quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A corrida dos rótulos

Aos treze eu tirei a foto de Thiago Lacerda da capa do meu caderno e coloquei uma de Che Guevara, eu falava sobre Comunismo e Socialismo com a desenvoltura de um guerrilheiro e sabia a letra inteira de Faroeste Caboclo e outras músicas de Legião. Aos quinze eu li Cem Anos de Solidão, me apaixonei por Gabriel Garcia Marquez, devorei mais uma meia dúzia de títulos dele e entendia de Realismo Fantástico muito mais do que dos hormônios que borbulhavam em meu corpo. 

Porém, nessa mesma época eu passava todas as minhas manhãs de sábado ensaiando coreografias que nunca seriam apresentadas ao som de “Salvador mania de Pagode” um programa de rádio de uma emissora local que hoje eu nem lembro qual era, queria ir pra os shows e namorar até tarde como minhas primas e lia revistas de signos com galãs na capa. Quem era eu? Não sei.


O mundo vive tentando nos colocar rótulos. Fulano é cult, ciclano é fútil. Eu não me sinto confortável em nenhum deles. Posso falar sobre Foucault ou Nietzsche ou ainda sobre a trajetória de Joana Machado no programa A Fazenda 4. Entendo plenamente de algum desses três assuntos? Não. E não me importo nem um pouco com nada disso. Porque eu acredito que sabedoria é ter história e vocabulário para conversar tanto com antropólogo formado em São Lázaro quanto com o homem que vende a cerveja mais gelada da praia. E ponto final. 

Tem gente que acha que eu sou a pessoa mais metida do mundo porque cito Fernando Pessoa em meu facebook, gosto de ouvir Ray Charles tocando clássicos no piano, detesto erros de ortografia e vivo criticando tudo. Mal sabem que eu tenho músicas de Pablo do Arrocha no meu computador, não sei cozinhar, sonho todos os dias em ter dinheiro para me encher Victoria Secrets e Louis Vuitton e me critico pra caralho também. As pessoas querem nos enquadrar em algum perfil o tempo inteiro. Nos enfiar uma tarja e por na prateleira junto com outros “iguais”. Eu não aceito. Não me conformo e você deveria não se conformar também.

7 comentários:

  1. Amei o texto, boas verdades devem ser ditas... Consumir o que se diz futilidade (como quem come um hambúrguer) não significar ser consumido pelo mesmo. Eu acho que a pedida é viver sem culpa!
    Seguindo.

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  2. Obrigada. Seu comentário sintetizou o que eu penso. Seja bem vindo ao meu Edifício!

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  3. Carambaaaaaaa..... Só tenho a dizer que me arrepiei e me encontrei cem por cento nesse seu texto. O melhor de todos os tempos! Perfeito! A cada dia que passa sou mais sua fã! Escreve um livro com seu blog. #ficaadica
    Priscila Caribé

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  4. Valeu, Priscila!Vou pensar sobre sua dica, viu?

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  5. Acorda, Daza. Vc já escreveu um livro, lembra?

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  6. Kelly, ali foi um best seller, agora vai ser uma coisa mais simple!

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