sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O exame de desordem

Atendendo a um pedido, resolvi escrever do alto da minha ousadia, sobre a novela que estreou essa semana após a divulgação do resultado da 2ª fase do exame da OAB, 2010.2. Não deu no The New York Times, mas foi parar nos noticiários da Rede Globo, desde o matinal Bom Dia Brasil até o emblemático ‘Boa noite!’ de Willian Bonner. Os personagens principais da trama da semana são: a Fundação Getúlio Vargas – que fez o exame -, os bacharéis em Direito que não viram seus nomes na lista, mesmo tendo corrigido os gabaritos e estando crentes da aprovação, e a própria Ordem dos Advogados do Brasil.

Todo mundo, inclusive um dos maiores portais que divulgam informações sobre o exame, esperava aprovação recorde, mas só passaram pouco mais de 11% dos 106.041 e se deu uma sucessão de confusões. Primeiro o site da FGV ficou simplesmente fora do ar, sabe Deus por quanto tempo, enchendo de borboletas o estômago dos candidatos que tiveram que recorrer a downloads disponibilizados por almas caridosas que conseguiam acessar a lista. Depois voltou a poder ser acessado, mas tirou do ar o link para interposição dos recursos e quase matou do coração os reprovados que representavam 88% do total de candidatos. Em seguida, os espelhos das provas também estavam errados e tiveram que ser republicados. O prazo para recorrer precisou ser prorrogado, até agora, por nada menos que quatro vezes. Começou até a circular nota de repúdio. Nada estava explicado, nada dava certo e, todos nós sabemos, pessoas que estudaram Direito odeiam coisas mal resolvidas.

Aí, pra acalmar o pessoal, lá vem o presidente nacional da OAB, Ophir Cavalcante, dar uma satisfação ao povo, porque com futuro advogado não se brinca. Disse que as provas tinham que ser recorrigidas, mas que quem passou tá passado. Assim, ele ficava bem com todo mundo. Mas, advogado é um bicho que futuca tudo e não dava pra mandar recorrigir assim, tinha que justificar de cabo a rabo ou invalidar tudo de uma vez só. Por isso, de quarta pra quinta, ele deu um moonwalk e disse que as provas não passariam por nova correção. Será que da pra o cara se decidir?

Nesse meio tempo, como já era de se esperar, um sem número de professores de Direito deram entrevistas falando sobre a maldita correção, defendendo com unhas, dentes e Vade Mecum seus aplicados alunos que gastaram tempo, dinheiro e disposição ansiando pela bendita carteirinha vermelha. Enquanto isso, quem passou treme de medo que role uma Ação Civil Pública, que - pra quem é tão leigo quanto eu - anula o exame inteiro e atrasa o lado de meio mundo.

O que eu sei é que essa é só a primeira vez que a FGV é a responsável por esta prova, até a última edição o exame era feito pela CESPE e, de tanta história, foi mudado. Mas, parece que o problema não é quem elabora, aplica e corrige a prova. Então o que é? Não é possível que uma avaliação cujo objetivo deveria ser apenas mostrar que as pessoas que estudaram por, no mínimo, cinco anos numa faculdade conseguem pensar juridicamente, possa virar um pesadelo desse tamanho. Conheço gente que sem nem ter diploma, circula e atua livremente pelos corredores do Fórum, porque é filho de não sei quem. Para esses, o exame e nada representam exatamente a mesma coisa. Por outro lado, vejo também bacharel que exerce a profissão com muito mais caráter e dignidade do que quem já tem inscrição no órgão, mas que não pode assinar seu próprio trabalho. Eu não desmereço os profissionais legalmente habilitados e nem sou a favor da extinção do exame. Eu, só não consigo entender, aonde mesmo quer chegar a OAB. Que bicho de sete cabeças é esse, que acaba nessa verdadeira desordem.

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