sábado, 19 de novembro de 2011

Falando de racismo


Enfim tomei vergonha e fui assistir a “Namíbia, não!”, primeira peça na qual Lázaro Ramos assina como diretor teatral. Ainda que a peça tenha estreado em Salvador há mais de seis meses, só agora, no Rio de Janeiro, fui conferir o trabalho de direção do meu talentoso conterrâneo.

A trama é excelente. A montagem simples e direta encenada pelos atores Aldri Anunciação e Flávio Bauraqui trata do drama de dois primos que decidem permanecer escondidos em seu apartamento para não serem capturados, diante de uma medida provisória decretada pelo Governo Brasileiro no ano de 2016 que prevê, como forma de reparação social pelos anos de escravidão, que todos os afro-descendentes brasileiros devem retornar ao continente africano.

O cenário tem uma simplicidade absurda e consegue nos remeter aos cinco anos adiante, as atuações cumprem a tarefa – não são esplêndidas, mas também não deixam a desejar - e o texto tem uma inteligência ousada  que nos prende durante todo o espetáculo e se mantém recheado por piadas e tiradas que não se cansam de meter o dedo na ferida das questões raciais. Os racistas riem como hienas das provocações propostas pela peça que cutuca o tempo inteiro o mito da democracia racial fortemente empreendido no Brasil e que vemos comprovado nesse excesso de risos em momentos nos quais seria melhor chorar diante do que a peça nos leva a constatar. 

Ainda que eu tenha sentido que o desfecho poderia ter sido melhor, ele atende ao ponto principal do trabalho,  “Namíbia, não!” não pretende dar respostas e sim nos deixar a vontade para refletir sobre as inesgotáveis questões relacionadas as desigualdades.

Para mim, acostumada a conferir a questão racial na dramaturgia, através de montagens de companhias como Bando de Teatro Olodum (Cabaré da Raça, O muro,  Ó paí ó, etc.) e a Cia dos Comuns (Candaces, Bakulo, etc.) o tom da direção de Lázaro me parece na medida, com a cara que deve ter o enfrentamento ao racismo nos palcos nos dias de hoje. Está de parabéns!

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Andar pra quê?

“O mundo está ao contrário e ninguém reparou”. Parece que sim. Em pleno ano de 2011 há quem ainda ache que o que funciona na década de 80, continuará dando certo nos dias de hoje.

Numa era em que ditadores são derrubados através do twitter e grandes revoluções vão sendo feitas sem necessidade de cartazes e marchas, alguém me explica porque a população do Rio de Janeiro vai sair andando pelo centro da cidade em plena  quinta-feira contra a tentativa de retirada dos royalties do petróleo do estado? Eles acham que isso realmente vai alterar alguma decisão relativa ao pré-sal? Não creio. Em uma entrevista a um jornal local, um cidadão carioca diz que quer relembrar a luta pelos royalties de 30 anos atrás. Como assim? Será que ele não percebeu que o tempo passou? Acorda, meu filho! 

Estudante exibe cartaz que critica a ocupação da reitoria da USP
Na USP, estão acampados centenas de estudantes que não têm pelo que brigar e resolveram fazer presepada porque não querem a polícia dentro da faculdade. Chega ser engraçado ver alunos da USP empunhando cartazes que dizem que a polícia é cão de guarda da elite. Piada, né? Soube até que os revolucionários temporãos, se atracaram com jornalistas porque queriam interromper os links ao vivo. Como se não bastasse todo o resto, agora bater em jornalista virou moda. Era só o que faltava.

Quer andar? Ande. Quer dormir na reitoria? Durma. O país continua na merda porque nada disso altera a fome, a miséria, o analfabetismo, a violência e mais um monte de coisa pelas quais ninguém quer lutar e se quisesse não seria andando que se resolveria.

sábado, 5 de novembro de 2011

Só não é o que não tem que ser

Há quem venha dizer que eu sou contraditória na minha essência, pois ao mesmo tempo que acredito que somos sujeitos de nossas próprias transformações eu ainda tenho fé nas inevitáveis artes do Mrs. Destino. Ou seja, da mesma forma que sei que nossas atitudes e escolhas interferem diretamente no que fomos, somos e seremos, eu entendo que algumas coisas estão ali no meio do nosso caminho, escritas nas nossas histórias. São encontros, mudanças, situações e acasos que inexplicavelmente parece que foram postos ali e não haveria como ser de outra forma.

Estou pela primeira vez em minha vida afastada da minha família e de meus amigos, pessoas pelas quais meu coração sempre está repleto de amor sem que para isso seja preciso que eu diga o tempo inteiro. É bem verdade que, mesmo coma distância física, os avanços tecnológicos me permitem estar perto deles quase que o tempo inteiro. Mas aquela proximidade, mesmo com todas as coisas inerentes ao meu jeito de ser, tem feito muita falta pra mim e para todos os que têm me acompanhado e se integrado a minha vida.

Não sei se os últimos acontecimentos são obra do mecanismo do “tem que ser” ou se simplesmente eu precisava me encher de coragem e medo, deixar um pouco de lado a segurança de estar cercado dos meus e me lançar a ambientes tão diferentes e novos. Sei que quero muito que dê certo e que faça sentido, porque eu acredito que só não é o que realmente não tem que ser. 

Era Dia de Todos os Santos quando saí da Bahia pela primeira vez. Estava cheia de temor e vontade. No meu coração eu sentia que isso jamais poderia estar sendo em vão.