quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Que venha 2011!

Um ano novo é, de vez em quando, tudo que a gente necessita para renovar as energias e voltar a acreditar. Só disso eu preciso. 365 dias novinhos em folha para que eu possa crer que as coisas vão acontecer.  Por isso, em 2011 eu  quero desejar apenas que eu peça bem menos. Quero ter tantas coisas a agradecer que não me restem motivos para fazer pedidos. Se vier assim, 2011 pode entrar. 

Feliz Ano Novo a todos!

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Errada

Eu estou errada e estarei sempre errada enquanto eu não for a pessoa certa. E por isso eu vou pagar talvez a vida inteira, sem pena. Eu estou errada. E o tempo inteiro que um homem resolver encontrar em mim aquela mulherzinha de mentira, vai me achar errada. E esse homem continuará se achando certo, porque isso será sempre mais fácil. E ele terá um monte de outras pessoas que se incomodam com a minha personalidade para dizer que ele está certo e por isso, voltará sempre ao conforto da sua certeza, enquanto eu sigo sendo errada nesse mundo viciado em gente de mentira, que não erra. Então talvez esse homem não me suporte porque não me entende, mas eu não quero mesmo ser inteligível. Assim como não quero ser comum, não quero ser de mentira e topo de verdade ser a errada. E vai se enganar quem esperar de mim reação de mulher de mentira e comum que fica eufórica porque pode escolher seu presentinho de fim de ano. Porque eu sou uma pessoa que gosta quando não espera nada e ganha um presente incrível escolhido com carinho. Escolhido porque a pessoa gosta de você e está disposta a lhe dar algo que lhe agrade. Mesmo que isso leve tempo ou que seja preciso ir ao shopping três ou quatro vezes. Detesto lembrancinhas compradas de última hora. Odeio presentes genéricos. Tenho pavor a indicações feitas por quem acha que você não merece ganhar isso ou aquilo. Prefiro ser errada do que topar isso. E, visto agora uma camisa afirmando que sou 100% errada e deixo quem quiser ir aí pra esse mundo cheio de pessoinhas certas que esperam presentinhos que precisam, ou que ficam gritando suas preferências o ano inteiro e forçam uma cara de surpresa quando acabam de ganhar o que já pediam há tempos. Não tenho saco, prefiro ser a errada de sempre, assim, quem está sempre certo, pode se sentir muito bem com isso.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Tirem as crianças da sala!

Eu sou de um tempo que, em lugar onde tinha adulto conversando, criança não podia nem passar perto. Existiam assuntos de crianças e assuntos de adultos. E quando não era possível nos tirar na sala, os mais velhos mandavam que a gente tapasse os ouvidos. Ainda que minha mãe sempre tenha conversado comigo abertamente sobre uma série de temas, sempre existiu limite para o que eu poderia ouvir, falar, vestir e, principalmente, assistir na televisão.

Só por isso, ainda que o mundo tenha mudado muito, é super difícil pra mim aceitar que as crianças estejam assim, cada dia mais sem limites e com a mente limitada, vendo um sem números de misérias veiculadas na televisão, para não falar da internet. Quem me conhece sabe que eu não sou burguesa e venho de uma realidade não muito diferente dos milhares de crianças que crescem nos bairros de onde só são noticiadas desgraças. Mas, me chocam as cenas que são transmitidas na hora do almoço todos os dias, de corpos cravados de balas; de jovens e velhos representando todo o infortúnio instituído pelo crack; de homens e mulheres marginalizados, drogados, sem teto, sem emprego, sem rumo; de crianças violentadas que voltam a ser vítimas quando são inquiridos por profissionais que esqueceram há muito, o que é ética profissional.


Não consigo entender como as pessoas conseguem comer todos os dias vendo essas cenas. Ainda que eu saiba que, muito do que é exibido nos programas de mundo cão, acontece ao vivo e em cores o tempo inteiro em nossa cidade entregue a barbárie, me incomoda a maneira como é feito esse infeliz jornalismo. Que, como todos devem saber, não existe apenas na televisão baiana. Me irrita que mães, pais, tias, avós deixem as crianças em frente a televisão vendo atentas as inúmeras maneiras de como a violência é capaz de destruir as pessoas. Tenho vontade de gritar: tirem as crianças da sala!

O mundo mudou, mas ainda é possível que as próximas gerações estejam menos expostas a crueldade e a brutalidade de universos tão miseráveis e irracionais. É possível que ainda se cresça, como eu cresci, acreditando que existe um mundo além, acreditando que com algumas ferramentas é possível transformar não só a nossa, mas várias realidades.

O que se vê em pleno meio dia em duas emissoras desta cidade, não precisa ser acompanhado por meninos e meninas ainda em formação, alvos fáceis para as desventuras, vitimizadas pela ausência de tudo, crianças tão próximas do caminho mais cruel e da vida que não passa dos vinte anos. Que sejam poupados, pelo menos os que ainda podem ter esperança.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Encontros marcados

Dois trechinhos de Tati Bernardi, enquanto escrevo sobre os encontros escritos que costumamos achar que são inusitados. E Feliz Nós!

“Eu me descubro ainda mais feliz a cada pedaço seu e de tudo o que é seu. Às vezes você é tão bobo, e me faz sentir tão boba, que eu tenho pena de como o mundo era bobo antes da gente se conhecer. Eu descobri que tentar não ser ingênua é a nossa maior ingenuidade, eu descobri que ser inteira não me dá medo porque ser inteira já é ser muito corajosa, eu descobri que vale a pena ficar três horas te olhando sentada num sofá mesmo que o dia esteja explodindo lá fora. E quando já não sei mais o que sentir por você, eu respiro fundo perto da sua nuca, e começo a querer coisas que eu nem sabia que existiam.”
...

"E eu tenho vontade de segurar seu rosto e ordenar que você seja esperto e jamais me perca e seja feliz. E entenda que temos tudo o que duas pessoas precisam para ser feliz. A gente dá muitas risadas juntos. A gente admira o outro desde o dedinho do pé até onde cada um chegou sozinho. A gente acha que o mundo está maluco e sonha com sonos jamais despertados antes do meio-dia. A gente tem certeza de que nenhum perfume do mundo é melhor do que a nuca do outro no final do dia. A gente se reconheceu de longa data quando se viu pela primeira vez na vida."

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Velho Noel,

Eu nunca acreditei no senhor, cresci aprendendo a não acreditar em conversa de homem, nenhum homem. Desculpe-me, mas é que por aqui o que mais tem é velho barrigudo de barba branca sem o menor caráter. Então só agora, aos 24 anos, tomo coragem pra te escrever uma cartinha. É bem verdade que nessa era, seria melhor eu mandar um e-mail, mas não sei se suas assistentes cheias de blush que passam o dia em pé nos shoppings centers suportando crianças mal educadas e pesadas de tanto comer batata frita, têm tempo e paciência para gerenciar sua caixa de entrada no correio eletrônico. Tive medo que minha mensagem se perdesse pelo antispam.

Se o senhor consultar aí os seus registros, acredito que tenha um banco de dados já que passa os 11 meses do ano fazendo a mesma coisa que a maioria dos parlamentares brasileiros - ou seja, nada -  vai ver que pelas bandas do Pólo Norte nunca chegou correspondência minha, ainda que eu soubesse escrever muito melhor do que muita criança que ganhou bicicleta Caloy, mas tudo bem, eu nunca fiz questão de ter bicicleta. Então, por nunca ter lhe escrito nem mesmo um bilhete em papel de pão, acredito que eu tenha muito mais moral do que aquelas coleguinhas minhas que acordavam com uma linda barbie,  novinha em folha na manhã do dia 25 de dezembro. 

Com meu saldo, eu poderia te pedir tantas coisas, que se você fosse cumprir minha lista teria que passar dias e dias nas Americanas.com fazendo minhas compras e precisaria mesmo de um cartão de crédito sem limites. Mas, como me ensinou minha querida mãe, a gente tem que ser humilde na hora que pede para que a pessoa que atende nossos pedidos seja generosa. Então Noelzinho querido, venho aqui com toda a minha humildade pedir uma lembrancinha singela, que talvez não te custe mais que dois telefonemas do seu Iphone, porque sei que o senhor é um cara cheio de contatos aí nesse saco vermelho. 

Eu podia estar te exigindo que me mandasse um carro do ano ou um corpo de modelo, como tantas outras pessoas da minha idade querem. Mas, eu vou ser humilde mesmo. Teria como o senhor me arranjar um emprego? Sou uma moça estudada, como já deve saber, me formei em Jornalismo em universidade pública, nunca repeti matéria, nunca apliquei trote em calouro – e olhe que uns bem que mereciam -, me comportei nos estágios super mal remunerados e tenho boas referências. Fala pra alguém do meu currículo, dê o endereço do meu blog, manda me chamarem pra uma entrevista, me indica, per favore. 

Te prometo que, assim que eu for contratada, escrevo um texto de três laudas, agradecendo ao senhor e garanto que me comporto bem melhor do que aquelas crianças que destruíam em 24 horas os brinquedos que você se acabava todo pra colocar no sapatinho, depois de passar sabe lá quanto dias sendo arrastado naquele trenó. Então quebra esse galho pra mim. Tô doida pra ver minha carteira de trabalho assinadinha. Como o senhor já tem seu emprego há muito tempo não tem noção da angústia que vivo e eu não vou nem te falar dos níveis de desemprego no Brasil. Me dá esse presente e até mesmo o senhor, vai ficar feliz só de ver o quanto eu vou me alegrar. 

Beijo me siga

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Confraternizar o quê?

Tem situações nas quais o ser humano paga para sofrer. Exemplo: confraternização de fim de ano do trabalho. Tem coisa pior? Ter que se reunir em um bar ou restaurante com uma leva de pessoas que, apesar de conviver diariamente, você simplesmente não suporta. Não poder beber o que lhe dá vontade porque sabe que isso vai gerar confusão na hora da conta, uma vez que tem gente bebendo Black Label e têm outros pedindo a cerveja mais barata do cardápio. Ter que ficar conversando sobre assuntos genéricos sem a menor graça para não falar realmente de coisas que você adoraria comentar como aquela puxada de tapete que A deu em B, o sobrinho do chefe que só chega atrasado, de ressaca e vai quando quer ou a fofoca de que fulano do Financeiro tá comendo ciclana do Marketing. Porém, como o papo é sempre chato as horas não passam. Tem sempre o cara da piada e o que paquera todo mundo, ambos enchem o saco e você não vê a hora de ir embora. O tédio já está tomando conta da mesa, aí vem a hora do amigo secreto, quando todo mundo se prepara munido de presentes comprados as pressas, já que ninguém da importância pra amigo secreto, até porque corre o risco de gastar tempo e dinheiro comprando algo interessante e ganhar um chaveiro ou uma canga. Aquele negócio de falar as características das pessoas ao contrário para que as outras fiquem tentando descobrir, não tem sinceramente a menor graça, mas tudo bem. As poses para as fotos são o retrato da (in) satisfação na troca de presentes. Pior de tudo é o clima pós-amigo secreto, quando só se vê pessoas se desculpando por não ter acertado na lembrancinha e outras fingindo que gostaram de ganhar porta-retrato. Por sorte já está perto da confraternização acabar. Alguém mais sincero diz que precisa ir e isso é a deixa que as pessoas comecem a se despedir. Aí que vem aquele cara que dificulta sua vida de segunda a sexta, das 8h às 18h, se despedir de você e lhe desejar feliz ano novo com aquele velho abraço de gente falsa. Seria melhor enfiar logo uma estaca em seu peito, do que ter que retribuir aquele “que seu ano seja maravilhoso” do fdp. Você não vê a hora de ir embora, mas lá vêm aquela pessoa inconveniente e cara de pau te pedir uma carona até ali na frente, na esperança de que você se ofereça para levá-la em casa, era só o que faltava mesmo, sua vontade é dizer que vai para o lado oposto porque nesse momento era melhor ser uma das renas que puxam o trenó do velho e gordo Noel, do que ter que dar carona para alguém que, mesmo não tendo assunto  e nem intimidade com você, não cala a boca. Mas você respira fundo porque até o ano que vem está livre de ter que confraternizar, sabe Deus o quê, com aquele povo. Em resumo, confraternização de fim de ano é quase sempre o saco e não tem espírito natalino, rodízio ou buffet livre, que dê jeito. 

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Fidelidade: acabou e não tem pra comprar

Se você, cara leitora (ou leitor) nunca foi traído, nem uma vez, congratulations! Pra mim é mais fácil acreditar que você levou um belo par de chifres no meio da sua testa e não ficou sabendo ou preferiu fingir que não soube. No meu entendimento, fidelidade é coisa de outro planeta, então anda mais fácil encontrar um marciano comendo acarajé por aqui, do que um ser humano que nunca, em toda a sua vida, tenha se envolvido com outra pessoa estando comprometido. Li outro dia que fidelidade é como churrasco de chuchu, ou seja, no exist! Então nos contentemos em ter ao nosso lado uma pessoa que nos respeita e vamos respeitá-la também e seguir felizes, porque quem mexe em agenda de celular e tenta descobrir senha de msn tá procurando sarna pra se coçar e vai achar. Até porque, pior do que ser traído, é mostrar que soube da traição e não fazer porra nenhuma. Eu não estou aqui querendo promover o fim do relacionamento de ninguém, mas, vamos combinar que uma pessoa que não deseja nenhuma outra que não seja seu caso/namoro/casamento/etc, está morta e não sabe. Por mais ótima, perfeita e “sexo melhor do mundo” que seja quem está do nosso lado, a gente continua tendo olhos, né? Então não adianta sua mãe gostar dele – ou dela - ou seu cachorro balançar o rabinho quando ele/ela chega, porque algum dia, alguém vai passar por um de vocês e vai rolar um período ou até mesmo um pernoite. Quem é realista sabe que se envolver com outra pessoa não significa, necessariamente, gostar menos de quem tá com você. Eu sei que eu, você  e todo mundo conhecemos gente que trai menos e sacaneia muito mais. Então, pense nisso e seja mais lealdade do que fidelidade. Porque fidelidade é como aquele produto que acabou e não tem mais pra comprar. Esqueça!

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Salvem Salvador!

Depois que o Tribunal de Contas do Município rejeitou as contas do prefeito João Henrique, o qual conseguiu gastar mais com publicidade do que gastou com transporte, trabalho, lazer e habitação e ao ouvir ontem os comentários de minha irmã que acabava de chegar de uma viagem ao Rio de Janeiro, só pude concluir uma coisa: Salvador precisa de salvação. A cidade está entregue ao lixo que vive transbordando pelas vias públicas, a violência que faz um jovem matar o outro por causa de uma corrente, as imobiliárias que vendem o que ainda resta de Mata Atlântica, aos grupos estrangeiros que compram por valores irrisórios o que querem transformar em luxuosos hotéis, a falta de espaços de lazer fora dos shoppings centers que se multiplicam como gremlins e a tudo mais que possa aparecer. E o pior, parece que ninguém está a fim de salvar essa cidade.

Apesar de sua inegável beleza natural, suas jóias arquitetônicas e toda sua história, a capital baiana está sendo sumariamente destruída pelas iniciativas pública e privada. A cidade que pensa que tem know how para o turismo, ultimamente não agüenta nem os próprios soteropolitanos. Quase não temos teatro; os parques públicos viraram locais de desova de cadáveres; na maioria dos bares e restaurantes o atendimento é péssimo; os engarrafamentos acontecem de domingo a domingo sem folga por quase todas as principais avenidas da cidade; o sistema de transporte urbano se resume a um ínfimo número de ônibus, sem o mínimo de conforto, que demoram, passam cheios, são assaltados e cobram uma passagem relativamente cara; as praias, que já tinham estrutura precária, agora simplesmente não têm nem banheiro, e por aí vai.

Ainda assim, Salvador conseguiu - não sei como - se tornar uma das cidades a sediar os jogos da Copa de 2014, mesmo não tendo condições nem de suportar uma baba de solteiros x casados, já que, lugar pra praticar esporte nessa cidade é coisa que quase não existe e, quando existe, está em estado lastimável. Parece que algum santo das 365 mal conservadas Igrejas Católicas, construídas em sua maioria no século retrasado, vai fazer um milagre e preparar uma cidade novinha em folha pra FIFA.

A parte mais nova da cidade vive tomada de obras não menos desordenadas do que as casas dos bairros da periferia. Uma vez que, ninguém sabe como estas construtoras se apossaram daqueles terrenos e transformaram o resto de natureza que ali jazia em condomínios 'com tudo dentro', pra que ninguém precise colocar o pé na rua e seja seqüestrado ou decapitado e depois vire pauta pra programa de mundo-cão na hora do almoço.

Lugares lindos como a Cidade Baixa, vivem num abandono sem igual. Eu sempre digo que, em qualquer outro lugar do mundo, uma área com a beleza da Suburbana teria altos investimentos para seu cuidado e preservação, mas como é aqui, ninguém está nem aí. Se você que está lendo este texto já tiver feito uma viagem de trem pelo Subúrbio Ferroviário e admirado aquela paisagem, saberá bem do que estou falando. A maioria das pessoas conhece muito pouco do chamado Subúrbio, porque de lá só nos trazem notícias dos crimes e nada mais. Resolveram resumir Salvador entre as avenidas Bonocô e Paralela. Assim, começa a crescer uma geração que nunca foi a lugares como o Solar do Unhão ou a Lagoa do Abaeté. 

Ninguém sabe onde a gente vai parar, mas, por via das dúvidas uma das donas do Iguatemi comprou não sei quantas casas no bairro do Santo Antônio para trazer pra cá um novo conceito de shopping, uma vez que grupos espanhóis e portugueses estão arrematando tudo que possa se transformar em hotel. E nisso, não sei se implorando alguém aparece para salvar Salvador. Até porque, até mesmo o Superman e a Mulher Maravilha já começaram a fugir.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Elas não querem os certinhos

Sr. Certinho, te darei umas dicas, caso você queira ter chances com essas moças. Não fale baixo ou pra dentro, porque ela não escuta bem. Não chegue cedo porque ela ainda vai estar se arrumando. Por favor, não a encha de elogios falsos e melosos. Ela prefere aquele que marca, se atrasa, a deixa puta da vida, mas torna um fim de semana inesquecível. Exatamente aquele que não se desculpa nem depois da décima cerveja. Não perca seu tempo dizendo que você é um cara equilibrado, que tem poupança, porque isso é totalmente fora da realidade de alguém que há muito está com o nome no SPC. Ela gosta mesmo de quem vive no limite, então evite falar do porquinho no qual você deposita cédulas de r$ 50. Ela prefere ouvir uma boa e mirabolante mentira do que uma verdade tediosa. Não prometa presentes que você não vai dar porque estão além do seu orçamento, até porque ela nem sabe fazer orçamentos. Não venha falar sobre sua família certinha ou seu emprego certinho. Pense rápido. Goste de festa. Tenha amigos loucos. E, jamais dê espaço pra ela achar que tem espaço.

domingo, 12 de dezembro de 2010

A super mulher tira folga

Um dia a super mulher resolve tirar folga, mas o que isso significa? Significa que você pode tirar a calça jeans, colocar um vestidinho bem leve e um par de havaianas para comer um pote de sorvete, com ou sem culpa, como preferir. Quer dizer que você pode ter aquela preguiçinha de ir malhar e inclusive, esquecer aquele blá, blá, blá sobre a importância da atividade física e preferir ficar vendo um programa de TV a respeito de cirurgias plásticas. Significa que você não está muito a fim de ler aquele texto do mestrado e vai perder mesmo seu tempo lendo revista que só “ensina” como laçar e segurar um macho. Significa que você vai pedir pizza ao invés de preparar algo com todas aquelas folhas que você comprou e colocou na geladeira pra se alimentar de salada durante os 365 dias do ano. Significa que você não vai atender telefonema do trabalho, já que seu expediente já acabou. Significa que você vai conversar com sua amiga sobre cor de esmalte, corte de cabelo e promoção de loja de sapato, sem se preocupar com quanto você ganha e quanto você gasta. Significa que você vai esquecer as notícias que abalaram o país e o mundo e se ater a uma matéria sobre quem está comendo quem no mundo das celebridades. Significa que você vai re-twittar uma frase besta de um perfil de piadas. Significa que você vai fuçar o fecebook daquele cara invejoso do seu trabalho, só pra ter certeza de que você é melhor profissional do que ele. Significa que você vai ter vontade de ligar pra o idiota do seu ex e não vai se sentir uma idiota por isso, pois sabe que apenas está sentindo falta de um sexo bem feito. Significa que você vai pensar naquela tão sonhada viagem, mesmo sabendo que ainda não tem como fazê-la. Significa que você vai querer ligar pra sua mãe pra perguntar onde está aquele álbum daquele aniversário, porque você está a fim de dar umas risadas lembrando-se daquele dia. Significa que você pode abrir uma garrafa de vinho e beber sozinha, pois a melhor companhia do mundo pra você é você mesma. Significa que você não vai se preocupar com o resto do mundo. Porque hoje a super mulher resolveu tirar folga.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O exame de desordem

Atendendo a um pedido, resolvi escrever do alto da minha ousadia, sobre a novela que estreou essa semana após a divulgação do resultado da 2ª fase do exame da OAB, 2010.2. Não deu no The New York Times, mas foi parar nos noticiários da Rede Globo, desde o matinal Bom Dia Brasil até o emblemático ‘Boa noite!’ de Willian Bonner. Os personagens principais da trama da semana são: a Fundação Getúlio Vargas – que fez o exame -, os bacharéis em Direito que não viram seus nomes na lista, mesmo tendo corrigido os gabaritos e estando crentes da aprovação, e a própria Ordem dos Advogados do Brasil.

Todo mundo, inclusive um dos maiores portais que divulgam informações sobre o exame, esperava aprovação recorde, mas só passaram pouco mais de 11% dos 106.041 e se deu uma sucessão de confusões. Primeiro o site da FGV ficou simplesmente fora do ar, sabe Deus por quanto tempo, enchendo de borboletas o estômago dos candidatos que tiveram que recorrer a downloads disponibilizados por almas caridosas que conseguiam acessar a lista. Depois voltou a poder ser acessado, mas tirou do ar o link para interposição dos recursos e quase matou do coração os reprovados que representavam 88% do total de candidatos. Em seguida, os espelhos das provas também estavam errados e tiveram que ser republicados. O prazo para recorrer precisou ser prorrogado, até agora, por nada menos que quatro vezes. Começou até a circular nota de repúdio. Nada estava explicado, nada dava certo e, todos nós sabemos, pessoas que estudaram Direito odeiam coisas mal resolvidas.

Aí, pra acalmar o pessoal, lá vem o presidente nacional da OAB, Ophir Cavalcante, dar uma satisfação ao povo, porque com futuro advogado não se brinca. Disse que as provas tinham que ser recorrigidas, mas que quem passou tá passado. Assim, ele ficava bem com todo mundo. Mas, advogado é um bicho que futuca tudo e não dava pra mandar recorrigir assim, tinha que justificar de cabo a rabo ou invalidar tudo de uma vez só. Por isso, de quarta pra quinta, ele deu um moonwalk e disse que as provas não passariam por nova correção. Será que da pra o cara se decidir?

Nesse meio tempo, como já era de se esperar, um sem número de professores de Direito deram entrevistas falando sobre a maldita correção, defendendo com unhas, dentes e Vade Mecum seus aplicados alunos que gastaram tempo, dinheiro e disposição ansiando pela bendita carteirinha vermelha. Enquanto isso, quem passou treme de medo que role uma Ação Civil Pública, que - pra quem é tão leigo quanto eu - anula o exame inteiro e atrasa o lado de meio mundo.

O que eu sei é que essa é só a primeira vez que a FGV é a responsável por esta prova, até a última edição o exame era feito pela CESPE e, de tanta história, foi mudado. Mas, parece que o problema não é quem elabora, aplica e corrige a prova. Então o que é? Não é possível que uma avaliação cujo objetivo deveria ser apenas mostrar que as pessoas que estudaram por, no mínimo, cinco anos numa faculdade conseguem pensar juridicamente, possa virar um pesadelo desse tamanho. Conheço gente que sem nem ter diploma, circula e atua livremente pelos corredores do Fórum, porque é filho de não sei quem. Para esses, o exame e nada representam exatamente a mesma coisa. Por outro lado, vejo também bacharel que exerce a profissão com muito mais caráter e dignidade do que quem já tem inscrição no órgão, mas que não pode assinar seu próprio trabalho. Eu não desmereço os profissionais legalmente habilitados e nem sou a favor da extinção do exame. Eu, só não consigo entender, aonde mesmo quer chegar a OAB. Que bicho de sete cabeças é esse, que acaba nessa verdadeira desordem.

Maldito conselho!

Se conselho fosse bom, eu sei, o Google já tinha criado um banco de dados com uma lista de conselhos de A à Z pra gente acessar diretamente do celular. Mas, parece praga, conselho é uma coisa que todo mundo dá dizendo que não gostaria de estar dando. Mais ou menos como os 10% na hora que vem a conta. Portanto, saiba que se você quer realmente se tornar amigo de alguém, nunca, jamais, em hipótese nenhuma, ofereça um conselho sem que esse lhe solicite. Pra ter noção de como dar conselho não leva ninguém a nada, nos EUA não tem um serviço só pra isso.  Tá bom pra você? Na verdade, não se tem notícia de quando conselho se tornou essa coisa que as pessoas se desculpam porque dão, mas a premissa atravessou acontecimentos que vão de Jesus Cristo a Barack Obama e chegou aqui, na era do facebook e do aquecimento global. Parece que junto com a invenção do dinheiro, criaram também o ditado de que se conselho fosse bom, se vendia. Ainda que todo órgão e instituição que se preze viva cheia de conselheiros, aconselhar nunca foi coisa de Deus e tem mais cara de arte do Diabo. Teve muita guerra que começou por causa de um maldito conselho. Mesmo que a gente, em alguns momentos deseje que conselho fosse uma coisa que pudéssemos comprar pela internet ou pedir pelo telefone e mandar entregar em casa, não tem jeito. Como o governo ainda não inventou políticas públicas para a livre produção e circulação de conselhos, quando a gente precisa de um, temos que pedir a alguém e quase sempre ouvimos exatamente o contrário do que desejávamos. Ou seja, é que nem presente ruim em amigo secreto, quase sempre se recebe um que não tem nada a ver com o que você queria. Mas, ruim mesmo é quando alguém inventa de nos pedir um conselho. Ou a gente fala o que a gente acha realmente, ou a gente fala o que a pessoa quer ouvir, e ficar com a opção B é quase sempre a melhor saída. Se der merda, prepare-se para escutar: tudo porque eu fui ouvir seu conselho. Se der certo, não espere um muito obrigado. Porque conselho quando é bom, quem deu nem fica sabendo. É por essas e outras que eu tô quase passando um e-mail e ligando para os parentes, pra avisar: na minha vida eu não quero mais ouvir ou dar nenhum conselho.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Quando só nos resta pedir pra viver

Eu não faço a menor ideia de quantos assaltos à mão armada aconteceram esta manhã em Salvador. Só sei que um deles foi comigo. Não sei quantas mulheres foram xingadas de 'putas' a caminho do trabalho, sob a mira de uma pistola que eu não faço a mínima ideia do calibre, mas que o rapaz de no máximo 18 anos, fez questão de dizer que dispararia na minha cara se eu ousasse correr. Não consigo lembrar quanto tempo exatamente durou aquilo que pra mim, sozinha, num lugar deserto, levou uma eternidade desesperadora. E eu lerda, como quem acabava de tomar um remédio tarja preta, só conseguia dizer baixinho, quase sussurrando, que lhe entregaria o celular, mas que o dinheiro que ele queria, eu não tinha. Nesse momento, talvez a cara dele tivesse mais desespero do que a minha, porque se contentou em levar apenas o celular. Enquanto ele caminhava no sentido contrário ao meu, não tenho noção de onde tirei a ideia de sair, em vão, em busca de uma viatura policial para que me socorresse ao menos da sensação de vulnerabilidade que a criminalidade nos impõe. Sei que não encontrei nenhuma. Não lembro como conseguia andar, já que meu corpo tremia por completo como se me implorasse pra que eu parasse. Eu  ainda tentava me acalmar, pois estava sem rumo e morrendo de medo. Eu não encontrava desespero maior do que o vazio, causado pela sensação de que eu estava ali sem saber o que fazer. Eu realmente não sei quantas pessoas sentiram isso, mas em todas as rodas que freqüento, cada pessoa tem pelo menos uma história de assalto pra contar. Eu mesma já tinha uma, agora tenho outra, mas recente e bem pior. A sensação de ser assaltada, estando sozinha, torna-se ainda mais insuportável. No fim de tudo, todos que já passaram por isso, acabam se contentando pelo fato de ao menos não terem perdido suas vidas. Foi exatamente o que senti hoje, vendo aquela arma, naquele curto espaço de tempo e pedindo por dentro pra que ela fosse mesmo só pra me assustar, pedindo pra que ele levasse tudo, mas simplesmente me deixasse viver.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Eu me permito

Algumas pessoas acham que só arrisca a vida quem joga tudo pra o alto. Quem vai vivendo de improviso e no fim se contenta com o que deu certo. Para elas isso é se permitir. Eu não faço nada disso, não sinto falta de não ter  feito e ainda assim acredito que me permito. Me permito porque sou eu mesma responsável por minha vida, inclusive pelas coisas que construo, o que me faz não ter coragem de abandoná-las. Quem é realista sabe o quanto é duro abandonar o que custa nosso próprio esforço. Meus planos, metas, objetivos e roteiros foram criados porque eu sei onde quero chegar e não posso andar sem rumo por uma vida na qual nada é fácil. Se aventurar não é só é ir embora de sua cidade ou de seu país para encarar o desconhecido. É também entrar num mundo onde você é uma estranha e ter seu lugar, sua voz. E isso eu tenho feito a minha vida inteira. Enfrentar o mundo é ser neta de lavadeira e se formar em universidade pública. É querer ter seu próprio dinheiro, seu carro e seu ótimo emprego, onde ainda se pensa que as mulheres devem ser submissas. É saber argumentar, em vez de calar a boca para ser aceita. É poder ser o que quiser, quando quiser, sem ter que dar satisfações ou pedir ajuda.  Se permitir é muito mais do que ir daqui até ali e voltar porque deu tudo errado.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Eu leitora

Nesses crimes que ganham o mundo, o que me interessa não são os assassinatos em si, mas as narrativas desenvolvidas a partir das histórias. Sim, porque crimes chocantes acontecem todos os dias, em todos os lugares. Infelizmente não é tão raro que filhos matem pais, pais matem filhos, maridos matem esposas e etc. Porém, os veículos de comunicação não podem dar conta de noticiar e esmiuçar todas essas histórias. E assim, algumas são eleitas para figurar as páginas dos jornais e essas passam a repercutir e chocar a opinião pública. É assim não só no Brasil, mas em diversos lugares do mundo.

Não sei quando começou meu interesse por crimes de repercussão – como gosto de chamar esses casos -, no entanto é fato que ele se aguçou a partir da idéia de escrever sobre uma história que aconteceu aqui na Bahia há quase 10 anos. Quando eu e Kelly resolvemos produzir um livro-reportagem sobre o caso Lucas Terra – jovem de 14 anos, queimado vivo por integrantes da Igreja Universal do Reino de Deus - passamos a devorar tudo que aparecia em nossa frente sobre outras histórias semelhantes, no que diz respeito à cobertura jornalística. Eu me lembro das noites que passei em claro impressionada com as coisas que lia sobre crimes e assassinos bárbaros. Sem falar nas inúmeras horas de entrevista que causavam um cansaço mental sem igual, no desgaste emocional provocado pelas repetidas idas a Catedral da fé, na abdicação do lazer e nos atrasos ao trabalho gerados pelas demoradas consultas aos processos. Mas, não posso negar que sentia um prazer em tudo aquilo e vivia uma onda de devoção doentia ao tema.

Nesse contexto, não era de se estranhar que eu estivesse acompanhando até a última linha o Caso Nardoni. Eu já havia lido e visto as principais notícias sobre o crime, a perícia, o julgamento e consigo me lembrar exatamente onde eu estava um pouco depois da meia noite do dia 27 de março, momento em que a Rede Globo interrompeu sua programação para transmitir ao vivo a leitura da sentença dos réus. Fui até a frente da televisão, a condenação já era esperada, mas meu arrepio foi inevitável. Mais uma vez, eu quis estar exatamente naquele plenário para viver o que acontecia ali.

Aquela altura eu já sabia que Ilana Casoy, uma especialista há anos em crimes violentos, escrevia um livro no qual ela se comprometeria a contar tudo que acontecia naquele julgamento. Isto porque, no Brasil, ao contrário dos Estados Unidos – morro de inveja disso - , os júris não podem ser televisionados. Eu conhecia a narrativa de Ilana, pois seu livro sobre o caso Richthofen fez parte da bibliografia do meu trabalho de conclusão de curso e por isso não tinha dúvidas de que ela me colocaria sentada dentro daquele Tribunal através de seu texto. Dito e certo.

Ontem, Ilana esteve aqui em minha cidade, na Livraria Saraiva, para o lançamento de A prova é a testemunha(Larousse). Eu e minha companheira de aventuras jornalísticas, acompanhadas de nosso padrinho literário, Eduardo Dorea, fomos até lá. Nosso objetivo era, além de ter um exemplar com dedicatória da autora, entregar a ela nosso livro sobre o caso Lucas Terra. Graças a Dorea, Ilana já sabia da existência de nossa produção e, bastante simpática, nos disse que iria ler nosso material. A autora começou um bate papo que durou até as 22h, quando fomos informados de que a livraria precisava fechar. E eu pensei: porque ninguém teve a idéia de criar livrarias 24h?

No caminho de volta pra casa, não conseguíamos falar sobre outra coisa que não fosse o Caso Nardoni e eu, como uma criança que acaba de ganhar um brinquedo, mal continha meu desespero em ler o livro. Eu já tinha lido a orelha e uma parte do prefácio em pé, enquanto esperava as despedidas.

Hoje só não me dediquei exclusivamente à leitura por falta de tempo e não de vontade. Ainda experimento as seqüências iniciais da história. Mas, como eu já previa, estou realmente assistindo a atmosfera que envolvia aquele fórum nos dias marcados pelo júri dos assassinos de Isabela. O povo vaiando os réus e seu advogado, a tensão do experiente promotor, o árduo trabalho dos profissionais da imprensa improvisando o possível e o impossível para garantir a melhor cobertura, enfim todos os nervos, inclusive os da autora, aflorados.

Só pra formalizar, mesmo sem ter concluído a leitura, já indico pra quem gosta de tensão ou simplesmente pra quem se interessa pelo tema. Tentarei ler num ritmo menos acelerado do que o de costume, pois se não me controlar sairei desenfreada página a página sedenta pelo final. E como é sempre bom esclarecer, o livro não é escrito para jornalistas ou para profissionais da área jurídica, mas para todos aqueles que, assim como eu, gostariam de ter visto de perto o que aconteceu naquele Tribunal.

sábado, 4 de dezembro de 2010

A Sucom, Tomate e a PORRA

A atual gestão do município tem tiradas mais engraçadas do que muito programa de humor. É incrível, a Prefeitura e os órgãos ligados a ela, deixam de resolver o que realmente tem importância nessa cidade, para implicar com coisas irrelevantes. Enquanto os engarrafamentos se multiplicam, as ruas vivem cheias de lixo, ficamos inundados com qualquer chuvinha, o transporte público não funciona e os alunos das escolas municipais têm aulas dia sim/dia não, João Henrique e seus funcionários - pagos com nosso dinheiro - ficam brincando de censurar propaganda, como se não houvesse nada melhor para fazer.

Esta semana, lá na da Superintendência de Controle e Ordenamento do Uso do Solo (Sucom), mandaram tirar a palavra “porra” presente nos dez outdoors com a campanha do novo hit do cantor Tomate. O superintendente, Cláudio Silva, disse que recebeu uma denúncia de cidadãos que se sentiram incomodados com o termo presente nas peças publicitárias. Quando eu li isso tive vontade de perguntar: Cláudio, ninguém reclama daquele brega que está a Avenida Sete, não? Só pra ver se ele resolvia rapidinho assim.

Teve gente que deixou comentário embaixo da matéria do Correio dizendo que o termo “porra” era muito obsceno para estar exposto em via pública. Então as obscenidades feitas com nosso dinheiro na prefeitura, câmara e nos não sei quantos órgãos municipais estão liberadas, né? Afinal, são bem escondidinhas. Eu ainda achava que o nepotismo, a corrupção, as indicações, as terceirizações suspeitas e o péssimo atendimento de alguns servidores, ofendiam muito mais do que um palavrão, percebo que estava enganada.

Com tudo isso, eu só não estou rindo mais do que o próprio Tomate, que tá se dando muito bem com o burburinho causado pela determinação da Sucom.  Bombou no twitter e foi parar na roda de conversa de um programa da GNT.  Assim, sem nenhum custo além do dinheiro gasto pra substituir “porra” por reticências, Tomate teve mais mídia do que qualquer campanha publicitária. E eu, doida pra me bater com ele e falar: Tomate, me chama pra ser sua assessora de comunicação, posso fazer você ganhar muito mais dinheiro com essa PORRA (e quem quiser que censure meu blog) !

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Amor rima com dor

Nos ensinaram que amor rima com dor, depois disso, amar e não sofrer passou a ser a coisa mais estranha e difícil desse mundo. Pois é, quem tratou de afirmar e reafirmar isso, foram os nossos ilustríssimos compositores e intérpretes da MBP. Inventaram de colocar nas letras de suas músicas que a gente devia se arrastar, se humilhar, apanhar, fingir que era feliz sem ser, ficar em casa feito idiotas fazendo docinhos com açúcar e com afeto, guardar o melhor vestido pra quando o cara resolvesse aparecer. Até que a gente pesava feito cruz nas costas deles e ficava em mil pedaços toda vez que alguém saía da nossa vida, passando não sei quanto tempo vivendo com o intuito de mostrar que estava bem demais. Deixaram a casa vazia pra gente lembrar da pessoa em cada canto ou até mesmo dentro de um livro. Vivemos de enumerar desamores e suas consequências. E assim, quebramos xícaras, arranhamos discos, pixamos muros, andamos sem rumo na rua e voltamos pra casa, abatidas e desenganadas da vida, exatamente como nos ordenavam as vozes de diversas mulheres. Nos disseram que a canção só tocava na hora errada e a gente só queria saber de que forma mesmo eles iam embora. Depois virava um barco, sem porto, sem rumo, sem vela ou pista vazia esperando aviões. Enquanto cantavam em alto e bom som que o amor só é bom se doer, e que ainda que a gente rodasse o mundo continuaria gostando daquela mesmíssima pessoa. Sugeriam-nos começar tudo outra vez mesmo sabendo que lá no fim ia dar tudo errado de novo. Criaram essa coisa de que o amor não tem pressa e pode esperar em silêncio, só pra querer viver pra esperar, esperar e se interessar por raspas e restos. MPB você só nos ensinou a sofrer.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Fim.

Nossa história acabou antes mesmo da gente se encontrar. Enquanto eu andava desavisada pela vida, achando-me pela primeira vez preparada para encontrar alguém, tudo já estava escrito e finalizado.  E cada dia que a gente viveu essa história só foi mesmo um dia mais próximo do final. Eu não consigo lembrar direito das primeiras palavras que você me disse, porque elas eram as primeiras palavras a se aproximarem das últimas. E assim, cada beijo que a gente deu, foi apenas um beijo a menos numa soma de não sei quantos beijos que cabiam no espaço do que tínhamos que viver. Cada saída, cada noite de sexo, cada telefonema, cada mensagem, cada presente, era só mais um passo numa caminhada de uma só via. E eu não consigo perceber o quanto fomos felizes porque eu estava muito perto de ser infeliz. Por isso, naquele encontro que eu tinha certeza que era o último, eu não me lembro de ter chorado ou sentido, porque ele já estava previsto desde a primeira troca de olhares. E todos os outros encontros foram nada mais do que meros antecessores. Eu sofri a vida inteira em tão pouco tempo, justamente porque eu sabia que esse pouco tempo estava escrito no meio da minha vida inteira. E até hoje eu não tenho a dimensão exata do nosso fim porque desde o começo ele já acontecia. Já ia se acabando aquilo que só começou pra terminar.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Novidades em Outras Palavras

Novo texto na seção Outras palavras. Sobre o tal do amor. Leiam!
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O que eu chamo de amor

Quando uma mulher decide povoar o mundo com o melhor de si não há engano. E só a isso eu consigo chamar de amor. Na minha vida eu não amo ninguém com a intensidade que amo a mulher que me trouxe a esse universo. Meu coração não consegue bater tão forte por mais ninguém além dessa pessoa. Há mais de duas décadas, num tempo em que ela trazia consigo poucas certezas, aquela mulher decidiu por ela mesma, sem intermédio, consulta, apoio ou conselho que iria gerar a pessoa com quem viveria sua mais linda história de amor. Não foi erro, vacilo ou engano, até porque só é o que tem que ser. Quem já a conhece de tempos, mal se lembra como ela era antes daquela vida. Aquela mulher que renasceu junto com a outra lá naquele agosto, deve ter sentido ao olhar para aquele ser, que era só seu e de mais ninguém, que ali recomeçava o mundo, pelo menos o seu mundo. O carinho, o afeto, as melhores coisas que ela pudesse fazer, faria infinitamente por aquela pessoa e graças às energias que se responsabilizam pelos encontros e desencontros dessa e das outras encarnações. Assim, a vida toda trataria de ser de amor recíproco e de inabalável cumplicidade. Coisa que só quem sente sabe e entende e que quem vê só se baratina. Porque aquela mulher fez um pacto que não foi lavrado em nenhum cartório ou tabelionato, mas que vale mais do que qualquer palavra escrita ou papel impresso. De mãe, de filha, de irmã e amiga de quem não levanta um dia sequer sem desejar a felicidade da outra. Que ensinou a voar mesmo tendo tanto medo de que ela se perca em seus vôos. Aquelas mulheres sabiam que se um dia a vida não desse a elas mais nada, já teria dado muito, pelo simples fato de terem uma a outra. Juntas nada parece tão abalável, nem aterrador, nem mesmo a mesquinhez de quem dia após dia vive de invejar aquele amor, por ser incapaz de mensurá-lo. Coisa de quem não sabe o que é amor e vive confundindo com relações efêmeras. Tem sido assim e assim continuará sendo, duas mulheres vivendo suas vidas dia após dia, amparadas pela certeza de que amor real mesmo só esse, de filha pra mãe e de mãe pra filha.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Olhe pra você

Eu vou te pedir pra você parar um minuto e olhar pra você e eu também quero olhar pra mim. Mas, eu me comprometo a me olhar de verdade. Fundo. Me arrisco até a tentar me entender (tarefa difícil!). Porque na vida a gente passa tanto tempo apontando pra os outros. Falando dos defeitos e qualidades alheios e pondo em terceiros uma série de culpas. Tudo isso, porque se olhar às vezes pode ser tão chocante, que é melhor desviar atenção pra qualquer outra coisa, ao invés de encarar nós mesmos. Hoje eu quero me ver e quero que você se veja também. Não é pra ficar na frente do espelho pensando na forma, no físico. Tem gente foge o tempo todo da pessoa que é, se mascara, se engana. Agora você precisa ser você mesmo, não aquilo que acha que é, muito menos o que tenta ser.  Tem que ser você de verdade. Quero que você se veja por dentro, tenha uma conversa franca, entenda o que tem feito por si mesmo, se culpe, se questione, se perdoe., essas coisas. Parece fácil? Então vamos tentar! Acho que é assim, olhando pra dentro, que a gente começa a entender o que se passa aqui fora.

domingo, 28 de novembro de 2010

O buraco é mais em cima

Desde que começou a exaustiva repetição das cinematográficas imagens de dezenas de homens fortemente armados migrando de uma comunidade para a outra em carros, motos ou a pé, dando mais uma amostra do quanto é realmente organizado o crime nas favelas cariocas, não faltaram coletivas de comandantes cheios de estrelas e frases de efeito, além de comentários de antropólogos, sociólogos e outros acadêmicos em bancadas de telejornais. As Forças Armadas fizeram questão de exibir seus blindados, tanques de guerra, óculos para visão noturna e atiradores de elite que seriam usados na grande operação para exterminar os homens que, reza a lenda, não deixam a Cidade Maravilhosa em paz. Tudo bem faraônico, bem surreal, bem com cara de roteiro de cinema.

Porém, ainda que todo mundo tenha uma opinião sobre o que está acontecendo no RJ, ainda mais em tempos de Tropa de Elite 2, e muita gente esteja batendo palmas para as ações das não sei quantas polícias envolvidas nessa história, não é possível que as pessoas queiram ser inocentes a ponto de achar que isso tudo acabará bem, como  em um filme Hollywood. Ou que existem mocinhos e bandidos numa situação que pode ser caracterizada por tudo, menos pelo maniqueísmo. Ou alguém aí acha que a polícia e os políticos não tem nada a ver tráfico?

Dizem que as ações foram comandadas da cadeia pelos grandes personagens do narcotráfico no Brasil, mas ninguém se pergunta qual estrutura assegura que eles consigam de dentro de presídios de segurança máxima, comandar essas ações. Nenhuma fonte oficial sabe explicar como aqueles homens conseguem ter armas que só mesmo o exército poderia ter. Ou como suas mulheres estavam morando em mansões e dirigindo carrões. Onde estava o serviço de inteligência da polícia enquanto todos esses homens construíam seus impérios? E não é muita coincidência que tudo isso esteja acontecendo logo após a reeleição do governador do Rio? Ao assistir as notícias alguém se pergunta o que significaria os 30 mil dólares encontrados ontem, na mochila de uma criança? Pois é, parece que, contrariando o ditado, o buraco é bem mais em cima.

Mas tudo bem, o presidente  em fim de gestão, disse de lá da Guiana que apóia qualquer coisa. Que ótimo, né? Assim fica bem mais fácil. Enquanto isso o tal comandante geral da PM carioca disse essa manhã, em mais um de seus momentos de glória no estilo Capitão Nascimento, que vai levar a liberdade (?)  ao Complexo do Alemão  e que a operação até agora está sendo um sucesso. Porém, qualquer pessoa sensata, mesmo sem ter sido treinada ou sem ter estudado para desvendar ou desenvolver estratégias relacionadas à associações criminosas, sabe que essa história de fazer busca minuciosa em um lugar que abrange oito favelas e tem cerca de 420 mil moradores, não vai dar certo. E que, no fim das contas, a polícia está só sendo autorizada a fazer o que já faz todos os dias: invadir as casas das pessoas e matar indiscriminadamente num país onde, ainda que existisse pena de morte, as pessoas precisariam ser julgadas antes de executadas.

A verdade é que lá no fundo o problema não é a fuga, o tráfico ou as armas. O caldeirão que é hoje o Rio e outras cidades do Brasil é fruto de um problema que não se resolve com metralhadora, carro blindado ou pronunciamento em coletiva de imprensa e que, também não começa na favela, nem no comércio da cocaína ou da maconha. Mas, como sabemos, contado assim fica muito menos trabalhoso.

domingo, 21 de novembro de 2010

Cheia de tempo

Você precisa ter tempo pra acordar e poder ler uns três sites de notícia e saber como está o tempo antes de sair sem esquecer que tem que dar tempo de chegar à academia e pegar aquela aula que você não fez na semana passada quando perdeu seu tempo recolhendo as contas de água, luz e telefone a fatura do cartão que precisavam ser pagas a tempo de você chegar ao trabalho e não receber uma bronca do chefe que precisa ter um tempo para conversar com você antes do almoço e aí pela correria que é seu tempo só vai dar pra comer um lanche enquanto perde um bom tempo ouvindo sua amiga contar que o namorado resolveu pedir um tempo e você promete que conversarão quando você tiver mais tempo porque naquele momento você vai correr pra dar tempo de chegar em casa e ainda ter tempo de terminar de ler aquele livro que você começou há muito tempo mas que precisa dividir o tempo dele com o daquela série que há pouco tempo você passou a acompanhar pois fala de um tempo muito parecido com o que você está vivendo há tempos isso até que sua mãe ligue e vocês fiquem conversando por um bom tempo no qual você não vai fazer nada além de falar que vive sem tempo porque tem o namorado, a depilação, o ginecologista, o relatório, o supermercado, o curso de inglês enquanto sua mãe que vem de um outro tempo apenas vai te dizer que tempo você tem o que você não tem é vida nesse meio tempo.

sábado, 20 de novembro de 2010

Boa noite, Cinderela!

Ao ler alguns sites de notícia essa semana, me senti no século XIX. Isto porque, tenho uma enorme dificuldade de entender a necessidade da manutenção dessa coisa de rei, rainha, príncipe, princesa, conde, duque, nos dias de hoje. Nada mais ultrapassado do que uma família se achar designada por Deus, a comandar seja lá o que for, em pleno ano de 2010. Tudo soa totalmente fora realidade. E, como disse o ator Ricardo Blat ontem no programa de Astrid, parece que tudo isso está acontecendo em Marte ou Júpiter. 

Ela é filha de uma ex-aeromoça que graças a muito trabalho tornou-se dona – junto com o marido- de uma companhia aérea. Ele tem um pai que nunca precisou trabalhar de verdade porque nasceu no berço da nobreza britânica e, uma mãe que era considerada desajustada para ser integrante da família real e morreu em um estranho e mal explicado acidente de carro há alguns anos. Eles são Kate e William, dois jovens que preencheram os noticiários ao anunciarem seu noivado essa semana. Algumas manchetes apresentavam como título pra notícia: O Príncipe e a Plebeia. Pra virar a história da Cinderela, só faltou a madrasta, né? Dá pra acreditar?

A futura princesa, muito bem educada nos melhores colégios e frequentadora do alto círculo social britânico, cede sua discrição como garantia para entrar e não atrapalhar a calmaria da vida palaciana. Os tablóides não perderam tempo e foram resgatar colegas dos tempos de colégio de Kate para dar entrevistas jurando que a menina nunca foi vista bêbada, era capitã do time de hóquei e não aprontava nenhuma daquelas coisas que qualquer adolescente normal faz. Ou seja, ela está apta e agora podemos ter certeza que depois da meia-noite, Kate não vai virar abóbora.

Entretanto, como a noiva real não tinha fada madrinha e nem ratinhos para confeccionarem seu vestido ela usou, no anúncio oficial do seu noivado, um modelito de seda azul feito por uma estilista brasileira, o que já causou ciúme nos costureiros ingleses. Pra completar, ganhou de seu noivo um anelzinho básico de ouro branco com uma safira e rodeado de diamantes, que pertenceu a Lady Di (que também estava de azul quando ganhou o anel em seu noivado há quase 30 anos). Mas, caso Kate não esqueça algum sapatinho de cristal em um lugar qualquer que desagrade Sua Majestade Elizabeth II, ela não terá o mesmo fim trágico da última proprietária do anel.

Como, embora pareça, não estamos em um conto de fadas da Disney e em nenhuma parte do mundo, nem mesmo num país onde há súditos e reis, alguém quer perder uma oportunidade de ganhar dinheiro, o enlace já está aquecendo a economia da terra da rainha. Analistas dizem que apenas a venda de suvenires do tipo canequinhas com a cara do casal (sim, as pessoas querem tomar o chá olhando pra cara daquele menino insosso), pode gerar 20 milhões de dólares e o setor de turismo deve estar tão feliz e ansioso como a mãe da noiva, já que espera faturar 80 milhões com esse evento. 

Nessa história toda, grupos anti-monarquia - a galera “do contra”- estão fazendo campanha pra que a família real pague a conta do casamento, até porque os nobres têm mania de fazer com que os cidadãos banquem através de impostos as festinhas privadas que rolam nos palácios do reino. Enquanto isso, não é difícil encontrar na internet previsões de metres e sábios orientais alertando que o casamento só será duradouro se a futura princesa tomar um “Boa noite Cinderela” e fechar os olhos, porque o herdeiro do trono não será nada fiel, como vive acontecendo por aí em famílias reais da realidade e não da realeza.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Uma porta

Quando não dá para simplesmente meter o pé na porta e convidar as pessoas à conhecerem sua história, você tem que ficar esperando que alguém abra essa porta pra você. Eu estou batendo, querendo esmurrar essa porta, pra dizer: tô aqui. Porque eu não quero nada pronto. Eu sempre quis apenas a oportunidade de poder aprontar as minhas coisas. Só quero uma porta aberta pra esse mundo.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O olho da rua: tão real que até parece ficção

Seja ao narrar o percurso de índias sexagenárias que navegam a qualquer hora do dia ou da noite por rios infestados de jacarés para trazer ao mundo uma, duas ou até três gerações ou ao transcrever o sofrimento de mães que começam a pagar os caixões de seus filhos cinco anos antes deles serem assassinatos pela certeza de que eles não resistirão à mira certeira do tráfico de drogas, a premiadíssima jornalista Eliane Brum expõe com sua admirável prosa, histórias que parecem realismo fantástico, mas que não passam da mais pura realidade vivida no Brasil.

Li em dois dias, mas com dois anos de atraso,O olho da rua (Editora Globo, 2008), uma verdadeira aula de jornalismo da repórter especial de Época, escritora e cineasta, Eliane Brum, de quem eu particularmente já gostava desde que fui apresentada a seu trabalho no meu terceiro semestre da graduação. Ainda que o livro de Eliane não seja direcionado só a jornalistas, até porque ele é fruto da reunião de dez grandes reportagens publicadas na Revista Época, eu o indico principalmente para todos que pretendem se tornar bons profissionais da área. Porque ao invés de apresentar técnicas ou nos falar em tom didático como muitas obras que eu li ao longo do curso, esse livro nos mostra através dos resultados, as qualidade necessárias para ser um jornalista do tipo que ouve e escreve muito bem.

O breve e rico prefácio escrito por ninguém menos do que Caco Barcelos, já nos mostra um pouco da qualidade do trabalho presente nas 420 páginas, nas quais Eliane mostra também, após as matérias,  um pouco dos bastidores de cada reportagem e também aquilo que cada personagem, lugar ou entrevista causou em sua vida como um todo, para além dos limites da profissão de repórter.

A autora vai, linha a linha nos inebriando com o seu exímio dom de saber utilizar as palavras. É um texto tão vivo quanto à realidade por ele apresentada, contendo frases e citações hermeticamente bem arranjadas, precisas e absolutas, que conseguem transpor o leitor a um mundo familiar ou extremamente desconhecido. Eu, por exemplo, que tenho tido uma vida plenamente urbana me sinto dentro da floresta ao ler: “A parteira da Amazônia dá adeus enquanto nossa canoa some no rio. A arara observa de um galho, um bando de papagaios corta o céu aos gritos, uma menina banha-se na água do igarapé preparando-se para a escola.” É exato. São paisagens, cheiros, sabores e sensações muito plenos e bem apresentados.

Eliane descortina o país e narra a todos que gostam da palavra bem escrita, o que se passa desde os confins na Selva Amazônica até o Planalto Central. Ela traz ao leitor as coisas que teve o privilégio de ouvir em um asilo carioca, numa rodoviária roraimense, numa fila de desempregados ou numa enfermaria em São Paulo, com uma precisão invejável, para aqueles (que assim como eu) um dia se lançaram à seara de tentar escrever literatura da vida real, ou que apenas se interessam por leituras do gênero. Eu consegui sentir cada passagem descrita pela autora, angustiei-me, ri, em alguns momentos senti um indescritível nó na garganta e na maioria das entrevistas invejei a jornalista por ainda não ter tido as oportunidades ímpares de viver algumas experiências que ela teve ao longo das apurações. 

As imagens capturadas pelos fotógrafos da Época durante as reportagens também merecem elogios à parte. Apresentadas no livro em preto e branco, as fotografias mostram através de planos ótimos (muitas vezes inusitados para o fotojornalismo) um pouco do que era visto naquelas peregrinações jornalísticas.

Na medida em que o livro ia chegando ao fim eu ia me sentindo meio órfã, meio abandonada, como costuma ser quando leio obras com as quais me identifico. Nesse momento eu já não consegui diminuir o ritmo da leitura, para que ela durasse mais tempo e sentia as palavras escorrendo das páginas para minha vida. Ao terminar, volto e releio a apresentação escrita pela autora (tenho essa mania), concordo com sua descrição sobre o que é seu livro. Por isso, escrevo aqui para recomendá-lo a todos que se sentem carentes de um bom texto pra ler – sinto-me assim entre um livro e outro- desses que nos mexem por dentro e nos direcionam a uma lenta digestão de todas as sensações que nos proporcionaram. Leiam!

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Quem está perto de deus?

O que será estar perto de deus? É ficar longe dos seus iguais e de todos os seus defeitos e podridões? É depois de roubar, estuprar e matar se achar mais puro porque se converteu a essa ou aquela denominação e recomeçou sua vida? É na clausura de um convento, mosteiro, retiro ou vigília, orar pelos pecadores que não chamam deus pelo mesmo nome que você? É não perdoar quem aborta, mas abafar um sem número de casos de pedofilia? É pregar o desapego aos bens materiais e enriquecer as custas das mensalidades pagas pelas pessoas que acreditam estar diante de um mensageiro das palavras sagradas? Será que aquele que em silêncio, agradece pela vida, respeita as outras pessoas e os princípios e forças da natureza e apenas acredita que existe algo maior, não está mais perto de deus que qualquer outro? Por quanto tempo as pessoas deslocarão parte de seus salários acreditando que o dinheiro, coisa criada pelos homens, é capaz de comprar um lote em algum condomínio divino?  Por que é preciso condenar todas as outras formas de culto para a volta de alguém que vá salvar a humanidade das desgraças que ela mesma provocou? E até quando as pessoas tomarão como indiscutíveis as palavras de livros escritos por outras pessoas de carne e osso como nós? Explodir mesquitas, sinagogas, templos, terreiros, não é agir como aqueles que queimavam pessoas em praça pública lá na Idade Média? Religião tem mesmo a ver com entregar panfletos no meio da rua e falar pra quem não quer te ouvir em ônibus lotados? Deus precisa ver pegar fogo uma montanha de papéis cheios de pedidos, para atendê-los? Qual deus vai dar ouvidos a quem acende velas e faz não sei quantas coisas para destruir a vida de outra pessoa? Deus deseja mesmo que alguém seja arrastado pelos cabelos em um templo lotado para que os mais habilitados tirem o demônio apossado do corpo da pessoa? Que deus precisa que as pessoas matem-se umas a s outras usando como pretexto uma luta em nome dele? Então quem é mesmo que está mais perto de deus? 

Os eternos personagens

Não gosto de gente que acha que entende tudo de filosofia porque leu uma obra de Nietzsche.
Ou que pensa que é mais culto por ter assistido meia dúzia de filmes de arte.
Detesto gente que acaba de te conhecer e acha que te conhece mais do que quem convive com você a vida inteira, porque artista tem mais sensibilidade.
Odeio quem diz que vai aprender até russo, mas não vai aprender inglês por posicionamento político.
Não tenho saco pra quem diz que não compra carne em casa, mas que quando chega na casa dos outros come a carne que tem e que não tem.
Me irrita esse povo que diz que vive de arte, mas que tem alguém pra pagar suas contas no fim do mês.
Acho graça de quem fuma um cigarro atrás do outro e vem falar mal de quem toma remédio pra emagrecer.
E mete o pau nessa ou naquela política, mas sobrevive desse e daquele edital.
Não suporto quem diz que alcança a plenitude porque pinta um quadro, mas morreria de fome senão tivesse um bom marchant.
Fico puta com essa gente que acha que você tem uma vida medíocre porque trabalha de segunda a sexta, das 8 às 18, como se a única forma de viver que valesse a pena fosse sem horários.
E que vive um eterno personagem, encarnado até mesmo em um almoço de família 
Acho hipócrita quem fala de coletividade, mas que não consegue fazer nada com quem vive fora do seu mundinho.
E quem ouve mantra e medita o tempo todo, mas não troca uma palavra com ninguém da família.
Tenho vontade de rir de quem dorme paty e acorda hippie e cheia de novos conceitos.
Não tenho saco pra quem acha que vive perto de Deus porque vive de arte.
E odeio quem esquece que quando desce do palco deixa de ser o centro das atenções.
Mas, eu tenho ojeriza mesmo, de quem puxa saco de gente assim.

sábado, 13 de novembro de 2010

Só se vê na Baêa!

Não acompanho futebol, pra que tenham noção, nem mesmo na Copa do Mundo eu me visto de verde e amarelo e perco 90 minutos na frente da televisão, prefiro dormir durante as partidas.  Não faço a mínima ideia do que é um escanteio ou um tiro de meta. Não tenho noção da diferença entre zagueiro e volante. Nunca pisei em um estádio em toda minha vida e sei mais da vida pessoal dos jogadores do que de sua trajetória no mundo da bola. Vale ressaltar que isso não tem a ver com aquela máxima de que futebol é coisa de homem, até porque, minha irmã caçula e minha mãe, assim como milhares de mulheres, sabem e acompanham tudo do esporte.

Ainda assim, resolvi escrever sobre a euforia que está tomando conta de Salvador hoje, devido a possibilidade do Esporte Clube Bahia, talvez voltar à série A do Campeonato Brasileiro, a depender do resultado de seu jogo contra a Portuguesa. É isso mesmo que vocês leram, não é final de campeonato, não é Copa do Mundo, não é nem primeira divisão, na equipe não há nenhuma ressureição de Garrincha ou algum aspirante a fenômeno. Mick Jagger ou Beyonce também não estarão no estádio. Mas o exército de tricolores está numa excitação sem fim.

Não pensem que digo isso porque não sou nem Povão e nem Bamor, ou porque tive que suportar meu vizinho ouvindo o hino do Esquadrão de Aço desde às 8 horas da manhã e nem pelas centenas de fogos de artifício que ouço daqui de casa. As manchetes dos jornais, as camisas, os bares, tudo transpira a expectativa da volta do Bahia a elite do futebol. As linhas de ônibus foram reforçadas e soube que os ingressos que custavam 20 reais, acabaram em sete horas e estão sendo vendidos pelos cambistas por nada menos que 150. Será que esse povo é louco? Não, louca devo ser eu que não sinto esse amor incondicional por um escudo.

Só acho que se os torcedores do Bahia tivessem nascido no Oriente Médio, certamente virariam homens-bomba pra morrer por suas nações, porque vivem o mesmo nível de fanatismo. Prova disso foi a recepção do time na última semana, a qual causou um transtorno gigantesco no aeroporto de Salvador e ainda foi marcada pelo roubo da mochila de um dos jogadores. Alguém teve a ideia de transformar essa odisseia em documentário? Porque as cenas são cinematográficas e eu soube que estão fazendo campanha na internet pra que devolvam o notebook que estava dentro da sacola.

Além disso, apesar de não ser fevereiro, foi divulgado que cinco trios desfilarão pela Orla da cidade (tenho pena de quem terá que passar por lá), caso o Baêa - como é carinhosamente chamado por seus seguidores - consiga a proeza de pelo menos empatar com o time paulista. A cantora Claudia Leite parou de falar um pouco sobre o Grammy Latino e disse que se pudesse iria chegar de helicóptero no meio do estádio para prestigiar o “seu” Bahia. Ricardo Chaves, já confirmou que puxará um dos trios.

Enquanto isso, a PM implora pra que os neuróticos apaixonados não invadam o estádio, como em novembro de 2007, quando o time passou da 3ª pra 2ª divisão após um empate de 0 x 0 com o Vila Nova. Nesse dia, enquanto a massa desvairada adentrava a Fonte Nova, arrancava bancos, placas e estava tão descontrolada a ponto dos jogadores terem que fugir correndo pra os vestiários, onze torcedores despencaram de uma altura de cerca de 15 metros e sete dessas pessoas morreram, marcando para sempre a história do estádio, que foi recentemente implodido.

Eu, aqui em casa fazendo tudo menos acompanhar essa maluquice toda, tento ficar fora dessa onda de orgulho e alucinação tricolor. Penso até na derrota do Bahia, só de sacanagem e só pra ser “do contra” mesmo.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Elegantemente reais

Conferi hoje no GNT.Doc o filme Obama e Michelle: amor no poder e simplesmente digo: assistam! 
O documentário que conta um pouco da história do primeiro casal negro a residir na Casa Branca, traça um panorama autêntico e apaixonante da vida em comum dos dois e da construção de toda essa popularidade- os Obama conseguem despertar mais interesse que os Kennedy. Não tem como não se emocionar com as declarações do presidente à primeira-dama, assim como é interessantíssimo perceber o quanto é forte e marcante a personalidade de Michelle, que além de ter tido uma brilhante trajetória em Harvard e se tornado uma das primeiras funcionárias negras da maior firma de advocacia de sua cidade e 6ª maior do país, fez com que sua história contribuísse para a eleição do primeiro presidente negro dos EUA. 

O filme mostra como os Obama se transformaram na família negra mais poderosa do mundo e como construíram essa fantástica empatia, a ponto de serem considerados uma espécie de “casal-modelo”. Michelle e Obama possuem extrema cumplicidade, ao mesmo tempo em que não abrem mão de discutir suas opiniões quando são divergentes (e isso não deve acontecer poucas vezes), a prova de que apesar de tudo eles vivem uma vida real. Pois é, Michelle e Obama são jovens, elegantes, inteligentes, comprometidos, vitoriosos, mas também possuem defeitos e sabem conviver com isso, eles vivem um amor palpável, uma relação de verdade, com o mínimo de manipulação, apesar de todas as coisas inerentes a preservação da imagem de um casal presidencial. 

O documentário conta com as contribuições de familiares, amigos, jornalistas, biógrafos, políticos e uma ótima seleção de imagens e vídeos da trajetória dos dois. Adorei o filme, assim como adoro a história deles. Indico muito. Vejam! 

Sou eu, porque a gente é o que vive e gosta

Sou mulher de Virgem , sou ascentende em Áries, sou agosto e por isso nem sempre sou festa.

Sou filha e irmã e já pensei em ser mãe. Às vezes consigo até ser namorada. Mas, gosto mesmo é de ser amiga.

Não sou gato, nem cachorro. Sou amarelo, sou branco e sou vermelho. Na escola eu era redação e nunca matemática.

No futuro serei Azzaro, Ralph Lauren e Calvin Klein, por enquanto sou Natura e Boticário.

Sou pouca maquiagem, sou vestidos, shorts e saltos ou rasteiras.

Deveria ser academia pelo menos três vezes na semana e podia tentar ser dieta de segunda a sexta.

Sou mais jornalismo do que tudo, sou fala, sou escrita.

Já fui novela, hoje sou séries e realities norte-americanos. Sou muito GNT e por isso acabo sendo Marília Gabriela, Oprah.

Sou mais teatro do que cinema e costumo ser show, barzinho, casa das amigas. Mas tem épocas que sou mesmo ficar quieta em casa.

Sou compras, compras, compras e por isso sou grana curta e dívidas longas.

Sou música, muita música, Elis Regina, Chico Buarque, Cazuza, Legião, mas sou também Alicia Keys, Beyoncé, Amy Winehouse e até Lady Gaga, sem deixar de ser Timbalada ou Revelação.

Adoro ser García Marquez, Isabel Allende, Saramago, Clarice Lispector, Fernando Pessoa. Da mesma forma que sou Almodovar.

Já fui revistas, e na internet sou gmail, MSN, Edifício no meio do mundo e não penso em virar facebook ou twitter.

Não sou fruta nem verdura, mas sou carne, frango e peixe. Sou feijoada, cozido, moquecas, churrasco, batatas fritas, um macarrão bem feito e na comida japonesa sou temaki e sushi.

Sou tortas da Viva Gula, brigadeiros feitos em casa, barras de chocolate, mas não sou balas ou chicletes.

Sou muito mais refrigerante do que suco e muito mais Coca do que Pepsi. Nunca fui cigarro e nem pretendo ser, já me basta ser chocolate e café forte.

Tem dias que sou cerveja e em outros, vinho ou vodka.

Sou Salvador, totalmente Bahia, mas um dia quero ser São Paulo, Havana, Nova York, Milão ou Paris, aí poderei ser Louis Vuitton e Armani.

Sou mais “muito obrigada” do que “me desculpe”.

De vez em quando sou silêncio, sou choro, sou porta trancada e poucos sorrisos. Mas gostaria mesmo de ser gargalhadas a qualquer hora.

E mesmo sendo muitas coisas ainda existem muitas outras que quero ser. Sou hoje, ontem, às vezes amanhã. Sou eu.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Leva

Hoje, fazendo uma faxina no meu computador, encontrei um texto que eu escrevi há um tempo atrás. Uma dessas coisas que a gente escreve quando precisa exorcizar algo. E, como eu gosto muito das coisas que escrevo nesses momentos, resolvi postar.


Leva
Vai e leva, por favor, esse gosto da sua boca que está todas as partes do meu corpo
Leva o seu calor que ainda está entre minhas pernas
Leva seu cheiro que ficou impregnado em meu cabelo, em minhas roupas
Leva todas essas palavras que você sussurrou em meu ouvido
Leva essa música que você insistia em cantar baixinho
Leva essa mania de fazer planos para o futuro
Leva essa ansiedade de esperar o seu telefonema
Leva minhas noites de insônia sentindo sua falta na cama
Leva essas lágrimas carregadas de raiva
Leva essa vontade de gritar que me sufoca
Leva essa incerteza de que você vem
Leva as mentiras que quase partiram meu coração
Leva as verdades que já me confundiram demais
Leva esse vazio que começou a preencher o lugar deixado pela sua ausência
Leva porque eu não preciso mais de nada disso e, ainda assim, penso em viver em paz

Daza  Ifá Ashanti Moreira
Junho de 2007

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Não pensar em nada é mais difícil do que pensar em qualquer coisa

Em quantas coisas você já pensou hoje? Desista. Você não vai mesmo conseguir contar. Porque a gente passa o tempo inteiro pensando em zilhões de coisas, até mesmo quando pensa que não está pensando em nada. É incrível. Todos recomendam que nossa mente entre em harmonia com nosso corpo. Mas o cérebro tem o costume de não deixar o corpo em paz, a ponto de querer tomar seu lugar e passar a sentir as coisas por ele, em vez de ficar lá quietinho na sua função de raciocinar. 

Nesse turbilhão descobri que estou sofrendo cada dia mais do mal denominado ansiedade. Essa coisa monstruosa que corrói a gente de dentro pra fora, empata nossas atividades mais triviais, dificulta nosso relacionamento com as outras pessoas, nos faz ter muita fome e pouco sono e, às vezes é tão assustadora quanto uma doença física, além de parecer só ter cura nos remédios de tarja preta que nos deixam meio lerdas o dia inteiro. Entretanto, eu tomei conhecimento que ansiedade pode ser amenizada se a gente tentar, por alguns minutinhos do dia, pensar um pouco menos. Mas, que tarefinha difícil, viu?

Soube que uma boa dica para não pensar em tanta coisa seria a gente tentar se concentrar e se imaginar como um gato a espreita pronto pra unhar o próximo pensamento que aparecer. Fixe nessa imagem e você conseguirá passar alguns segundos (talvez minutos) sem pensar em nenhuma outra coisa. É uma boa técnica para se desligar, mas não é o suficiente porque pra os outros pensamentos não chegarem você ainda precisa se manter só pensando no tal gato, qualquer escapulida e lá está um novo pensamento tomando conta do pedaço.

Lembro-me que no filme Comer, rezar, amar, que assisti há um mês com uma amiga, a protagonista Liz Gilbert viaja até a Índia em busca de paz espiritual (o “rezar” do título). Lá, longe da vida confortável que ela levava em Nova York, morando num mosteiro indiano onde ela tem que acordar antes do amanhecer, comer de mão e lavar diariamente o chão dos imensos salões do templo, a única atividade na qual Liz não obtém êxito é a meditação. Acreditem que ela, simplesmente não consegue se concentrar e desligar-se.

Pois é, esse ato de esvaziar a mente parece algo mais difícil do que a maioria dos trabalhos braçais e tudo por culpa da maldita ansiedade, que não serve pra nada além de encher nossa cabeça de pensamentos. Nesse mundo atolado de informação, no qual se torna quase impossível esperar por qualquer coisinha e tudo parece perda de tempo, o silêncio mental não é trabalho pra qualquer um. Haja habilidade e haja paciência, porque não pensar em nada é mais difícil do que pensar em qualquer coisa. Nas tentativas, vale focar atenção na respiração, sentir o ar entrando e saindo, mas ninguém garante que depois de cinco segundos você vai fazer com que sua cabeça viaje mais preocupada com o aluguel atrasado, os textos da faculdade, a festa do fim de semana ou o aquecimento global. 

Isto porque, aprendemos a pensar em tudo, menos a pensar em não pensar em nada. Que inveja eu tenho daquelas pessoas sentadas na posição de lótus longe desse mundo exterior que a gente vive! Ai que vontade de dizer: cala boca cérebro! E notar que ele obedeceu.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Muito obrigada, MEC!

“Pense num absurdo, no Brasil tem precedente!”. É parafraseando e adaptando a citação de Otávio Mangadeira, que eu começo a falar do ‘fim da picada’, como diriam os mais velhos. Mais de 4 milhões de brasileiros se prepararam para fazer uma prova, passaram por todo stress inerente a uma seleção e depositaram no Exame Nacional do Ensino Médio, dentre outras coisas, a esperança de cursar uma universidade. Coitados! 

O MEC fez o favor de gozar com a cara dos estudantes brasileiros e apresentou provas mal elaboradas e, inclusive, com os cabeçalhos dos gabaritos invertidos. Parece até brincadeira, soa como pegadinha, mas é verdade. Pra vocês terem noção, minha irmã, que foi uma das pessoas que tiveram a infelicidade de fazer essa avaliação no último fim de semana, falou que os fiscais mal conseguiam orientar os candidatos sobre como resolver o problema dos gabaritos. A dúvida sobre onde e como marcar a folha de respostas ficou pairando no ar e cada fiscal informou o que bem quis, com ordens sabe-se lá de quem.

Como se não bastasse o que ocorreu no ano passado, quando as provas vazaram enquanto eram reproduzidas em uma gráfica em São Paulo– mostrando o quanto o MEC é minucioso quando escolhe as empresas que irão prestar serviços desse nível de importância- fazendo com que o exame tivesse que ser adiado, gerando um custo de nada menos que R$ 30 milhões aos cofres públicos (nosso bolso), esse ano resolveram esculhambar de vez. Os problemas do Enem 2010 farão com que, no mínimo, o exame tenha que ser cancelado e reaplicado, o que já foi decidido por uma juíza federal. 

Enquanto isso, nosso ministro da educação, disse numa entrevista coletiva que vai convencer a justiça – ninguém sabe muito bem como ele fará isso - de que não é necessário anular o exame, porque as reclamações são muito pequenas em números absolutos e ele entrará em contato com a empresa que é responsável por nem sei quê. Eu achava que o responsável era o MEC, mas... Peraê, eu ouvi bem? Ele não pediu nem um: “me desculpe, por ter te tirado de casa dois dias e ter te colocado pra fazer uma prova mal feita e atrapalhada”. Me poupe, hein Ministro?!

Pois é, parece que perderam tanto tempo preocupados em proibir os candidatos de usarem lápis, relógios, isso ou aquilo que se esqueceram de elaborar uma avaliação minimamente digna. Depois de 180 questões, 10 horas de provas, dois dias de engarrafamentos, tensão e concentração, o Enem só serviu para mostrar, mais uma vez, o quanto se preocupam com a educação em nosso país.

domingo, 7 de novembro de 2010

De volta aos 15

 Não era bem mais fácil lá nos 15? Ter aquele namoradinho que você só podia dar uns beijinhos ali na porta de casa na sexta, sábado e no domingo das 20h às 22h? E vocês se despediam apaixonados sob os olhares atentos de sua mãe como se não fossem se ver tão cedo. Você ficava pensando nele durante aquela aula chata de matemática e rezava pra que ele conseguisse acordar um pouco mais cedo pra vocês pegarem o mesmo ônibus para ir à escola e aqueles míseros 20 minutos juntos no caminho eram tão deliciosos e infinitos. O beijo era a coisa mais excitante do mundo porque não existia sexo antes, nem depois dele. Seu único dilema sexual era perder ou não a virgindade. E enquanto isso não acontecia você não tinha que se preocupar com a hora de tomar o remédio e ele não precisava se preocupar em ter dinheiro pra pagar um motel. E vocês só rezavam mesmo pra que sua mãe liberasse você pra ir ver um filme na casa dele, com a porta do quarto aberta e a avó dele passando para lá e para cá. Era tão lindo escrever aquelas cartinhas como se na sua vida não fosse existir mais nenhum homem. E nada te alegrava mais do que saber que ele tinha juntado um dinheirinho pra te dar um CD de presente no dia dos namorados. E só o que fazia seu coração se desesperar era alguma prima que ia passar o fim de semana na casa dele ou alguma colega mais atiradinha do colégio. Você não esperava torpedos porque não tinha celular e não esperava e-mails porque não tinha computador. Então você sofria 10 vezes menos. Como era tranquilo viver assim. Esperando sua mãe dormir para que vocês pudessem conversar bastante no telefone. Era ótimo não ter que se preocupar se ele tinha carro ou não, além de ter uma sogrinha que lhe mandava sobremesas nos finais de semana, porque você era só uma menina e era como se fosse filha dela. E você, tola que era, só queria mesmo era fazer 18 anos. Ah se você soubesse! Os anos passam e acabam com tudo. Te apresentam a caras sacanas que querem te comer e você vai rezar pra eles não te ligarem no dia seguinte, te coloca frente a frente com sogras antipáticas que tratam os filhos delas como crianças e que te acham mesmo uma puta. Fazem você ter que se preocupar com os quilos que engordou depois do anticoncepcional e com o carro dele que foi pra oficina em pleno fim de semana. Aí alguém inventa o orkut pra você viver vidrada nas fotos, nos amigos, nos recados. Coloca a merda do celular dele na sua frente pra você ficar fuçando e obviamente vendo algo que não lhe agrada. Inventam a porra do engarrafamento pra você ter tempo de ficar discutindo relação dentro do carro e chegar p da vida no trabalho. Depois você é quase obrigada a ir a eventos onde você não conhece ninguém e tem que ser super simpática. Um saco. Nesse momento, tudo que você quer é voltar a ter 15, mas não dá.

sábado, 6 de novembro de 2010

Por que a polícia é assim?

Li no site do Correio, que oito policiais armados com pistolas e metralhadoras invadiram um assentamento em Ilhéus, prenderem e torturaram uma ialorixá que, simplesmente mostrou aos policiais que conhecia seus direitos e solicitou a eles a apresentação de uma ordem judicial para entrar naquela área que pertence ao Incra, órgão federal. O pedido de Bernadete dos Santos foi o suficiente pra que ela fosse algemada, arrastada pelos cabelos por cerca de 500 metros e jogada num formigueiro, na frente de outros moradores do assentamento, inclusive de sua neta de 4 anos que suplicava para que os policiais não levassem sua avó. Como se não bastasse, ao ser conduzida à delegacia, Bernadete foi colocada numa cela masculina. 

Esta ação da polícia mostra um misto de violência policial e religiosa, uma vez que os PMs gritavam que as formigas eram para ‘afastar o satanás’ e, ao jogarem Bernadete na cela repleta de homens, eles riam, ironizavam e ainda relataram no boletim de ocorrência que ela sofria de insanidade mental. Tudo isso porque a ialorixá estava incorporada pelo orixá Oxóssi. Segundo a matéria do Correio, já foi aberta uma sindicância e, apesar dos PMs continuarem trabalhando normalmente, eles estão sendo investigados. Organizações ligadas ao Movimento Negro e do Movimento Sem Terra estão mobilizadas para que o ocorrido seja esclarecido e devidamente solucionado.

Senti-me indignada ao ler essa notícia. E continuo querendo entender por que mesmo que a polícia é assim. No fim, lembrei-me que Oxóssi, um verdadeiro rei, o habilidoso caçador de uma flecha só que nunca erra seu alvo, o homem que protege nossas matas e florestas, o senhor da fartura cujos filhos geralmente têm como atributos astúcia, inteligência e cautela, foi capaz de salvar sua filha da morte e certamente fará com que a justiça prevaleça. 

É que eu preciso aprender a ser só

      Uma vez coloquei no meu msn “Eu preciso aprender a ser só” e algumas pessoas começaram a me questionar indignadas porque eu tinha escrito isso. Mas qual é o problema de ser só? Li outro dia em um blog um texto sobre a afirmação de que é impossível ser feliz sozinho e comecei a perguntar a algumas pessoas se elas concordavam. Foi quase unânime a concordância, exceto pela opinião de uma pessoa muito parecida comigo que também acha que é possível sim ser feliz sem essa necessidade eterna de busca por um relacionamento. Tom Jobim que me desculpe, viu?
       Ok, não estou dizendo que eu acho ruim ter alguém para passear, conversar, fazer sexo, sentir ciúmes e etc, eu acho bom sim, porém me intriga essa necessidade de procura (ou espera) pelo outro, como se a vida não estivesse completa sem um relacionamento. Qual é o problema de não ter ninguém, minha gente? Conheço tantos relacionamentos que são dez mil vezes piores do que qualquer abstinência de companhia masculina ou feminina. Então porque não aprendemos a sermos felizes sozinhos, por nós mesmos, com nossos amigos, nossos livros, nossas famílias, nossos empregos e uma boa internet bandalarga? E por que insistem tanto em confundir solteirice com solidão? E solidão com depressão?
       Ninguém soube me explicar isso, apenas me diziam que a vida era mais completa tendo alguém. Li outro dia na internet (não lembro bem onde) sobre uma pesquisa mostrando que as mulheres brasileiras apesar de mais escolarizadas e etc, ainda sonham noivar, casar na igreja e ter filhos. Fiquei tão chocada como quando Carrie casou com Big em Sex and the city. Século 21 e elas ainda esperam a metade da laranja! Sinto muito meninas, mas eu só quero comer os doces dos casamentos de vocês, comprar um apartamento lindo e um filhote de chow chow, ter um chefe pra falar mal às sextas-feiras numa mesa de bar, dinheiro pra jantar fora 3 vezes na semana, um closet atolado de roupas e sapatos, aprender francês e conhecer Cuba e Nova York. Que mal tem?
       Sim. Eu preciso aprender a ser só mesmo. Posso namorar, conhecer caras legais, me apaixonar várias e várias vezes, mas não quero passar minha vida esperando por isso. É muito pouco, eu quero desejar mais do que ter um novo sobrenome e um anel na mão esquerda. Posso?