Eu sou de um tempo que, em lugar onde tinha adulto conversando, criança não podia nem passar perto. Existiam assuntos de crianças e assuntos de adultos. E quando não era possível nos tirar na sala, os mais velhos mandavam que a gente tapasse os ouvidos. Ainda que minha mãe sempre tenha conversado comigo abertamente sobre uma série de temas, sempre existiu limite para o que eu poderia ouvir, falar, vestir e, principalmente, assistir na televisão.
Só por isso, ainda que o mundo tenha mudado muito, é super difícil pra mim aceitar que as crianças estejam assim, cada dia mais sem limites e com a mente limitada, vendo um sem números de misérias veiculadas na televisão, para não falar da internet. Quem me conhece sabe que eu não sou burguesa e venho de uma realidade não muito diferente dos milhares de crianças que crescem nos bairros de onde só são noticiadas desgraças. Mas, me chocam as cenas que são transmitidas na hora do almoço todos os dias, de corpos cravados de balas; de jovens e velhos representando todo o infortúnio instituído pelo crack; de homens e mulheres marginalizados, drogados, sem teto, sem emprego, sem rumo; de crianças violentadas que voltam a ser vítimas quando são inquiridos por profissionais que esqueceram há muito, o que é ética profissional.
Não consigo entender como as pessoas conseguem comer todos os dias vendo essas cenas. Ainda que eu saiba que, muito do que é exibido nos programas de mundo cão, acontece ao vivo e em cores o tempo inteiro em nossa cidade entregue a barbárie, me incomoda a maneira como é feito esse infeliz jornalismo. Que, como todos devem saber, não existe apenas na televisão baiana. Me irrita que mães, pais, tias, avós deixem as crianças em frente a televisão vendo atentas as inúmeras maneiras de como a violência é capaz de destruir as pessoas. Tenho vontade de gritar: tirem as crianças da sala!
O mundo mudou, mas ainda é possível que as próximas gerações estejam menos expostas a crueldade e a brutalidade de universos tão miseráveis e irracionais. É possível que ainda se cresça, como eu cresci, acreditando que existe um mundo além, acreditando que com algumas ferramentas é possível transformar não só a nossa, mas várias realidades.
O que se vê em pleno meio dia em duas emissoras desta cidade, não precisa ser acompanhado por meninos e meninas ainda em formação, alvos fáceis para as desventuras, vitimizadas pela ausência de tudo, crianças tão próximas do caminho mais cruel e da vida que não passa dos vinte anos. Que sejam poupados, pelo menos os que ainda podem ter esperança.
POis é...mas nenhum político olha para isso,é uma vergonha o cenário de desgraça que passa meio dia na TV...as vezes os pais nao proibem,mas tb as vezes nem estao em casa, acho que tb tinha que partir dos homens da política, que sao pagos para isso, fazerem algo a mais pelas nossas crianças.!
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