quarta-feira, 30 de março de 2011

A TV que a gente merece

Todo país tem a televisão que merece. Por isso, a televisão brasileira, em pleno século XXI, continua dando um show de preconceitos. Sim, e não há exemplo melhor do que o Big Brother. Apresentado pelo jornalista Pedro Bial, que estava lá, na cobertura da histórica derrubada do Muro de Berlim em 1989 e agora só aparece de ano em ano para anunciar os malditos paredões com discursos fajutos e um tanto confusos para a capacidade cerebral da maioria dos brothers. 


Maria, ganhadora do BBB 11
Milhões em merchandisings, poses bonitas na beira da piscina, ensaios sensuais a cada eliminação, baixarias ensaiadas a partir de um roteiro – ninguém me convence de que ali é tudo verdade – a isso se resumem os três meses de futilidade que sustentam essa máquina de fazer dinheiro para a Rede Globo chamada Big Brother Brasil. Por lá desfilam homens e mulheres que traduzem, semana após semana, um pouco do que o Brasil gosta de ver na TV. Mulheres gostosas e burras, homens manipuladores e sagazes, homossexuais cheios de estereótipos, gente branca, gente sem assunto, gente com dinheiro. É disso que o povo gosta. E não é muito diferente de qualquer trama de ficção. Nessa edição, o médico quase ganhou, tinha a dose e a receita certas de um campeão, apostava que ela levaria o 1,5 milhão. Dessa vez, pelo menos a mulher que apesar do nome de santa entrou com fama de puta fez um pouco diferente. Carregou o show nas costas, tocou fogo no marasmo da casa onde não se vive, só se atua. Se humilhou, se embriagou, transou, dançou e, chego a acreditar que só saiu vencedora para garantir à emissora audiência até o último minuto do reality. Se não fosse por ela, mudariam de canal.

Deputado Jair Bolsonaro
Todo país tem a TV que merece e nela, diz-se o que se acha que o povo merece ouvir. Ontem, foi no CQC e hoje foi para os Treding Topics do Twitter a participação do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) no programa que considero um dos melhores da atual programação da TV aberta. Ao responder as perguntas de um quadro do programa, o homem eleito através do voto do povo com a responsabilidade de representar os cidadãos, elaborar leis e fiscalizar a aplicação do dinheiro público, fez uma chuva de elogios aos tempos da Ditadura Militar, afirmou que jamais seria operado por um médico que tivesse sido cotista em uma universidade e que seus filhos não eram homossexuais porque ele havia sido um pai presente. Assim como se fosse a coisa mais natural do mundo expressar aquelas opiniões  ali. Como se não bastasse, ao ser questionado pela cantora Preta Gil sobre como ele agiria caso seu filho se apaixonasse por uma negra, o deputado deu uma resposta que falava sobre promiscuidade e lamentava o ambiente em que Preta cresceu, que é filha de ninguém menos do que um dos maiores gênios da Música Popular Brasileira. É loucura? Não. É a realidade racista, machista e militarista ao vivo e em cores na televisão brasileira, usando a voz de Bolsonaro e o espaço do CQC.

É assim, poderia ser diferente. Como eu gostaria. Mais educação, menos baixaria, mais realidade, menos ilusão. Mas é isso. A televisão brasileira é do povo brasileiro. Nela esse povo se reflete, se mostra, diz quem é, o que pensa e o que quer. É lamentável! 

2 comentários:

  1. Nem sabia dos assuntos aqui relatados.
    O BBB assisto sim. Mas, é inegável os estereótipos que se apresentam há 11 anos. E quando foram restando apenas estes típicos, me desliguei. Não assisto pra agregar. Até porque nem tem o que agregar. Assisto pra rir sobre o quanto o ser humano pode tornar-se ridículo por alguma, considerável, grana.
    Mas, até para ser ridículo tem que ter uma lógica a ser seguida, e o BBB é algo totalmente ilógico. Enfim...
    Não sabia que a Maria havia vencido, tampouco desse vídeo do Jair Bolsonaro. Lamentável!
    Sobre ela nem sei o que dizer.
    Quanto a ele... isso não é apenas a TV que o povo merece... é a vida que povo escolhe. Afinal, o digníssimo foi eleito de forma legítima pelo povo.

    O reflexo do povo brasileiro na TV, sejam estas de tudo ou nas recentes tela de LCD/LED, é vergonhoso. E, não há Full HD que dê jeito de torná-la mais "limpa".

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