terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Quando o tempo durava mais

Quando eu era criança tinha a impressão que os anos duravam mais do que duram nos dias de hoje. Parece loucura, mas sem dívidas e dúvidas existenciais me parecia que os 365 dias no calendário se arrastavam por uma eternidade. As férias demoravam, eram longas e super distantes umas das outras. O dia do meu aniversário era uma coisa que eu esperava com tanta ansiedade que até parecia que só acontecia de quatro em quatro anos.

Uma catástrofe ou um grande feito ficavam sendo lembrados por longas datas, vistos e revistos nos noticiários por várias edições. A gente não esquecia as coisas tão facilmente e as retrospectivas que a Globo fazia – e ainda faz – na última semana do ano não pareciam falar de coisas da década passada. A informação era bem menos perecível e descartável, porque a gente não podia acessá-la numa tela que cabia na palma da nossa mão, para saber o que acontecia no Brasil e no mundo, a gente precisava sentar em frente a TV na hora do Jornal Nacional e ai de quem desse um pio.

O réveillon era aquela data lá no final da folhinha, quando passava a corrida de São Silvestre na TV e nós (as crianças) tínhamos o direito de tomar um golinho de espumante - na época a velha e boa Cidra Cereser sabor maçã que podia ser encontrada em qualquer mercado perto de você – com nossas roupinhas brancas, novinhas. Quando dava meia noite, o único desejo para o ano que iniciava era que tivéssemos um bom rendimento escolar para escapar das reclamações de nossas mães e pais. Sim, na minha infância os pais tinham direito de reclamar com os filhos e de bater também. Os adultos ainda não tinham medo das crianças naquela época e ninguém criava trauma por causa de uma surra ou outra.

Talvez porque o tempo durava mais, duravam também as amizades e os amores. A gente não saía substituindo as pessoas, porque cativá-las era uma coisa que demandava esforço e vontade. Não tinha facebook pra achar todo mundo e saber da vida dos outros de cabo a rabo num simples clique. Para conhecer as pessoas era preciso estar com elas ao vivo e a cores e para tirar alguém da vida não bastava apertar o botão e excluir. Para discutir uma relação era preciso estar frente a frente porque não existia nenhum plano para falar a vontade por r$ 0,25. Para namorar só saindo de casa, porque não tinha o badoo para nos arranjar o par ideal. A conquista era demorada e por isso os relacionamentos valiam muito mais a pena.

O mundo evoluiu tanto, que foi preciso fatiar o tempo, foi preciso colocar mais velocidade na vida, pra que essa evolução não perdesse o sentido. Ganhamos com isso? Não sei. Às vezes, nem tanto.

3 comentários:

  1. Adorei seu blog. Parabéns pela desenvoltura nas letras... Sucesso garota !

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  2. Acho que perdemos na maior parte das vezes com essa urgência da época atual. Tudo ficou fragmentado e superficial. Passa-se por cima de tudo o que é mais profundo e extenso, inclusive o tempo. Também acho que com o próprio passar dos anos o tempo vai ficando mais curto, parece que corre contra... Belíssimo texto. Parabéns!

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