conheço estão entediados só  de pensar nas filas quilométricas dos cinemas, dos restaurantes, dos motéis; nos shows lotados; nos presentes ruins; na calcinha pequena que incomoda pra caralho; nas declarações cínicas e nas brigas homéricas no final. Porque isso é o 12 de junho de verdade. Porque o amor perfeito tem a medida de um anúncio e o tempo de um spot. Na vida real ele não existe, mas para suportar tudo isso as pessoas necessitam de uma data para pintar o mundo de cor-de-rosa e sair acreditando nele o dia inteiro só porque as lojas precisam vender mais perfumes, jóias, sapatos, ursinhos e camisetas. Ah! Os outros 20% dos casais estão brigados, endividados, ou gratos por estar longe e apenas precisarem simular uma saudadezinha.

O protocolo social me ensina que eu deveria reciclar um namorado velho, tomar uma cervejinha com minhas amigas solteiras ou ficar em casa sofrendo por tudo isso. Mas eu não consigo, não consigo fingir que acredito nesse amor fabricado, engarrafado, parcelado em três vezes sem juros, só pra me sentir gente que nem os outros. Ai Sheldon Cooper, só você me entenderia!

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Fique comigo

Você sabe qual é o perigo? O perigo é que um dia eu descubra que todo esse esforço pra me afastar de você tenha sido em vão. Esse é o perigo. Que daqui a 10 anos, quando eu estiver sentada falando  sobre as coisas da vida, eu não me lembre de você como um qualquer e me passe pela minha cabeça que talvez a gente devesse estar junto nesse momento. Ai como eu odeio errar! O que é mesmo que nós estamos fazendo? Você também não ajuda, hein? E eu vou te culpar, você sabe. Porque você me conhece e sabe exatamente o que está acontecendo nesses longos silêncios cheios de significados e nessa enorme distância que eu insisto em manter e que você insiste em obedecer. Como se você fosse obediente. Você não me engana, usando a obediência para mascarar seu orgulho. Espertinho! E como você sabe, eu vou jogar em você toda a culpa de ter me deixado achar assim com tanta certeza que você não gosta nem um pouquinho de mim. Vou sentir raiva por você não ter simplesmente me segurado e dito: fique comigo. 

terça-feira, 7 de junho de 2011

Dona do nome

Sou fogo e sou água,
Sou a mistura de muitas coisas que abrem, determinam, guiam e finalizam,
Sou aquela que chegou porque deveria e que desde o começo foi temida,
Sou de falar quase sempre e calada sempre assusto,
Sou aquela que nem sempre avisa que vai, mas quase sempre é bem vinda e que para cada um tem uma palavra, pois respeito rua, folha, vento e tudo mais que representa o poder da natureza,
Sou aquela que carrega no nome segredos e o segredo da visão que nem todos têm, eu peço licença e abaixo a cabeça para os que caminham comigo, pois sem eles não sou nada,
Sou aquela que é lembrada, pois não conseguem me esquecer e comando sem saber e muitas vezes sem querer,
Dona do nome, porque do lado do mundo de onde eu venho, ninguém se chama assim em vão.
Estou seguindo como rio ou as chamas, fazendo ou não as coisas acontecerem mesmo quando nelas não ponho as mãos.


domingo, 5 de junho de 2011

Ninguém precisa abraçar uma árvore

Cinco de junho é o dia do meio ambiente. Porém, ninguém se lembra muito bem disso, porque todo mundo está mais preocupado com o fim do semestre, as festas juninas ou essa coisa de Dia dos Namorados. OK, ninguém precisa passar o dia abraçado a uma árvore ou bancar a Brigitte Bardot e largar tudo para salvar as focas. Mas, temos todos obrigação de tentar uma vida minimamente sustentável e de, ao menos, andar a par do que as pessoas maravilhosas que nós elegemos andam decidindo no que diz respeito ao meio ambiente. Porque, caso o mundo não acabe em 2012 - como garantem as profecias – ele se tornará cada dia mais inabitável. 

Em nosso país, por exemplo, onde tudo pode ficar pior do que está, foi autorizada há menos de uma semana a instalação da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. Depois de 20 anos de uma novela repleta de jogo de interesses, o Ibama bateu o martelo e vai sim mandar colocar pra correr das margens do Rio Xingu as populações ribeirinha e indígena (de nem sei quantas etnias), pouco se lixando para sua relação sociocultural com a região. São quase dez mil famílias que ficarão sem eira nem beira em prol do progresso não se sabe necessariamente de quem. E ainda dizem que isso aqui é uma democracia. Que beleza!

A degradação dos recursos naturais e a “modernização” que tem entupido a cidades como Salvador, de fumaça e condomínios fechados, são outros belos exemplos do que está se transformando o nosso meio ambiente. Eu ainda nem cheguei aos 30 anos e já vi minha cidade passar por uma mutação que beira a insanidade. Uma vez que, eu duvido muito que estejam estudando a fundo a viabilidade e os impactos em longo prazo de determinadas obras que vão brotando aqui e ali.

Eu não quero me mudar pra o Capão e viver de alimentos colhidos no meu quintal. Mas, se um pouco de consciência pode ser minha salvação no meio desse caos, vamos tentar pensar melhor no que fazemos com o resto de nossas vidas da natureza e dos recursos que temos, pensar em quem elegemos para promover as políticas ambientais, educar melhor as próximas gerações. Pois se a gente sobreviver a 2012, pode ter certeza que a coisa vai ficar bem mais difícil.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Um país anti-mulheres

Eu sou feminista. Não de empunhar bandeiras, declamar hinos ou caminhar por horas em passeatas. Mas de discutir com argumentos suficientemente inteligentes  seja lá com quem for sobre as conquistas e lutas das mulheres em prol de seus direitos. E, talvez por ser feminista eu me sinta incomodada diante de determinados fatos que esfregam na minha cara o quanto “anti-mulher” a sociedade brasileira ainda consegue ser. Pois é, ainda que já tenhamos conseguido eleger uma mulher à presidência da República, existem certas coisas que nos mostram o quanto precisamos andar por léguas e léguas para virar um país de gente. O preconceito, principalmente contra tudo que é feminino, continua vigilante e colocando as manguinhas de fora sempre que pode. 

Sinto um desconforto imenso quando, por exemplo, vejo todos os dias na SKY (a primeira e maior operadora de TV por assinatura do país) uma série de comerciais nos quais, a top model Gisele Bündchen - atuando muito mal por sinal - esfrega o chão, recolhe roupas espalhadas e varre a casa enquanto seu marido desfruta de todos os benefícios da SKY HDTV e só se lembra que ela existe na hora de lhe mandar pegar uma cerveja na geladeira. Gente, onde os publicitários estão com a cabeça? Achei que os responsáveis por propaganda no Brasil já soubessem que as mulheres servem para outras coisas além de lavar chão, catar cueca e pegar uma bebida para os machos. E você Gisele, que nem sequer precisa do dinheiro da SKY, será que poderia representar um personagem menos pejorativo? Que raiva!

Num outro surto televisivo de demonstração do machismo, andei lendo – lendo, porque ainda não consegui assistir – que os caras da bancada do CQC ( programa que até nesse instante era pra mim um bálsamo na programação da TV) resolveram falar mal do Mamaço, uma manifestação na qual mulheres se reuniram para amamentar seus filhos depois que uma mãe foi impedida de dar mama a seu bebê em público. Os comentários e piadinhas deferidos por Rafinha Bastos iam desde comparar os seios femininos com um rocambole, até dizer que as mulheres gostam de amamentar em público porque querem despertar o desejo sexual masculino. Soube até que os apresentadores se lamentaram por nunca terem visto alguém com atributos de Bündchen (ó ela aqui de novo) amamentando por aí. Até tu Tas? Que decepção!

Parece que o mundo dos homo sapiens acredita que as fêmeas de sua espécie não vivem pra outra coisa que não seja satisfazer as vontades sexuais masculinas. Ou seja: fazer o pau subir e depois fazer o pau descer. Pobre dos idiotas – de ambos os sexos -  que não conseguem abrir suas mentes e perceber que ainda que sejamos biologicamente diferentes, socialmente precisamos ter os mesmos direitos.


Em meio a tantas situações escabrosas envolvendo mulheres, enfim uma notícia relativamente boa. Será realizada no próximo sábado em plena Avenida Paulista a Marcha das Vagabundas (tradução que está sendo utilizada para o movimento SlutWalk). A passeata aconteceu pela primeira vez no Canadá, no mês passado, onde três mil pessoas foram às ruas protestar após um policial canadense causar polêmica ao declarar em uma universidade que mulheres devem evitar se vestir como vagabundas para não ser tornarem vítimas de abuso sexual. Como aqui, há pouco mais de um ano o incansável exército anti-mulheres foi capaz de quase linchar uma estudante dentro de uma faculdade por causa de um vestido, o movimento se faz mais do que necessário. Respeitar uma pessoa independentemente de ela usar saia, calça, vestido, burca, shortinho ou qualquer outra coisa é o mínimo que se espera de uma sociedade na qual as pessoas devem ter livre arbítrio. Pelo menos isso!

Nojos urbanos

Eu sou virginiana e por isso sinto muito, muito nojo de algumas coisas. Fico com raiva das mães que ensinam seus filhinhos a fazer xixi no meio da rua, porque eles crescem e continuam tirando pau e mijando em qualquer lugar. Imbecis! Tenho nojo de pessoas que metem a mão no nariz e fazem bolinhas de meleca enquanto esperam o sinal abrir. Por que não vão batucar no volante? Por que não vão contar carneirinhos? Detesto homem que escarra. Ok, todo mundo escarra. Mas eu odeio homem que escarra na rua e, pra piorar, ainda sai limpando as mãos em qualquer coisa. Não suporto quem limpa as mãos em qualquer coisa. Aliás, eu odeio quem limpa qualquer coisa em qualquer coisa. Qual a dificuldade que as pessoas têm em lavar a porra das mãos, como foi ensinado naquela musiquinha que eu ouvia na minha infância assistindo RÁ - TIM – BUM? Detesto também aquela merda do carrinho de supermercado onde metade do universo já colocou a mão suja. E detesto corrimão. O que eu corro é o risco de qualquer dia rolar escada abaixo porque sinto asco em imaginar a quantidade de mãos de punheteiros e sacizeiros que já tocou ali. Não gosto de toque. Mas, não gosto mesmo, tenho pavor quando um desconhecido me pega. Que mania as pessoas tem de tocar os outros. Que coisa mais absurda! Não suporto gente que conversa batendo. Não me bata! Fale que eu estou ouvindo. Não venha com suas mãos encharcadas de suor me pegar. Aquele suor frio alheio me dá náuseas. Também tenho pavor de quem faz comida emporcalhando a cozinha inteira. Tenho muito nojo de lixo sem tampa, inclusive na cozinha. Aliás, odeio coisas sem tampa. Por favor, tampem as coisas, principalmente na cozinha! Não suporto cachorros se esfregando na minha perna ou soltando pelos por todas as partes da casa. Ou melhor, não suporto cachorros, nem peludos e nem pelados, a maioria dos animais são verdadeiros focos de doença e imundície, se você resolve ter um, pelo menos o envie regularmente ao petshop, ok? Detesto o lixo arremessado pelas janelas dos carros e ônibus. Que prazer é esse que as pessoas sentem em emporcalhar a cidade inteira?   Enfiem a droga do lixo dentro de suas bolsas. Aprendam a usar a lixeira. Não gosto também de quem dá descarga com a tampa da privada aberta e odeio toalha molhada em qualquer lugar no qual não seja possível que ela esteja secando, como por exemplo, em cima da cama.  E, tirando todos esses nojos urbanos, ainda acredito que é possível viver nessa “civilização”.