Era inacreditável, mas ali naquele milésimo de segundo de silêncio, entre uma passada de mão no cabelo e um novo assunto, eu queria que fosse você. Porque assim, finalmente, poderia ser eu. Porque, enfim, eu entendi que estou sem saco para sentar e conversar e ser qualquer outra coisa que não seja eu mesma, fazendo poses, mantendo perninhas cruzadas, risinhos e assuntinhos medíocres que eu tanto odeio. Porque com você eu posso falar das minhas neuroses sem me sentir uma louca desesperada prestes a se jogar de um precipício, ainda que eu seja exatamente isso. Porque com você eu posso debater e dar minha opinião e aguardar seus argumentos contrários como quem espera um delicioso prato num restaurante repleto de delícias. Porque pra você eu não preciso fazer caras e bocas e encurtar papos e rir de piadas e fingir. Detesto piadas, prefiro nossa ironia e sarcasmos escrotos que desesperam o resto do mundo. Ai como eu odeio fingir! Como eu queria tirar aquele sapato de salto, calçar uma havaiana e falar mal do casal da mesa ao lado se agarrando feito dois desesperados, sem parecer recalcada. E você faria algum comentário completamente pornográfico e eu iria rir de canto de boca e voltaríamos a qualquer assunto com uma naturalidade só nossa. Tão simples e tão bom. É mesmo inacreditável, mas naquele momento eu queria só um pouco do que era sermos nós.
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