domingo, 2 de outubro de 2011

Agora o bullying explica tudo

Eu sou de um tempo em que tiro em escola era uma coisa que a gente só via em documentário americano. Bons tempos, em que comentários sobre a altura, os óculos, as pernas tortas, a gordura ou o tamanho da cabeça dos colegas eram apenas brincadeiras normais de criança ou adolescente, que rendiam no máximo uma advertência da coordenação do colégio. Não, eu não estou fazendo incitação à violência, ao preconceito ou à tortura psicológica. Só acho que algumas atitudes são inerentes a fase escolar.

O tempo passou e os tiros em Columbine chegaram ao Brasil. Chegaram e atingiram em cheio uma escola Realengo. Tirando a vida de treze estudantes e desesperando milhares de pais e mães que todos os dias mandam seus filhos às escolas desse país. O autor, que se matou em seguida, especula-se, dentre tantas conversas desencontradas, estaria se vingando do bullying que sofrera quando era aluno daquele mesmo colégio. Quem sabe? Talvez assim fique mais fácil de explicar. Parece que alguém teve a brilhante ideia de pôr a culpa de um atentado dessas proporções num trauma pelas gozações sofridas na infância e pronto: está resolvido.

Após cerca de seis meses, outra tragédia choca o país. Um garoto de dez anos atira na professora dentro de uma sala de aula e em seguida se retira e dá um tiro na própria cabeça, em uma escola em São Caetano, no ABC Paulista. No mar de desespero e controvérsias que ronda em torno do trágico episódio, começam a relacionar a história do menino - que só tirava boas notas, era tranquilo e etc -  com o fato de que ele era vítima frequente de bullying. Mas como assim? Agora o bullying tem que explicar tudo.

A arma levada pelo garoto pertencia ao pai dele - que é Guarda Municipal – e ninguém sabia que ele estava com ela dentro da escola. O tiro atingiu o quadril da professora, o menino se matou fora da sala. Será que ninguém imagina que simplesmente essa criança pode ter levado o revólver para mostrar aos colegas, numa atitude infantil e, portanto natural a alguém com dez anos de idade, e que após o desespero do disparo acidental na professora, ele transtornado cometeu o suicídio?

Mas, por que ninguém se pergunta o que faz uma criança entrar armada em uma sala de aula? Será que não seria mais adequado que se começasse um trabalho nas escolas para evitar isso do que ficar jogando a culpa desses atos fatídicos na revolta dos alunos diante de brincadeiras que sempre existiram e que continuarão a existir?

Nenhum comentário:

Postar um comentário