Salvador vive sua típica efervescência carnavalesca de todos os verões com todas suas ciladas e maravilhas a se repetirem. Os artistas locais que passam o ano inteiro enchendo o bolso pelo mundo a fora em cruzeiros e madsons e lavagens francesas voltam a terra para mostrar com ajuda de um bom cenário - assepticamente estruturado por patrocinadores como cartões de crédito e cervejarias- o que eles têm a oferecer. Um ou outro bloco popular deixa de existir enquanto brota esse ou aquele camarote de luxo ampliando os níveis de segregação all inclusive da Bahia para o mundo. O cheiro de urina e dos churrascos de carne de procedência duvidosa começa a invadir a ruas transversais a maior festa de rua (?) do planeta. Famílias de vendedores ambulantes alojados nas ruas durante uma semana inteira suportando sol e chuva para conseguir algum dinheiro. As brigas, os furtos e a violência policial constituem um show totalmente a parte, com quase nenhuma harmonia. As mortes, se não acontecem no percurso do circuito não precisam ser contabilizadas. Segurando as cordas do apartheid momesco homens e mulheres tratados como bichos na função sobre-humana de garantir segurança a quem pode estar dentro de um dos blocos. Está feito o carnaval pra ninguém botar defeito, porque basta que o prefeito entregue a chave ao rei momo cada dia menos típico, para que esqueçamos as atrocidades que ele anda fazendo com a cidade. Momo devolve a chave em seis dias, pois ninguém quer mesmo segurar esse pepino. Entre a Sapucaí e a Avenida Oceânica uma irrisória diferença. Já que aqui também se toca um mesmo enredo para turistas interessados em consumar todas as formas de pecado do lado de baixo do Equador. Enquanto artistas com rendimentos milionários enrolam em um seus repertórios que não exigem nadinha de nosso cérebro, uma turba quase invisível circula entre o filete improvisado que é invadido por todos aqueles que não têm condições comprar camisetas que num intervalo de quatro horas deixam de custar um salário mínimo e passam a não valer absolutamente nada, além de uma dor de cabeça parcelada em 10 vezes no cartão de crédito. Sem problemas, o carnaval de Salvador exibido nas telas das grandes emissoras está infestado de não-soteropolitanos, mas isso tem pouca importância. Os números são sempre recordes. As contas bancárias dos medalhões da folia estão cada dia mais abarrotadas de dinheiro. Viva!
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